Muitos me perguntam o porquê de largar tudo e partir para uma nova realidade. Qual o motivo desta escolha? Alguns não entendem, alguns admiram, outros criticam, o fato é que decidir morar em outro país, para mim, tem uma razão muito forte que posso resumir em uma frase: Família é tudo! Esta frase nunca fez tanto sentido em minha cabeça. Ela é tão forte, verdadeira e é a explicação para todo este momento de enfrentamento que venho vivendo.
Assim que você forma a sua própria família, marido e filhos, sua perspectiva e sentimentos sobre o mundo mudam radicalmente. Quando você decide se arriscar em outro lugar, sua família passa a ser literalmente seu único mundo. Viver exige força e só o amor permite que a vida siga seu curso, principalmente, nos momentos em que os desafios se impõem. Aliás, são nestes momentos que o amor se fortalece ainda mais. Então, descobrimos definitivamente que a família é nossa pedra fundamental. É nosso motivo, nosso estímulo e nosso propósito.
Claro, muitas pessoas se mudam solteiras. Eu, particularmente, não aguentaria. Admiro ainda mais a coragem de quem se propõe a partir nesta empreitada sozinho. Hoje eu sei como é difícil deixar para trás toda uma vida para recomeçar do zero, em busca de um sonho. Mas cada um traz em seu coração seus motivos e com eles a força necessária para seguir em frente. É assim que deve ser.
Quando mudamos a direção de nossas vidas e também a de nossas famílias, temos como principal objetivo proporcionar um futuro melhor aos nossos filhos, razão pela qual enfrentamos todas as dificuldades que uma mudança tão radical como esta causa em nossas vidas. Tem que ter um grande propósito e não existe nada mais importante para uma família do que o futuro e bem-estar dos filhos. Este foi o meu motivo, o porquê de deixar uma vida inteira no passado, para ir ao encontro de uma outra, nova, difícil, longe da memória, mas deliciosamente enriquecedora.
Porém, esta decisão é de uma responsabilidade tão grande que os ombros pesam, e pesam muito. Ao mesmo tempo que decidi que morar num país onde a qualidade de vida é melhor, tem mais oportunidades, o sistema é justo e não existe tanta disparidade social, é o melhor caminho, por outro lado, me afastei e, consequentemente, os meus filhos também, das nossas raízes e do convívio com o restante da família e dos amigos. Afastei meus filhos da nossa história, dos nossos costumes, daquela musiquinha de ninar que a minha avó cantava para minha mãe, que cantava para mim. Mas que a avó dos meus filhos não poderá cantar para eles. Pode parecer pequeno, até mesmo bobo, mas são essas pequenas coisas que fazem a maior falta e deixam o nosso coração apertado. Os almoços de domingo, as festas de aniversário, os encontros inesperados com os amigos, os cheiros da infância, os sabores, tudo isto fica guardado para as férias de fim de ano e fazem uma falta enorme no dia a dia. Esse calor e este amor a gente só encontra na nossa terra!
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Mudar nos leva a um mundo totalmente novo, que não conhecemos e que escolhemos ouvindo a voz da razão e, sinceramente, isto não é nada fácil. Como tudo na vida, há sempre dois lados. O lado difícil é bem espinhoso, porque escolhemos a qualidade de vida, mas perdemos os costumes de toda uma vida.
Pode ser que no futuro meus filhos me cobrem, porque foi exclusivamente nossa escolha, minha e de meu marido, desencadear essa revolução. Porque é, gente, é uma revolução. É tudo novo! Língua, cultura, estilo de vida, história, paisagem, solidão, sabores, cheiros… Não temos nenhuma intimidade com o novo lugar, não temos vínculo, não temos amigos, não temos passado e voltamos a engatinhar em direção ao futuro. Não conhecemos nada e nem ninguém. Tudo é novidade e o novo assusta e intimida. Será que vamos nos adaptar? Será que nossos filhos vão se adaptar? Será que nossa família será feliz aqui? Será que esta foi a escolha acertada? Somente o tempo trará a resposta e temos que seguir vivendo um dia de cada vez, na esperança de estarmos no caminho certo.
Mas como “família é tudo”, nós vamos descobrindo aos pouquinhos que esta escolha tomada por motivos racionais, no fundo é motivada por amor. Porque queremos sempre o melhor para a nossa família. Então, não tem como dar errado. O aprendizado é para a vida!
Nós não mudamos apenas de lugar, mudamos a visão, os conceitos, a cabeça, o modo de encarar a vida, a reforma é geral, é profunda.
E no fim, mesmo que não dê certo, ou melhor, mesmo que os planos mudem de novo, a bagagem ficou rica e todos sempre vão ganhar com essa experiência. É por isso que eu digo que não há a possibilidade de dar errado, mesmo que se queira voltar.
2 Comments
Me identifiquei muitoooo com o que vc escreveu! É isso aí! Penso da mesma forma! Não me arrependo. E vamos que vamos! ??
Feliz que tenha gostado Tatiana, obrigada!