A Finlândia, talvez pela sua localização, acaba sendo um país quase exótico para nós brasileiros. Quando se fala em Europa, ninguém cita o país. Quando se conta que vai estudar fora, ninguém lembra da Finlândia. Se alguém vai viajar para o Velho Mundo… não, ninguém pensa nela! Quem é da área de educação talvez se lembre do país pela sua fama de possuir o melhor sistema educacional do mundo ou quem é fã de heavy metal, conheça bem por todas as bandas do país. Mas, via de regra, falou “Finlândia”, ouviu um “Ahn?”.
Foi assim comigo quando comecei a contar que iria me mudar para lá. “Pra onde?”, “Onde fica?”, “Que tipo de pessoa vai morar lá?”, “É onde mora o Papai Noel, né?”, “Tem urso lá?”, “Mas e o frio?” foram algumas das perguntas que eu ouvi. Sim, a Finlândia é mesmo um tanto exótica para quem nasceu em terras tupiniquins (e devo dizer que por conta de tudo que já ouvi até hoje, a recíproca é verdadeira).
É claro que algumas coisas não são exatamente verdade – sim, faz muito frio no inverno, especialmente em janeiro, mas não é como se todos os dias fizesse -30, por exemplo – e morando no norte do país, devo confessar que a admiração tem lá seu fundo de verdade e seu lado exótico é justificável. Depois de alguns meses morando na Finlândia, ver a aurora boreal se tornou comum – não que seu encanto tenha se perdido, mas se tornou normal. Porém, o que realmente me chama a atenção são os extremos e como o país vive duas realidades completamente diferentes no verão e no inverno. Os invernos são muito escuros e os verões, muito claros.
O inverno
Além do frio, claro, a paisagem fica completamente branca e é até difícil de acreditar que mais cedo naquele ano, a grama foi verde, os esquilos passeavam e os pássaros cantavam. Mas é realmente de tirar o fôlego a beleza de uma paisagem coberta de neve. Na região onde moro pode começar a nevar em outubro e ainda temos neve até meados de abril, fazendo com que a cidade fique completamente branca por pelo menos metade do ano, sem contar todos os lagos que ficam congelados e atraem muitos patinadores – rinques de patinação no gelo não são muito comuns nem populares em Oulu.
O encanto da estação só não é maior por conta da escuridão. No auge do inverno, o sol nasce por voltas das 9h da manhã e pouco depois das 14h já começa a sumir no horizonte. Para nós brasileiros, que não estamos acostumados com um dia tão curto, é realmente difícil no começo e o cérebro fica confuso. Eu me lembro de, por exemplo, chegar da universidade às 16h, ir jantar e só depois perceber que, na verdade, ainda era muito cedo para isso. Além disso, há aquela constante sensação que seu dia não rende e uma dificuldade imensa de levantar cedo quando ainda está escuro lá fora.
O verão
Quando o verão chega, o contrário também acontece: ao ver tanto verde, sol e vida é difícil acreditar que a paisagem esteve coberta com muitos centímetros de neve há não muito tempo. É quando começamos a ver mais gente pelas ruas, sempre aproveitando ao máximo os belos dias ensolarados, mesmo que as temperaturas não fiquem tão altas no norte do país. De qualquer forma, para quem enfrentou um inverno rigoroso, qualquer temperatura acima de 15 graus positivos já dá a sensação de um calorzinho.
Os dias vão ficando mais longos e, mais uma vez, nosso cérebro não acostumado a mais este extremo, pode ficar bem confuso. No norte do país, já em maio não escurece mais e precisamos conviver com praticamente 24h de claridade. Por um lado, é muito gostoso ainda poder aproveitar o dia depois do trabalho ou aula, mas por outro, fica aquela eterna sensação que o dia vai acabar, mas nunca acaba. O meu maior problema nesta época é dormir, pois sem ter cortinas black-out para bloquear completamente a claridade, o sono fica muito prejudicado. E mesmo dormindo com uma boa venda os olhos, imagino que o corpo sinta a luz e enfim, eu não consigo dormir! Mas para compensar isso e fazer a “confusão” valer a pena, somos sempre recompensados com um belo céu, mesmo à meia-noite. Sim, o famoso sol da meia-noite existe nesta parte do mundo!
A Finlândia é realmente um país de extremos e morar ou visitar o país em um deles proporciona experiências completamente diferentes. De qualquer forma, numa estação ou outra, o país não perde sua beleza – ou você vai se encantar com a bela paisagem branca e a aurora boreal dançando no céu ou vai ficar encantado com um lugar onde o sol praticamente não se põe por algumas semanas no verão.
1 Comment
Amei! Realmente, é um país onde a extremidade vai além, mas é impossível não amá-lo!!!