Feminicídio, mulheres que foram mortas por quem conheciam, por aqueles que amaram e escolheram. Por aqueles que transformaram o ciúme em obsessão, que as humilharam inicialmente criticando as suas ações, amigos e familiares, que as impediram de manter uma independência econômica e um trabalho, que levantaram a mão mais de uma vez. A única coisa que você deve fazer é salvar a tua vida sem se sentir culpada. Fale com alguém que possa te ajudar, contate os centros antiviolência da tua cidade e ligue [na Itália] para o 1522.
“Se chama feminicídio, e significa que te matam porque você é uma mulher. Não sei se é o nome mais correto e nem mesmo se um nome era realmente necessário para identificar um fenômeno que sempre existiu. O que sei é que, como todas as coisas que possuem um nome, existe, tem uma origem, uma cultura, uma motivação, muitas vítimas, mas quase nunca uma verdadeira justiça.
Foi somente em 2009, com a Lei nº 38 de 23 de abril, que a perseguição e as ameaças se tornaram crime na Itália, fazendo surgir um fenômeno de dimensão alarmante.
Estefânia, Francesca, Verônica, Maria, Bárbara, Giovanna são só alguns nomes das centenas de mulheres assassinadas no nosso país todos os anos. No entanto, mesmo tendo um nome, elas não vivem mais.
Esfaqueadas, espancadas, com um tiro de pistola ou com as mãos, jogadas no nada ou entre as chamas, sufocadas ou simplesmente desaparecidas, foram mortas por quem conheciam, por aqueles que amaram e escolheram, não pelos desconhecidos que eram habituadas a desconfiar desde criança. Assassinadas por alguma pessoa que as conheciam bem, que sabiam os seus hábitos, as suas paixões e os seus pontos fracos. Por aqueles que transformaram o ciúme em obsessão, que as humilharam inicialmente criticando cada uma das suas ações, denegrindo os seus amigos e familiares, que as impediram de manter uma independência econômica e um trabalho, que levantaram a mão uma vez, logo mais uma, a seguir uma terceira, para depois se tornarem sempre mais espertos em deixarem as marcas onde não se vê, a mudarem a arma porque as mãos talvez não lhe dessem mais satisfação.
Começa assim. Acontece lentamente e assemelha a um momento difícil, um ato precipitado ou uma falta de respeito. É, mas não só. É o começo. O tempo zero. O ciúme ficará sempre mais insistente e inexplicável, o dinheiro a disposição diminuirá rapidamente, a liberdade de expressar as próprias ideias e opiniões, de frequentar os amigos e os parentes sumirá, as pancadas se repetirão e serão sempre mais cruéis.
Depois, porém, chegará a trégua e será acompanhada das desculpas e de um aparente arrependimento. As mais sortudas receberão flores, as mais azaradas serão induzidas a se sentirem culpadas por aquilo que aconteceu. Porém, na guerra qualquer trégua nunca é destinada a durar. Os golpes retornarão logo. Bastará só uma ocasião, sempre mais banal, sempre mais cotidiana.
Sozinha não se pode salvar uma pessoa violenta, não se pode ajudá-la a mudar, não se pode sustentá-la. Uma pessoa violenta deve percorrer um percurso muito difícil e longo, acompanhado exclusivamente por especialistas. Não por uma vítima amedrontada. A única coisa que você deve fazer é aquela de salvar a tua vida sem se sentir culpada. Você tem o direito de ser tratada com respeito, de ser curada e compreendida.
Fale com alguém que possa te ajudar, contate os centros antiviolência da tua cidade e ligue [na Itália] para o 1522.
É possível sair da violência.”
O 1522 é um número de utilidade pública, patrocinado pelo Dipartimento per le Pari Opportunità, Departamento de Igualdade de Oportunidades, que oferece um serviço de acolhimento telefônico, gratuito em todo o território italiano, seja de telefone fixo ou celular, multilíngue (italiano, inglês, francês, espanhol e árabe), ativo 24h por dia, em todos os dias do ano, para as vítimas de qualquer forma de violência. É um serviço que tem o objetivo de ampliar e reforçar a capacidade de atendimento e apoio às vítimas de violência de gênero e perseguição. Os atendentes dedicados a esse serviço oferecem uma primeira resposta as necessidades das vítimas, oferecendo informações úteis e orientações em direção aos serviços sócios sanitários, públicos e privados, presentes em todo o território nacional. Maior atenção é dada as pessoas pertencentes a grupos de alto risco de discriminação: deficientes, homossexuais, transexuais e cidadãos e estrangeiros.
A Lei italiana nº 154 de 4 de abril de 2001, trata de “Medidas contra a violência nas relações familiares”. Tal Lei tem o objetivo de contrastar qualquer forma de violência cometida dentro do núcleo familiar, ou seja, um juiz pode adotar medidas urgentes em favor da vítima de violência doméstica como: o afastamento de um familiar do domicílio comum com caráter preventivo, para evitar que a situação prejudicial a vítima se prolongue; impedir a aproximação a determinados lugares frequentados pela família; pagar um valor em favor das pessoas conviventes que, por causa do afastamento da pessoa violenta, fiquem sem um adequado sustento.
“Quando os tecidos e os órgãos começam a se recuperar e a readquirir as suas próprias funções, somos destinados a nos sentir melhor. Isto nos permite de recomeçar a viver uma vida na nossa melhor forma física. Os danos psicológicos preveem percursos diferentes, igualmente intensos e geralmente com êxitos surpreendentes. Tudo isso vem comumente chamado de cura, o nosso retorno ao equilíbrio e a saúde. Raramente, porém, é acompanhada do esquecimento. Mas não importa, porque a única coisa realmente importante é se lembrar de brilhar. Mesmo que o mundo, às vezes, te impeça, você brilha. Brilha mais do que pode.”
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Tradução livre do epílogo do livro Splendi più che puoi, de Sara Rattaro.
Citação e fontes: Livro: RATTARO, Sara. Splendi più che puoi. Milão: Editora Garzanti, 2016. | “Giornata internazionale contro la violenza sulle donne”: tutti gli appuntamenti a Genova e provincia“ |Contro la violenza sessuale e di genere Numero verde – 1522 |Numero di Pubblica Utilità 1522
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