Todo povo tem ídolos. Podem ser clássicos, imaginários ou até contemporâneos. Se alguém se torna ídolo de uma nação é porque inspira empatia, identificação e respeito coletivo. O clássico “diga com quem andas e eu direi quem és” indica que pode-se saber as qualidades de uma pessoa por suas companhias. É assim que vou explicar o suíço: por seus ídolos. Vamos lá?
Wilhelm Tell (Guilherme Tell)
No século XIV o imperador austríaco Hermann Gessler lutava para conquistar Uri, hoje um dos cantões suíços. Para impor sua autoridade, o tirano pendurou um chapéu com as cores da Áustria na praça principal de Uri, obrigando todos que ali passavam a reverenciá-lo. Guardas monitoravam e asseguravam a reverência até o dia que Wilhelm, famoso por suas habilidades de arqueiro, passou por lá com seu filho e não se inclinaram ao chapéu. Ele foi preso e submetido a ira do tirano, que o castigou obrigando-o a disparar uma flecha em uma maçã colocada na cabeça de seu filho. Se errasse a maçã, morreria. Se acertasse, teria sua vida poupada.
Em praça pública, assistido por curiosos e pelo próprio Gessler, Tell viu seu filho ser amarrado a uma árvore e, distante 50 passos dele, atirou a flecha. O arqueiro acertou em cheio a maçã e foi aplaudido em praça pública, o que aumentou a ira do imperador. Notaram então que ele trazia uma segunda flecha. Questionado, o herói confirmou que se errasse a primeira, com a segunda acertaria Gessler.
Mais irado que nunca o imperador disse que honraria sua promessa de mantê-lo vivo, mas em uma prisão, onde viveria o resto de seus dias. Para ser transportado, Tell foi colocado acorrentado em um barco, onde Gessler e seus soldados também embarcaram.
No barco, viveram a pior de todas as tempestades. O barco foi perigosamente arremessado para rochas. Assustados, os tripulantes gritavam que somente Tell poderia salvá-los. Vendido e sem alternativa, o imperador ordenou liberar o acorrentado, que milagrosamente conseguiu aportar.
Em terra firme, Tell fugiu. Escondeu-se estrategicamente em um beco perto da casa do tirano, onde mais cedo ou mais tarde Gessler passaria. Novamente usou seu arco e flecha, eliminando Gessler e libertando o país da tirania. Segundo a lenda, foi este evento que marcou o início da revolta que culminou na guerra de libertação nacional da Suíça.
Wilhelm Tell existiu ou é lenda? 60% dos suíços acreditam que não é lenda, não: acreditam que Tell viveu. Ele simboliza o foco, a determinação e a lealdade do povo suíço.
Heidi
Heidi é um sucesso nacional. Personagem de um livro infantil escrito em 1880 pela escritora Johanna Spyri, Heidi tem uma história triste: perde seus pais com cinco anos e vai viver com a tia, que é obrigada a deixar a pobre menina com seu avô, um velho turrão que vive sozinho em um chalé simples nos Alpes suíços.
O avô ermitão, que cuida de suas cabras e faz seu próprio queijo, é surpreendido com a chegada da criança, que altera totalmente sua rotina. Heidi, em vez de temer a montanha e o velho carrancudo desconhecido, mostra-se curiosa e diverte-se com as pequenas novidades da vida nos Alpes, conquistando aos poucos o coração de todos que a rodeiam: o avô, as cabras, os animais e Peter, um garoto que ajuda o avô com os animais.
A tal tia volta, levando Heidi para a cidade, onde ela conhece Claire, uma garota que não pode andar. Heidi novamente quebra o gelo, conquistando o coração de Claire. Tornam-se melhores amigas.
Entre indas e vidas da cidade para as montanhas, Claire perde sua cadeira de rodas, ficando imobilizada. A heroína suíça mostra que tem o melhor coração do mundo e ensina Claire a andar, realizando um milagre impulsionado pelo amor.
Heidi simboliza a maneira do suíço amar e respeitar sua linda natureza. Mostra também o enorme coração suíço. Por representar o suíço tão bem, Heidi foi escolhida como anfitriã do país! É ela quem dá as boas vindas aos turistas que chegam no aeroporto de Zurique. Heidi tem uma cidade só dela, a Heididorf, no Grison.
Roger Federer
O coração suíço bate forte por Roger Federer. Não tem quem não o adore, e não é só por ser recordista em Grand Slams e por ser o tenista que mais semanas ficou como número 1 mundial. Roger é discreto, muito charmoso e respeita como poucos seus adversários. É focado e disciplinado. O atleta é a melhor representação do espirito esportivo.
Cresceu com valores de família sólidos. Roger tem pai suíço e mãe sul-africana e é casado com a ex-tenista Mirka, com quem teve quatro filhos. Pais, mulher e filhos são vistos frequentemente nas arquibancadas, torcendo por Roger. Tornaram-se membros de todas as famílias suíças.
Federer atingiu a liderança do ranking pela primeira vez em 2004 e de lá para cá tem trazido orgulho e emoções a seus fãs. Considerado o maior jogador da história com apenas 27 anos, o Pelé do tênis não deixou o sucesso subir à sua cabeça. Mantém seu seu jeito simples, seu respeito aos adversários e uma gostosa risada tímida, quase que ingênua. Se sua simpatia conquista até mesmo seus adversários, imagine o que faz com os suíços.
Roger coleciona recordes e continua surpreendendo aos 34 anos. Em 2013 não arrasou mas focou, reverteu e ressurgiu das cinzas. Voltou a surpreender e a trazer incontáveis emoções para seus torcedores.
Notado pela natureza de seus gestos, sua técnica irrepreensível e pela inteligência de seus jogos, Roger fala perfeitamente alemão suíço, alemão, inglês e francês. Independentemente do sucesso, arruma tempo para participar ativamente da sua Fundação Roger Federer, que ajuda crianças carentes na África do Sul, país de sua mãe.
Roger é um verdadeiro campeão, um ídolo, unanimidade nacional!
Tell, Heide e Roger têm características simples, são centrados, disciplinados e têm um coração de ouro. Não seriam ídolos suíços se o suíço não valorizasse e não partilhasse destes mesmos valores.
Viva o suíço!
2 Comments
Que demais esse texto! Muito obrigada! Um dia quero conhecer a Suíça. Ah, e eu amo o Federer, que cara incrível e talentoso! Abraço.
Olá Tainá,
Obrigada a você pelo seu comentário e entusiasmo!
Venha sim… é um país incrível e cheio de coisas bárbaras para viver.
E claro, também sou fã do Roger mas acho que deu para perceber não?
Abraço para você,
Teca