“Como aurora precursora
Do farol a divindade
Foi o 20 de setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor constância
Nesta ímpia injusta guerra
Sirvam nossa façanhas
De modelo a toda terra”
(Trecho do Hino Rio Grandense)
O mês de setembro é o “mês do gaúcho”. Nele, é comemorada a proclamação da República Riograndense, em 1835 durante a Guerra dos Farrapos. Na época, o Rio Grande do Sul vivia da pecuária e da produção de Charque (uma carne salgada e seca ao sol). Porém, o governo imperialista elevou a taxa sobre os produtos gaúchos, dificultando a competitividade com os vizinhos, Argentina e Uruguai. Após tentativas de negociar nada satisfatórias, instaurou-se a Guerra, que durou 10 anos!
As Tradições
Com toda certeza esses fatos perduraram em nossas raízes, e contribuíram muito para a formação da cultura do povo gaúcho, com suas tradições e seus ideais de liberdade e igualdade. O povo gaúcho é um povo de cultura forte, com muito orgulho de suas tradições, e que as leva por onde vai. Somos “bairristas”, sim!! Sempre brigamos por nossas ideias e não gostamos quando falam mal do nosso povo. Como já disse Arnaldo Jabor: “Todo gaúcho ama sua terra acima de tudo e está sempre a postos para defendê-la. Mesmo que tenha de pagar o preço em sangue e luta.” Foi assim em 1835, e de certa forma, não seria diferente hoje. Claro que não podemos generalizar este comentário e achar que vamos sair por aí em uma “peleia” (briga)! Mas que defendemos nossa terra em uma discussão verbal, disso não tenha dúvidas.
Mas por qual motivo estou falando de gaúchos em um texto sobre a China?
Ah, essa é fácil. Porque aqui existem muitos gaúchos. Na região de Dongguan, a grande maioria dos brasileiros por aqui são gaúchos. Tantos, que até um CTG (centro de tradições gaúchas) foi fundado. E eu, como uma boa gaúcha defensora dos meus costumes, não posso deixar de homenagear todos estes que deixaram seu “pago”(sua terra) para buscar novos horizontes na terra de Mao.
Eu cheguei por aqui em dezembro de 2006, e pra minha felicidade em setembro de 2007 já estávamos comemorando nossas tradições. A vestimenta não foi um problema: com boa mímica e desenho foi possível fazer um vestido de prenda e a bombacha do meu esposo (trajes típicos) em uma costureira local. E lá fomos nós, junto com mais alguns amigos, dançar, rir, conversar e cultivar nossas tradições.
Por mais alguns anos isso foi se cultuando aos poucos, com pequenos grupos se juntando aqui e ali, e com maior ênfase no mês de setembro quando uma festa maior era organizada. Até que em 1 de Janeiro de 2012 um grupo de 4 amigos resolveu fundar, de fato, um grupo de cultura gaúcha, o PTG China Véia (Piquete de tradições Gaúchas China Véia). Liderados inicialmente pelo Patrão (presidente) Alan Sehn, completando sua patronagem com os fundadores Leomar Lima, Oseas Flesh e Bruno Reichert, o grupo foi crescendo aos poucos, alcançando em pouco tempo o numero de 30 integrantes.
Esse grupo fundador ficou a frente do PTG por 3 anos, e em 2015 houve uma troca de patronagem, assumindo o cargo de Patrão, Crodoaldo Batista de Araújo e, como vice, Junior Amaral.
Logo de início os encontros do Piquete passaram a ser mais periódicos, sendo realizados pelo menos uma vez ao mês para os integrantes filiados, e eventuais celebrações a toda comunidade que quisesse participar, desde pequenos encontros, mateadas (encontro para tomar o mate – chimarrão – com venda de feirante da comunidades brasileira) até a grandes almoços campeiros (com cerca de 300 pessoas) e bailes.
Entre esses eventos, passou-se a ter o sonho de trazer músicos nativistas do Rio Grande do Sul para trazer um pouco da “Alma Gaúcha” para a China. O primeiro a pisar por essas bandas, em novembro de 2014, foi o cantor nativista Pirisca Grecco e sua comparsa elétrica, trazendo um show com músicas tradicionais para matar a saudades de todos que por aqui moram.
Após esse show, a vontade do “quero mais” só cresceu, e para o ano de 2015 o show se tornou ainda maior, e com uma parceria: além da volta de Pirisca Grecco, teríamos também um dos maiores cantores nativistas, Luiz Marenco. O show foi um espetáculo a parte! Arrancando arrepios e lágrimas de quem lá estivesse.
Mas como todo bom gaúcho, um bom baile não pode faltar! E essa foi a meta traçada para 2016. Felizmente a meta foi alcançada com muito sucesso, e tivemos dois grandes grupos aqui, para que pudéssemos prestigiar. Primeiro o show do cantor nativista Ita Cunha com sua banda, onde cantou e encantou com sua bela voz, trazendo na mala um pouco da saudade. Depois, foi a vez do cantor serrano Edson Dutra com sua banda, uma antiga formação do Grupo “Os Serranos”, um dos maiores grupos de baile do Sul do Brasil. O baile foi bom demais, de rachar o tablado! Cerca de 420 pessoas se emocionaram e aproveitaram o evento.
Em setembro de 2016, o PTG CHINA VÉIA recebeu um prêmio chamado “Comenda João de Barro”, dado em reconhecimento a entidades que cultuam e trabalham para manter as tradições gaúchas. Este apenas um pequeno reflexo do quão importante pode ser um trabalho cultural.
Eu cresci em meio a tradição, frequentei CTGs, e fico muito feliz de poder ensinar a meus filhos parte da nossa cultura. Claro, que estando aqui não será possível vivenciar tudo como se fosse na minha Pátria Amada, mas se puder ensinar ao menos um pouco, já estarei contente. E a minha felicidade se completa por vê-los, nascidos aqui na China, compartilharem conosco o gosto pelas tradições!
O futuro do China Véia
Neste ano de 2017 houve nova troca de patronagem, e assumiu o cargo Luis Carlos Fagundes. O grupo do China Véia já trabalha para os próximos eventos, e quem sabe em breve não faço um novo post sobre isso? Para uma amante da cultura, assunto sempre tem!
“Sirvam nossas façanhas
De modelo, a toda terra!”
Até a próxima!