Falar em medicina na China é um assunto que gera muitas dúvidas e diverge muitas opiniões. Já recebi algumas mensagens de pessoas vindo para cá com essa dúvida (e medo). Comigo não foi diferente.
Lembro de quando estava me organizado para vir para cá pela primeira vez: fui ao médico da família, expliquei que viria e fiz um checkup completo, a fim de prevenir qualquer coisa mais séria que pudesse acontecer.
Sim, nunca estamos livres de algo acontecer, mas sempre devemos acreditar que se nos cuidarmos e fizermos exames complementares de tempos em tempos, nada muito sério deva aparecer de surpresa – ao menos é o que esperamos!
E foi o que fiz: exames completos, para saber que tudo estava bem. Lembro que ainda fui ao cabeleireiro e cortei o cabelo até mais curto do que geralmente corto pois não sabia o que me esperava aqui.
Confesso que no começo é tudo muito estranho, principalmente estar no meio de pessoas que não falam sua língua e muito menos entendem o que você está falando. Pode ser um pouco assustador caso você precise de algo sério. Felizmente todas as vezes que precisei utilizar serviços médicos por aqui foi tudo muito bem sucedido.
Consultórios médicos não são comuns por aqui. Precisa de atendimento médico, vá direto ao hospital. Lá existem dois tipos de atendimento: o público e o VIP. Nós, estrangeiros, geralmente vamos à área VIP, exceto à noite ou em emergências, pois a área VIP fecha no final do dia. O motivo de irmos a esta área é porque geralmente lá se encontram médicos e/ou enfermeiras que falem inglês. Se o médico não fala, a enfermeira serve como tradutora, além de ajudar em todo seu atendimento.
Chegando na área de atendimento as enfermeiras lhe perguntam qual sua necessidade e te encaminham para o médico da especialidade. Você é atendido pelo médico, que lhe encaminha na direção necessária: exames, soro, medicação, etc. O interessante é que tudo é feito na hora e você sairá do hospital com o atendimento completo.
Saindo da consulta com o médico, sendo necessário algum exame, a enfermeira que está atendendo você o acompanha até a área dos exames, seja sangue, raio-x, ressonância magnética ou qualquer outro. Ela mesma tem a ordem de atendimento e o coloca na “fila de espera”. Geralmente em poucos minutos você é atendido e tem seu exame praticamente na hora. Exames de sangue necessitam uma espera um pouco maior, de geralmente uma hora. Exames mais específicos exigem uma espera ainda maior, mas geralmente em no máximo um dia estão prontos.
Após uma breve espera pelo resultados dos exames, você já volta à sala do médico para que este veja os resultados e lhe dê o tratamento correto. Basta seguir ate a farmácia, que fica dentro do hospital mesmo, e retirar seu tratamento. Este tratamento vem “contado”, ou seja, se você precisa tomar 20 pílulas, você receberá só 20. Você não precisa comprar uma caixa completa, caso ela seja maior, para ter o número de pílulas necessárias.
Dali você já sai com tratamento completo e, se quiser, com hora agendada para fazer o retorno de avaliação do tratamento.
O atendimento em hospitais aqui é muito bom, mas não posso negar que ainda há a barreira da língua. Mesmo a enfermeira falando inglês, nem sempre é correto ou fácil de entender. Sem contar que é muito melhor você entender diretamente o que o médico explica do que ficar ouvindo uma tradução, sempre na desconfiança de se foi tudo traduzido ou não. Para casos mais sérios, sempre recomendo levar alguém que fale bem o chinês ou algum amigo chinês em quem você confie que falará tudo e ajudará a resolver o que precisar. Foi o que nos fizemos quando dei à luz a meus filhos aqui.
Quando me tornei mãe
No começo, a decisão de onde ter meu bebê não foi fácil. Apesar de algumas amigas já terem dado à luz aqui, quando chega nossa vez sempre vem as dúvidas. Descobri minha primeira gravidez pouco antes das férias, quando iríamos ao Brasil. Enjoei MUITO nessa gravidez e adiamos as férias porque eu não conseguia nem chegar na esquina, imagina atravessar oceanos! Inicialmente eu iria para o Brasil ganhar minha bebê, mas acabei decidindo pela China. Nessa hora começou a nossa busca por um hospital para o parto.
Após visitar o primeiro hospital, a experiência não foi boa. O hospital era escuro, sujo e a enfermeira dizendo que estava limpo! Me passou um aspecto muito ruim!
Foi aí que tudo melhorou: os outros dois hospitais que visitamos eram muito bons, com médicos atenciosos. Optei por um hospital onde, ao lado do prédio principal, existem pequenas “casas” para alugar. Embaixo há um quarto principal completo (casal) com banheiro e todos os equipamentos de hospital necessários, uma sala e uma cozinha compacta. Subindo as escadas, mais um quarto e um banheiro, para a pessoa que acompanhar poder também ter um pouco de descanso – no meu caso, minha mãe. Em partos na China o normal é que se fique no hospital no mínimo de 5 a 7 dias, seja parto normal ou cesárea. Os motivos são muitos: se algo sério for acontecer com o bebê, é na primeira semana; monitoram a mãe para ver se está bem, se não infeccionou o útero, se os pontos estão secando corretamente; fazem vários exames na mãe e no bebê e dão as primeiras vacinas necessárias. Só então todos ganham alta.
Enquanto estava no hospital, uma enfermeira falando inglês ficou à minha disposição 24 horas e eles ajudavam a cuidar do bebê em tudo. Caso não fosse necessário, ela nos dava a privacidade e ficava ao lado da casa onde eu estava. Meu marido ficou comigo durante todo o tempo em que ficamos internados, bem como minha mãe.
Vocês agora devem estar se perguntando o preço de tudo isso. Estou há muito tempo fora do Brasil para poder fazer comparação nesse quesito, mas até onde sei nem existe tratamento tão completo em casos como esse. Fiquei 6 dias internada em uma área VIP, com enfermeira particular, com anestesista, obstetra, pediatra e todos os exames e atendimentos e medicamentos durante todo o período e gastei em media 25 mil yuans, o que hoje fica em torno de 12 mil reais. Na época eu não tinha plano de saúde, mas para quem tem, o plano cobre esse tipo de atendimento também.
Tive meus dois filhos aqui com um ótimo atendimento e não me arrependo da minha escolha. Nem todas as brasileiras morando aqui optam por terem seus bebês na China, e eu respeito muito isso: é preciso se sentir bem e confiar na equipe médica. A comunicação difícil atrapalha, muitas vezes, nesse quesito. Ficar dependendo de tradução e de amigos chineses (obrigada, Jim!) para fazer os registros médicos do hospital, registro do bebê, entre outros, é bem chato. A escolha precisa ser pelo bem estar da mamãe e do bebê, tanto físico, quanto emocional. Eu tive boas experiências, mas tive amigas que não tiveram. Exemplificando: quando se chega no hospital para fazer o teste de gravidez, antes mesmo de realizar o teste, perguntam se você quer abortar. E por aí vai…
Em resumo, atendimentos hospitalares são difíceis em qualquer parte do mundo, afinal, ninguém deseja precisar disso. Temos que nos adaptar e, com calma, compreender o que está acontecendo. Em qualquer lugar do mundo existe o lado bom e o lado ruim, até mesmo no nosso amado Brasil. Eu prefiro tentar sempre levar as coisas pelo lado bom, esperando que sempre dê certo!
Ate a próxima!
6 Comments
Nossa Tati me vi muito no texto! A quase 8 anos atras não tive a “coragem” de ter minha filha aqui, fui para o Brasil, pelo fato de nao “confiar”, mas pela tradução também…. Mas depois que aqui estamos e vemos como tudo acontece fica mais “facil”… minha segunda filha tive em Hong Kong, e os procedimentos são os mesmo que aqui de Dongguam, o que facilita lá, é que todos falam inglês! Hoje temos duas filhas lindas e cheias de saúde…. Parabéns Tati pela bela matéria!!!! Beijos
Verdade, Ana…. No começo surgem muitas duvidas somadas ao medo de seguir. Hoje já estamos mais habituadas e sabemos que é tão bom quanto o Brasil. Sim, diferente. Mas bom tambem!
Obrigada pelo recadinho!
Beijao!
Oi, queria saber se há pediatras ai e como você faz quando seus filhos pequenos tem algum problema de saúde, se é esse mesmo fluxo.
Olá Aline,
A Tati Klaus parou de colaborar conosco, mas temos uma colunista na China chamada Christine Marote que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Tati, muito obrigado pelas informacoes. Somente uma duvida, por acaso vc consegue indicar os principais planos de saude que atendem na china? por favor!
Olá Rafael,
A Tati Klaus parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na China que que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM