Eu moro em Oulu como estudante cursando mestrado em Educação e Globalização e como parte do curso de Estudos Nórdicos, eu fiz visitas a algumas escolas para ver um pouco na prática como funciona o sistema de ensino do país.
O sistema educacional finlandês é conhecido mundialmente pela sua excelência e resultados, principalmente pelo bom posicionamento no PISA, um exame que avalia a capacidade de estudantes de 15 anos em leitura, matemática e ciências. É um teste unificado aplicado na língua oficial de cada país e acontece a cada 3 anos. É claro que há controvérsias em aplicar exatamente o mesmo exame em países com realidades tão diferentes, mas isso já é outra história. Além disso, muito se fala do preparo do professor finlandês, que tem autonomia em sala de aula e possui, no mínimo, o mestrado, inclusive professores de ensino infantil. E é claro também que ter mestrado na Finlândia significa que o professor fez 3 anos de bacharelado e mais 2 de mestrado enquanto eu, por exemplo, fiz 5 anos apenas de licenciatura e bacharelado em Letras no Brasil. Mas isso também já é outra história.
As visitas incluíram uma creche, uma escola para crianças especiais e uma escola secundária e duraram cerca de 1h30 a 2h, então tivemos apenas um pequeno recorte da realidade das escolas e pudemos acompanhar só uma pequena parte do dia daqueles alunos, sempre orientados pelo diretor de cada escola. A seguir, vou falar um pouco sobre cada visita e destacar alguns pontos interessantes. É importante frisar que os relatos correspondem às minhas impressões e informações fornecidas pelo diretor de cada instituição.
Creche
Não é obrigatório matricular em creche/pré-escola crianças com menos de 6 anos de idade, ficando a critério dos pais fazê-lo ou não. A creche visitada tinha 200 crianças matriculadas e apesar do ensino obrigatório ser gratuito no país, nesta creche, pelo menos, as famílias pagam um valor mensal estipulado de acordo com a renda familiar.
As crianças ficam separadas em pequenos grupos de acordo com a idade e cada turma conta não só com a professora, mas com uma enfermeira assistente para auxiliar em todas as atividades. Desse modo, é mais fácil prestar atenção em cada aluno como um indivíduo e trabalhar o potencial de cada um. É interessante ver como cada espaço da creche foi realmente pensado para crianças, já que tudo é do tamanho dos pequenos, com decorações que enchem os olhos de qualquer criança e o mais importante: as crianças tinham seus nomes escritos nas cadeiras, mesas e cartazes. Para mim, isso faz cada criança se sentir especial e não apenas “mais uma ma multidão” e torna o ensino mais significativo.
Todos os dias as crianças brincam no parquinho e saem para “explorar”, já que o que não falta aqui em Oulu é natureza para isso. Mesmo nos dias frios é essencial que as crianças saiam, pois o passeio as conecta com o espaço que ocupam. Segundo a diretora, as saídas da escola só são canceladas quando a temperatura é inferior a -15 graus ou as condições climáticas não forem favoráveis.
Escola para crianças especiais
O público desta escola são crianças com deficiências que impedem que elas estejam matriculadas em qualquer outra escola. Todos os professores têm especialização na área e são capacitados para lidar com as crianças. As turmas são de, no máximo, 6 alunos e há assistentes, então é quase um professor por aluno, tornando o ensino quase que personalizado e focado nas necessidades de cada criança. Há diversas salas especiais para trabalhar com os sentidos e também coordenação dos alunos, estimulando o cérebro. Há, por exemplo, uma sala para crianças com deficiência auditiva com uma cama com sensores que permitem as crianças “sentirem” a música.
Escola secundária
A escola secundária visitada fica num bairro considerado carente e tem 800 alunos matriculados, o que a faz ser considerada uma escola grande pelos padrões da região. Como em toda escola finlandesa, todos os alunos têm direito a almoçar na escola sem custo algum. Nesta visita, pudemos circular livremente pela escola e observar diferentes aulas. Uma das aulas que mais me chamou a atenção foi de Home Economics. Nesta aula, os alunos aprendem a cozinhar, desde a teoria até a prática. Na aula que visitei, por exemplo, a professora ensinava peculiaridades da batata e como cortar uma cebola e em seguida, os alunos cozinharam carne com batatas. Por outro lado, quando visitei as aulas de inglês, finlandês para estrangeiros e biologia, elas não pareceram nada diferente do que temos no Brasil: um professor explicando a matéria e os alunos fazendo exercícios. Porém, o perfil do aluno finlandês é bem diferente do brasileiro: são quietos e não interagem muito. Não vou generalizar e afirmar que são todos assim, mas esta foi a impressão que tive do recorte das aulas que visitei.
O sistema de ensino finlandês parece funcionar muito bem, mas isto não significa que ele deve ser copiado ou transplantado para outros países. Não podemos esquecer que a solução para um ensino de qualidade funcionou aqui e precisamos levantar em consideração todas as variáveis como a história e cultura do país, por exemplo.
2 Comments
Olá. Sou brasileira, estou fazendo doutorado em educação especial e gostaria de conversar com você sobre algumas questões. Como posso te contactar?
Olá Gerda,
A Beatriz Guedes parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na Finlândia chamada Maila- Kaarina que também é Editora Geral do https://www.brasileirinhospelomundo.com/ e talvez possa te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM