Tem muita gente que se surpreende, mas o período mais frio do ano por essas bandas não é dezembro. Acho que a imagem de Natal com neve (algo raro por aqui por sinal) ajuda nesta ideia. Mas é o período entre janeiro e fevereiro que realmente traz o frio. E, ao contrário do que muitos pensam, eu não acho o frio um problema. Ele faz parte do ciclo, de como as estações mudam e influenciam o ambiente, algo que é bem nítido aqui no Reino Unido.
Eu gosto do frio. Claro, há os dias curtos no inverno, com o sol se pondo às 15 h, alguns com ventos cortantes principalmente numa cidade costeira como onde resido. Depois de 3 anos vivendo aqui, ainda acho estranho sair do escritório às 17 h e estar completamente escuro. Mas eu gosto dele. E dá pra aproveitar a estação gelada, sim. Afinal o país é adaptado para isso, a natureza é própria deste clima. Basta abrir a cabeça e aprender como.
O primeiro passo é ver a vida como os dinamarqueses. Eles têm uma expressão chamada “hygge”, que significa um estilo de vida que traz conforto e bem-estar (a Cristiane, que mora na Dinamarca, tem um texto inteiro explicando este conceito e recomendo a leitura). Tento adotar isso na minha vida. Aplicar alguns detalhes ao cotidiano e uma cabeça aberta para aproveitar pequenas coisas da vida, seja qual for o tempo lá fora, traz aquela sensação de bem-estar que faz a diferença especialmente no inverno. Em vez de pensar que um dia de muita chuva e frio é um dia perdido, pense que é uma oportunidade de ficar em casa, fazer um chazinho quente, acender a lareira (se tiver), curtir a companhia em casa, chamar uns amigos, ler um livro, ver um filme, tomar um banho quente na banheira. Dias frios são parte da vida, não um problema ou um obstáculo.
Cansou ou não quer ficar em casa? Saia. Afinal de contas não somos feitos de papel. Os estabelecimentos não param de funcionar porque está frio, ou chovendo, ou nevando. A natureza toda continua lá também. Coloque uma roupa apropriada para o tempo e vá passear. Se seu negócio é algo mais urbano, vá para um cinema, um teatro, uma exposição, tomar um chá da tarde. Se prefere curtir a natureza, é totalmente possível fazer uma caminhada ou pedalar. Aliás, recomendo caminhadas ao ar livre no inverno. Além de ajudar a não ficar parada o tempo todo, é excelente respirar o ar puro e gelado para dar aquela renovada, observar o ambiente diferente das outras estações, ter aquela sensação de paz.
Eu acho divertido quando falo que adoro a praia aqui e amigos brasileiros dão risada com sarcasmo porque não entendem como a praia pode ser aproveitada aqui com o frio. Oras, a praia não é um lugar para deitar e torrar no sol apenas (algo que eu não gosto de fazer, aliás). Praias existem em ambientes frios e ambientes quentes e são lindas em ambos. Um de meus passatempos preferidos é caminhar na praia, observar e ouvir o mar, aproveitando um café ou chá quentinhos. Ao invés de se esconder dela no frio, as pessoas aqui apreciam sua existência: seja fazendo uma caminhada como eu, correndo, pedalando na orla, levando seus cachorros para passear.
Os dias ensolarados de inverno são alguns dos mais bonitos. Aquela luz deixando tudo dourado, nos convidando a curtir o dia antes que o sol se ponha. E quando ele começa a se pôr é outro espetáculo, aquele lado alaranjado no oeste espalhando várias outras cores pelo céu.
Independentemente de qual seja sua preferência o essencial é se vestir de maneira adequada para o frio. É onde muita gente que não está acostumada com este clima erra. O sucesso de se vestir apropriadamente para o clima é adotar as camadas – uma mais leve como uma camiseta, aí uma malha ou fleece, e um casaco por cima. Todos que sejam fáceis de tirar/colocar, para que você possa se adaptar com flexibilidade aos diferentes ambientes, afinal lá fora está frio, dentro dos lugares normalmente está aquecido. Um bom fleece ou malha que te mantenha aquecida acompanhado de um casaco mais leve que corte vento e seja impermeável é muitas vezes uma escolha mais sensata que um único casacão.
Obviamente algumas precauções também devem ser aprendidas: cuidado extra na hora de dirigir se está chovendo demais ou nevando, levar a sério recomendações de acesso a alguns lugares mais isolados ou de risco como penhascos e montanhas, e checar a previsão antes de planejar um passeio – não só de temperatura mas também de chuva e vento.
O ponto principal é se livrar de uma mente fechada e de conceitos prontos (“impossível aproveitar isso ou aquilo no frio”) abrindo um leque de possibilidades para apreciar o que esta estação nos traz. E lembrar que o ciclo continua e em pouco tempo a primavera chega, mudando tudo novamente.
5 Comments
Muito lindo o país. Mais informaçoes, para trabalhar la.
Alexandre, sugiro a leitura do texto que escrevi sobre buscar emprego no país.
Que notícia boa que o frio mais intenso é mesmo em Janeiro e Fevereiro. Vamos visitar o seu lar em novembro. Fico mais aliviada! Gosto do clima frio, porém há 6 anos que morando no Nordeste, me desacostumei. Gratidão pelo texto!
Amei como vc descreve o frio, Vou para Londres e Inverness em janeiro de 2018.
Daniela, acabo de ler seu texto e para mim é muito motivacional. Fui transferida a trabalho, para Iowa City há uma semana e estou ainda na fase de adaptação. Sai de SP no calor do verão para um inverno que ainda me assusta. Textos como o seu me ajudam a fugir do achismo que tudo tende a ser negativo. Obrigada