No texto do mês de agosto, vamos falar sobre maternidade e para isso entrevistei a Gabriela, que mora na Suécia há 9 anos e que em janeiro desse ano deu à luz Amélia, uma menininha linda e cheia de vida. Ela vai falar sobre a experiência de parto na Suécia!
BPM – Gabi, Quando você descobriu que estava grávida, quais profissionais você procurou imediatamente e como os encontrou?
Aqui na Suécia, você visita uma parteira, a midwife, durante a sua gestação. Não é como no Brasil que você vai ao obstetra. Eu entrei em contato com um Centro de Parteiras, perto de casa, eles já marcaram um horário e fui fazer a primeira visita. Eu procurei na internet mesmo, vi quais eram os locais mais próximo, liguei e já marquei.
BPM – Como foi seu pré-natal? Quais medicamentos você tomou durante a gravidez?
O pré-natal começou com essa primeira visita à parteira, ela iria me acompanhar durante a gravidez mas, na hora do parto eu iria para o hospital e lá seria atendida por outros profissionais, ou seja, eu não conheceria ninguém e achei isso um pouco impessoal. Visitei umas duas ou três vezes essa parteira genérica que me pediu exames de sangue e iniciou alguns assuntos comigo, sobre qual hospital eu queria o parto, etc., mas tudo bem superficial. Eu não estava muito contente com essa questão do parto e foi quando eu descobri, com uns 4 meses de gravidez, o projeto “Minha Parteira” (mid jordmor em sueco) onde eu teria contato com três parteiras durante a gravidez e quando chegasse a hora, uma delas estaria de plantão e faria o meu parto e, então decidi mudar para esse projeto.
Eu tomei vitaminas (vitaminas para gravidez), ácido fólico extra e também precisei tomar ferro.
Aqui na Suécia, fazemos no máximo 2 ultrasons durante a gravidez, o normal é apenas um, por volta da semana 18, quando eles fazem um teste para ver se há alguma má formação. Mas eu pedi vários e por estar nesse projeto, eles aceitaram.
BPM – Como foram as aulas do curso de maternidade?
Eu fui em duas aulas. Existe uma aula genérica, dada em hospitais, mas só um oferecia a aula em inglês. Era uma sala com umas 50 pessoas. Três profissionais do hospital, sendo enfermeiras e parteiras, apresentaram um Power-Point falando sobre como você identifica que está entrando em trabalho de parto, como ligar para o hospital, a contagem das contrações, o pós parto onde, aqui, você vai para um “hotel” no próprio hospital, a amamentação, todas as possibilidades de parto e também sobre possíveis complicações. Foi bem interessante e depois, uma das parteiras desse projeto, deu um curso de três horas sendo um em sueco para mais pessoas, e outro especial, em inglês onde estavam apenas eu, meu marido e um outro casal. Isso foi bem legal pois a gente pôde fazer muitas perguntas, diferente do outro que tinha muita gente.
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BPM – Sabemos que você teve parto normal, você encontrou alguma resistência por parte das parteiras em realizar o procedimento normal (que pode ocorrer a qualquer dia e hora)?
De forma alguma, na verdade esse é o padrão aqui, eles não veem com tanta naturalidade como no Brasil fazer cesárea. Cesarianas aqui são feitas em 10-15% dos partos mas ocorrem só se o parto normal, por algum motivo, der errado.
BPM – Como foi o parto em si? Você se sentiu confortável? O que você mais gostou e o que menos gostou?
O parto foi muito bom, foi até rápido, durou um total de 7 horas, desde que eu acordei de madrugada com as contrações, que pareciam cólicas menstruais, até a hora que ela nasceu. Eu estava bastante confiante em mim e na parteira e sabia que podia contar com ela. Cheguei no hospital as 5h30 e as 10h17 a Amélia nasceu. Toda a equipe era legal e atenciosa e me ofereceram comida para manter minha energia.
O que eu mais gostei? Da experiência como um todo, foi tudo muito tranquilo, não teve nenhum momento que eu fiquei com medo.
E o que eu menos gostei? Dá uma certa ansiedade, da vontade de acabar logo, por mais que tenha sido um parto curto, você não sabe a hora que vai acabar, então tem que trabalhar melhor essa questão da paciência.
BPM – Após o nascimento da Amélia, que tipo de assistência você teve por parte do Estado/parteiras?
Já recebi apoio ainda no hospital. A gente vai para essa outra área, que eles chamam de hotel e eu acabei ficando lá por 4 dias. A Amélia teve Icterícia e eles me deram a oportunidade de ficar um pouco mais, ao invés de ter que ir pra casa e procurar um hospital com um bebê recém nascido. Me disseram para ficar lá mesmo que eles já cuidariam de tudo.
Você paga uma taxa muito baixa, são 100kr para a mãe e 250kr para o pai, por noite. Como você está recém parida é muito legal, porque você não tem que ficar pensando em nada. Qualquer coisa que acontecia, tinha um monte de gente lá para me ajudar. E eles vão toda hora no quarto, ver como o bebê está, como você está e também te ensinam o que você precisa saber sobre amamentação, troca de fralda e etc.
Depois do parto, em casa, você liga no BVC que é tipo um posto de saúde. Você não leva o bebê a um pediatra, na verdade ele é atendido por enfermeiras e a primeira consulta é feita na sua casa. Vieram aqui duas pessoas, uma enfermeira pediátrica e uma estagiária. Elas vão ver como você está, a estrutura da casa, explicam sobre depressão pós parto e também são responsáveis pelas vacinas. Depois dessa primeira visita aqui em casa, a gente passou a ir lá.
BPM – Quais as dicas para economizar na hora de fazer o enxoval?
Eu sou super a favor de comprar coisas usadas, tudo com bebê você usa muito pouco, tem coisa que você não chega nem a usar, principalmente nos primeiros meses porque a gente ganha muito presente. Eu ganhei bastante coisa aqui na Suécia de outras mães que iam doar para brechós, também têm os grupos de mães no Facebook e tal… E acho importante conversar com outras mães, existem muitos apetrechos que não são necessários, que você vai acabar não usando.
BPM – Em linhas gerais, como você diria que foi sua experiência de parto aqui na Suécia? Algo que queira comentar que não foi perguntado?
Eu queria comentar que minha ideia no início era fazer cesárea, eu tinha muito medo de parto normal, porque no Brasil a gente ouve muitas coisas horríveis. Foi assistindo o documentário “O renascimento do parto” da Netflix que eu comecei a entender que, na verdade, meu medo era baseado em informações erradas. Esse documentário me abriu bastante a cabeça. Além disso, as parteiras do projeto tem 15, 20 anos de experiência, são pessoas muito carinhosas, muito fortes e engajadas socialmente.
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Obrigada Gabi por ter dedicado um tempinho a nos responder essas perguntas. Esperamos ajudar muitas outras pessoas que venham a passar pela mesma situação. Que você e a Amélia sejam muito felizes!