Como é o feminismo na Dinamarca, alguns se perguntam? Pense num país onde os homens e mulheres são responsáveis por educar e cuidar dos filhos em conjunto, como uma equipe, com responsabilidades partilhadas e igualitárias, sem que um tenha que ser mais responsável que o outro; onde pais empurrando orgulhosamente pelas ruas carrinhos com seus bebês é uma cena corriqueira; onde homens lavam a louça, fazem comida, dão um ‘tapa’ na limpeza de casa e cuidam das crianças enquanto as mulheres trabalham ou saem para se divertir com as amigas num sábado à tarde.
Pensou? Então deixe-me dizer com todas as letras: sim, estamos falando da Dinamarca e sim, este é um país feminista! Na Dinamarca é raro encontrar um homem que se sinta emasculado ou inferiorizado por ajudar as mulheres nas tarefas do dia a dia e no cuidado com a prole.
Mas nem sempre foi assim. Até meados de 1960-70 a sociedade dinamarquesa era dividida como a maioria dos países mundo afora, com papéis designados especificamente de acordo com o gênero: homens tinham por obrigação trabalhar fora e trazer o sustento para a casa, enquanto que a obrigação das mulheres era quase que exclusivamente a casa e os filhos. Entretanto, mulheres corajosas e fortes ergueram suas vozes, fizeram-se escutar e, graças a elas, o feminismo se tornou um dos importantes pilares na sociedade dinamarquesa.
E como o país se tornou feminista?
Os primeiros passos do feminismo no país foram dados em 1851 por Mathilde Fibiger, autora dinamarquesa que aos 20 anos escreveu “Clara Raphael: Tolv breve” (Clara Raphael: doze cartas), um romance cuja personagem principal abriu a discussão sobre direitos para as mulheres como educação e independência, que na época eram quase que exclusivos dos homens. O livro, que traça claramente um paralelo entre as vidas da autora e da personagem, fala a respeito de uma jovem que trabalha numa cidadezinha e que faz da emancipação feminina a sua meta de vida. Porém, sua autonomia não é vista com bons olhos pelos cidadãos locais.
Assunto polêmico para a época, o tema do livro trouxe a pauta da equidade de direitos para homens e mulheres à tona para ser discutida. Vinte anos depois do lançamento do livro, no dia 24 de fevereiro de 1871 fundou-se a primeira associação dinamarquesa em defesa dos direitos das mulheres no país, a Dansk Kvindesamfund, que existe até hoje. Entre seus primeiros membros estava Mathilde Fibiger.
A constituição dinamarquesa, promulgada em 5 de junho de 1849, retratava um país como tantos outros no mundo de sua época, com uma democracia para poucos. Mulheres não tinham direito a votar. O trabalho da Dansk Kvindesamfund foi essencial para a conquista do voto para as mulheres: primeiramente com o voto municipal em 1909 e posteriormente, com o voto universal para todas as mulheres em todas as eleições a partir de 1915.
O período entre guerras fez com que a mulher conseguisse ganhar bastante espaço, não apenas na Dinamarca mas na Europa em geral. Com os homens em combate, as mulheres ocuparam seus postos de trabalho em diversas áreas, porém ainda sendo discriminadas por seu gênero e recebendo salários menores.
A luta dos movimentos feministas europeus, embora tenha tido início no século 19, só tomou força de verdade já no século 20, mais precisamente na década de 70. Na Dinamarca o movimento Rødstrømper foi o responsável pela liberação feminina no tocante à independência e autonomia das mulheres em diversos aspectos. O nome do movimento veio do grupo estadunidense New York Redstockings, cujas ações serviram de inspiração para as dinamarquesas. Algumas das conquistas desse movimento no país foram a aprovação da lei do livre aborto (1971), equiparação salarial entre homens e mulheres ocupando o mesmo tipo de cargo (1976) e melhorias na licença-maternidade (1980).
Outra conquista do feminismo no país foi o estabelecimento do Ministério da Equidade de Gênero (Ligestillingsministeriet), primeiramente estabelecido no país como secretaria em 1975 e posteriormente sendo elevado ao nível de ministério no ano 2000. O papel dele é de promover a equidade de direitos, deveres e oportunidades entre homens e mulheres.
Na Dinamarca os direitos das mulheres e das crianças são bastante respeitados. Aqui mesmo no blog já falamos a respeito da licença compartilhada entre o casal (independentemente do gênero), uma das diversas conquistas do feminismo. Também existem associações de proteção à mulher vítima de violência doméstica, conforme nesse meu texto de 2015.
Entretanto, apesar do feminismo do país, há ainda muito o que se fazer em termos de igualdade de direitos entre homens e mulheres. Há uma lei que determina que tanto homens quanto mulheres exercendo a mesma ocupação devem receber o mesmo valor de salário, a ligelønslov, porém na prática ainda não é bem assim. Uma campanha iniciada em 2010, promovida por um grupo de sindicatos dinamarqueses aponta para o fato de que atualmente as mulheres ainda recebem, em média, 18% menos que seus correspondentes masculinos na mesma função. Em 2015 uma nova pesquisa feita pelo Eurostat, órgão oficial de estatística da Comunidade Europeia, apontou que essa porcentagem sofreu uma leve melhora, pasando a 16,4% em 2013. Porém segundo a pesquisa do Fórum Econômico Mundial realizada em 2015, a tendência mundial é de que as mulheres permaneçam ganhando menos que os homens pelos próximos 118 anos! Esse é um entre os diversos pilares da luta feminista no país: garantir que a lei de igualdade de salário entre gêneros se cumpra.
Outro tema importante é em relação à licença parental compartilhada, que garante também ao pai o direito de tirar uma ‘licença paternidade’ compartilhada com a licença maternidade concedida à mulher e, assim, ajudar no cuidado com a criança no primeiro ano de vida. Embora garantida por lei, segundo pesquisa feita pelo Danmark Statistik em 2013 apenas 8% dos homens dinamarqueses usufruem do direito a ela.
O curta-metragem Rødstrømper – en kavalkade af kvindefilm (Feminismo – uma sequência de filmes de mulheres) é um apanhado de trechos de aproximadamente 20 filmes que retratam a mulher e as diversas ações do movimento feminista na luta pelos direitos das mulheres. Está disponível online para ser assistido gratuitamente no Filmcentralen.dk, porém apenas em dinamarquês e somente para residentes da Dinamarca.
14 Comments
Olá Cristiane! Tudo bem? Primeiramente, gostaria de parabenizá-la pelos excelentes textos aqui no site! Ao longo desta tarde, já li tudo o que você escreveu. Estou me preparando para me mudar para Copenhague para fazer Pós Graduação e os seus posts já me adiantaram muito! Tudo bem sistematizado para uma marinheira de primeira viagem como eu. Continue sempre postando! Abraços, Aline.
Aline, muito obrigada por ler o Brasileiras Pelo Mundo e a minha coluna sobre a Dinamarca. Fico feliz que esteja sendo útil!
Abraços e seja bem-vinda, ou como se diz por aqui, ‘velkommen’ 🙂
Olá Cristiane! Sobre os movimentos feministas de hoje, você consegue ver diferenças entre os movimentos do Brasil e da Dinamarca? Os movimentos feministas na Dinamarca, em geral, são radicais ou moderados? Desde já, obrigado por você trazer esse contexto histórico na luta das mulheres pela igualdade.
Elias, vamos começar pelo começo. O feminismo – tanto no Brasil quanto em qualquer outro lugar do mundo – só existe porque o patriarcado existe. A luta do feminismo é justamente para que o feminismo não precise existir.
Dentro do feminismo há muitas correntes e fica difícil definir o que é radical e o que é moderado, porque esses são conceitos muito subjetivos. No meu ponto de vista, tudo o que luta contra um status quo é algo que radicaliza; portanto, partindo desse ponto de vista, vejo o feminismo em geral como um ato radical para a quebra do patriarcado, para que todas as pessoas possam ter direitos, deveres e oportunidades iguais, independentemente de qualquer condição. Ou seja, o feminismo é, por si, um movimento radical, por desafiar e ir contra uma força dominante, que é o patriarcado.
Agora vamos olhar para a sua pergunta e analisar o seguinte: o feminismo no mundo começou a ganhar força na década de 70, depois dos hippies, e se estruturou e se alastrou rapidamente pelo mundo nesse período, apesar de já haver movimentações nesse sentido muito antes, ainda na época da Segunda Guerra Mundial. Nessa mesma época (anos 1970) estava instaurada uma ditadura militar no Brasil, ditadura essa que, como sabemos, privilegiou os direitos do patriarcado, como era de se esperar de um regime autoritário e conservador. Portanto, é difícil fazer esse tipo de comparação entre países com idades e histórias tão distintas. O Brasil é um país relativamente jovem se comparado à Dinamarca, o que torna natural que movimentos como o feminismo estejam florescendo de verdade no país somente agora. Porém a luta é árdua. Existe uma força muito intensa e poderosa do patriarcado em países jovens e colonizados como Brasil, Índia, México, só para citar alguns. Nesses países existe uma cultura que privilegia o patriarcado e suas ‘conquistas’ e há bastante conservadorismo e rejeição a ideias como as que o feminismo prega. Ser feminista não é estar contra os homens e é justamente isso que os homens custam a entender, principalmente nesses países. Voltando muito mais na história, as sociedades vikings tinham um senso de coletividade que impelia homens e mulheres a dividirem tarefas de acordo com suas habilidades e não baseados em gênero. Ou seja, a comparação é injusta.
Espero ter respondido e volte mais vezes para comentar outros textos sobre a Dinamarca 🙂
Olá Cristiane, tudo bem?
Estou muito interessada em fazer um mestrado na área de assuntos de gênero, você recomendaria algum programa na Dinamarca? Caso afirmativo, saberia me dizer se oferecem bolsa?
Muito obrigada! 🙂
Juliana, fiz uma pesquisa rápida na Internet e vi que a Universidade de Copenhague disponibiliza cursos nessa área. Para mais informações eu recomendo entrar em contato com a própria universidade, já que eu estou fora do meio acadêmico e temo pouco poder ajudar.
Sobre bolsa, acredito que a única opção para brasileiros era o CsF, que parece ter sido extinto para essa modalidade de estudos que você quer fazer. Na Dinamarca os estudantes estrangeiros que não possuem residência fixa no país precisam pagar do próprio bolso para estudar nas universidades locais.
O site da universidade é esse: http://inss.ku.dk/english/research/centre-for-gender-studies/
Boa sorte,
Cristiane.
Olá Cristiane! Tenho uma pergunta referente a violência doméstica na Dinamarca. Existe uma lei específica (tipo “Lei Maria da Penha”) de proteção a mulher na Dinamarca (ou em outro país europeu que você conheça)? Ou as leis existentes são mais generalistas (servem para mulheres, homens, idosos e crianças vítimas de violência)?
Gostaria de saber como esse problema é tratado em países europeus, e se essas leis são eficazes ou não. Se puder me passar artigos que falem sobre isso, ficarei agradecido. Um abraço! 🙂
Oi Elias, bom te ler por aqui novamente 🙂
Desconheço a existência na Dinamarca de uma lei que contemple exclusivamente a mulher, mesmo porque estamos falando de um país feminista e onde existe um Ministério da Igualdade de Gênero, porém é importante ressaltar que a questão da violência contra a mulher na Dinamarca esbarra num fator que é igualmente comum no Brasil: a falta de denúncia por parte das vítimas. Muitas mulheres sofrem caladas ou demoram até criarem forças para fazer a denúncia, vivendo em relacionamentos abusivos e sem saber como sair deles. A maioria só denuncia em casos extremos ou quando o crime toma proporções maiores como, por exemplo, partindo para um estupro ou tentativa de assassinato. É possível encontrar informações a respeito do que fazer e como fazer a denúncia na polícia, além de estatísticas sobre a violência doméstica no site do Ministério da Criança, Educação e Igualdade de Gênero, neste link (perdoe que só está disponível em dinamarquês): http://www.voldmodkvinder.dk/
Acho que, muito antes de punição, é preciso dar educação. Educar os meninos a respeitarem as meninas é primordial, sobretudo em sociedades machistas e religiosas como no Brasil, por exemplo. A religião, aliás, tem um fator preponderante na hora de determinar os papéis desempenhados pelos gêneros, dando asas para o patriarcado reinar solto sobretudo no triângulo judaísmo-cristianismo-islã. A Índia, embora seja o hinduísmo politeísta, esbarra na questão cultural de pudor religioso/moral que lhe foi impregnada depois da colonização inglesa.
Se eu entendi bem a sua pergunta, você está tentando traçar mentalmente um paralelo entre o que ocorre no Brasil e o que ocorre na Europa. Esse paralelo é impossível de ser traçado. São realidades e contextos sociais muito diferentes. O machismo é algo raro de se ver por aqui, principalmente na Escandinávia.
Para ler com mais propriedade e profundidade acredito que seria necessário falar dinamarquês. Qualquer pesquisa que você faça no Google com o termo ‘vold mod kvinde i Danmark’ dará inúmeros resultados.
Um fato curioso e importante a ser destacado é a oferta de tratamento para os homens que cometem violência contra as mulheres. Esse tipo de terapia/aconselhamento costuma funcionar. Vi recentemente que atualmente também há grupos fazendo esse trabalho no Brasil, o que é muito positivo. Só poderemos transformar o mundo através da conscientização e educação.
Abraços e continue nos acompanhando!
Olá Cristiane! Muito obrigado pela resposta, teu ponto de vista foi bastante esclarecedor. Estou fazendo um trabalho sobre esse assunto.
E concordo com você em dois pontos: Brasil e Dinamarca são países completamente distintos, e as mulheres também. Ainda é bastante comum ver mulheres no Brasil que são donas de casa e dependem financeiramente do marido ou companheiro, e em situações de violência doméstica, algumas preferem ser violentadas do que cuidar da casa e dos filhos sozinha (algo que fico estarrecido, mas não podemos desconsiderar o aspecto social). Já as Dinamarquesas, pelo que eu imagino, já são mulheres financeiramente independentes e donas dos seus próprios destinos, o que pra mim já é uma grande arma no combate a violência doméstica. Por isso que lá não foi necessário ter uma “lei Maria da Penha”, porque já é uma sociedade onde homens e mulheres são tratados igualmente (foi bom saber disso).
E outro ponto que também concordo, realmente o único “remédio” é a educação, porquê não adianta ter leis se as pessoas não conseguem se conscientizarem. E isso é algo que precisa melhorar bastante no Brasil. Mas no meu ponto de vista, não são só os homens que precisam se conscientizar; ALGUMAS mulheres, não todas, também precisam saber do seu papel na sociedade, deixando a “vitimização” de lado e almejar sua autonomia. Nesse ponto o feminismo tem sido importante para difundir essa ideia.
Um abraço pra você também! 🙂
Elias, querido, vamos combinar que o pensamento machista está enraizado na cabeça dos brasileiros, que sempre culpabilizam e responsabilizam a mulher de vitimismo quando, na verdade, ela é uma vítima do machismo existente no país? Então vamos.
As mulheres em situação de vulnerabilidade não estão nessa situação porque querem. Muitas se submentem à violência e relacionamentos abusivos porque não conseguem sair dessa situação. É muito difícil perceber que se está vivendo num relacionamento abusivo, ainda mais em países como o Brasil, onde os papéis são divididos por sexo e a mulher é sempre condenada, exposta, vilipendiada. Veja o seu discurso, saindo por esse mesmo viés de condenar as mulheres.
Você provavelmente não tem filhos para dizer que uma mulher prefere ser violentada a cuidar dos filhos sozinha. Pra começar, os pais deveriam ter a mesma carga de responsabilidade sobre os filhos. Ser mãe, com ou sem um companheiro ou rede de apoio é uma carga enorme – eu tenho uma filha e tenho todo o apoio do meu marido e família e, ainda assim, há dias em que nós dois estamos exaustos! Então, por favor, pare de dizer isso que as mulheres estão nessa situação porque querem. Elas às vezes precisam de ajuda e não conseguem gritar. Ser mãe solo é uma tarefa e tanto e eu só tenho admiração pelas mulheres que o são, seja por opção ou por consequência da vida.
Agora, pra finalizar, vamos botar os pingos nos is, como se diz em SP, de onde venho.
No feminismo existe uma coisa que se chama “lugar de fala”. Respeitar o lugar de fala de alguém quer dizer, trocando em miúdos, que uma pessoa que não tem vivência num determinado assunto deve se abster de dar pitaco ou dar opinião a respeito daquele assunto, pois ela vai falar sem propriedade e provavelmente vai usar argumentos inválidos ou tendenciosos. Peço desculpas pra você mas, aqui, eu tenho o lugar de fala por ser mulher, por ter vindo da periferia e por saber como é a vida de uma mulher abandonada pelo marido com filhos pequenos, entre tantos outros casos de mulheres fragilizadas que conheço e que presenciei e ajudei. Portanto o seu discurso, ainda que com intenção de ser desconstruído, está roubando o meu lugar da fala, pois você não tem propriedade para opinar por falta de vivência em ser mulher, o que acaba lhe fazendo falar um monte de besteira por desconhecer o que é ser mulher e, principalmente, por ser homem num país machista e opressor.
Se as mulheres são mais independentes na Dinamarca é porque elas bateram muito forte para conquistar esse direito, e teve muita briga, sim! Não é fácil ser mulher num mundo dominado por homens, sabe? Todos os privilégios nesse mundo são masculinos. A maior arma contra a violência doméstica é a educação, e somente a educação: os meninos têm de ser educados a respeitar as mulheres, a aprender que não é não, que cavalheirismo é conversa pra boi dormir (o bom é ser gentil com todos e gentileza não é cavalheirismo), que é difícil se desconstruir e que somente com respeito mútuo construiremos um mundo mais justo.
Espero que meus argumentos sejam úteis para o seu trabalho de pesquisa e volte sempre que quiser!
Abraços, bom domingo 🙂
Acredito que discutir sobre esses temas é um bom começo.
Olá Cristiane! Mais uma vez, obrigada por expor sua visão. Bom, eu fiz essas afirmações porque trabalho como estagiário na área da justiça, e vejo muitos casos semelhantes com o mesmo desfecho (é como ver várias histórias sob o mesmo roteiro). Eu fico triste quando vejo isso. Seus argumentos são válidos, e espero que essas mulheres vítimas de violência (e ficam caladas) tenham coragem para buscar justiça no futuro. Isso é o que eu mais quero. Espero que o Brasil seja um país melhor no futuro, pois hoje há muitas discussões sobre a violência contra a mulher na mídia brasileira. Já é um bom começo de um longo caminho a ser percorrido. Obrigado mesmo pela sua explanação! 🙂
Olá Cristiane! Desculpe escrever de novo, mas depois de refletir na sua resposta, acho que vou desistir de fazer meu trabalho (de conclusão de curso) com esse tema. Eu fiz essas perguntas com o intuito de ter um ponto de vista feminino sobre o assunto. Mas por mais que eu tenha boa intenção de achar soluções para este problema, eu, como homem, não tenho propriedade para falar desse assunto. Não tenho o “lugar de fala”, como você mesma disse.
Não passei pelos mesmos problemas que vocês mulheres passaram, embora eu tenha uma grande admiração pela força de vontade de vocês para mudar esse cenário. Só que mesmo eu sendo homem, também sofri com o machismo, por não me encaixar no padrão masculino de ser. Deve ser por isso que a violência contra a mulher é algo que mexe bastante comigo.
Se meu comentário anterior deu a entender que as mulheres são culpadas pela violência, me desculpe. Só foi uma hipótese que eu levantei para o meu trabalho, tentando achar um motivo que não existe. Mas enfim, eu como ser humano, estou vivendo e aprendendo.
E se você tiver alguma sugestão sobre esse e outros temas, vou ficar agradecido, até porque eu quero aprender (e errar faz parte do aprendizado). Espero que você me compreenda. Um grande abraço pra você e para sua família! 🙂
Realmente Elias, acredito que um homem pode até tentar abordar a problemática mas a falta de vivência no assunto limita a argumentação, como eu disse anteriormente. Por mais que seja difícil a desconstrução, ela é necessária, por isso é importante a gente parar pra ouvir, mesmo quem discorda da gente. Esse é um exercício que me enriquece muito, e embora eu tenha problemas com a teimosia de vez em quando, procuro calar o ego e ouvir, e considero o que foi dito sempre que os argumentos fazem sentido.
Homens podem (e devem) ajudar a destruir o machismo e a cultura do patriarcado. Para isso é preciso que os homens com consciência comecem a destruí-lo a partir de seu próprio círculo social – entre amigos e familiares homens. O trabalho é de conscientizar e repreender as ‘piadas’ e colocações despropositadas e machistas que surgem. Acredito ser esta a parte mais difícil, a de rebelar-se contra o que a maioria entende como ‘certo’, já que todos queremos fazer parte de um grupo e nos sentirmos aceitos. Penso ser esse o principal motivo pelo qual muitos homens, embora secretamente se ofendam com as piadas e colocações de mau gosto/machistas/misóginas acabem se calando: é difícil ‘peitar’ ser diferente.
Você quer sugestão de leituras sobre feminismo, quer leituras sobre violência doméstica, sobre domínio do patriarcado ou o quê, exatamente?
Ficarei feliz em indicar leituras, assim que souber qual o seu interesse específico.
Abraços e obrigada mais uma vez por comentar.
Olá Cristiane! Meu trabalho é focado na violência doméstica contra a mulher, a fim de avaliar se a Lei Maria da Penha foi eficaz (ou não) no combate a violência doméstica. Vou fazer apenas menção ao feminismo, pois o movimento deu um grande impulso para a implementação da lei, mas não vou focar tanto nisso – é uma área que eu realmente não estou por dentro (mas seu texto sobre o feminismo na Dinamarca foi excelente – você manja muito bem do assunto 🙂 ). Valeu!