Talvez muitos por aqui saibam que na Espanha não se fala apenas o espanhol, mas para quem acha essa uma novidade, vamos lá. A Espanha é dividida em 16 comunidades autônomas, uma comunidade foral (Navarra) e duas cidades autônomas (Ceuta e Melilla).
Destas comunidades autônomas, Pais Vasco, Catalunha, Comunidade Valenciana, Ilhas Baleares e Galícia possuem idioma próprio, reconhecidos como oficiais, que são respectivamente, Euskera, Catalan, Valenciàn, Mallorquín e o Galego, ademais de outras variações dentro das próprias regiões autonômicas.
Assim, quando nos mudamos para a Galícia, tivemos que lidar com o galego além do espanhol, seja pelas minhas aulas do mestrado, seja pela escola das minhas filhas ou ainda o fato de os galegos, principalmente os com mais idade, falarem muito galego pela rua e comércio.
Acredita-se que o galego é um dos idiomas base do português, sendo também de origem latina, com origem no reino da Gallaecia, que atualmente é onde existem Portugal, parte de Astúrias, León e a Galícia.
Na época dos anos 1.000/1.200 d.C., esse era o idioma falado em toda essa região, era o gaélico português, que depois da separação dos reinos dividiu-se no que conhecemos hoje pelo Português, falado em Portugal e o Galego, ou Português antigo falado nessas regiões da Espanha (Galícia, Astúrias e León), que por vezes é chamado de português.
Inclusive, na reforma ortográfica de 2009, várias entidades de cultura galega colaboram com a realização de um vocabulário para ser incluído e padronizar o idioma luso com o falado por aqui.
De fato, quando lemos em galego ou as pessoas falam devagar, notamos uma semelhança, principalmente na primeira hipótese. No entanto, para manter a conversação com um galego, daqueles do Pueblo, que possuem um sotaque mais carregado, a tarefa parece hercúlea e quando pedimos educadamente para falarem o castelhano pois não entendemos, ouvimos logo um “Pero non é brasileiro? O galego e o portugués son casi a mesma cousa.”
Temos que rir para não chorar!
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O idioma é bem complexo, principalmente nas partes gramaticais (tenho que fazer tarefas com minha filha e é complicado), mas também é um idioma muito gostoso de aprender e depois de mais de um ano por aqui já posso manter uma conversa com um local, da mesma forma que houve uma melhora significativa na minha capacidade de compreensão.
E como aprendi tudo isso? Simples, além das classes na Universidade (algumas em galego), as tarefas escolares das minhas duas filhas, já que no ensino público aqui metade das matérias são lecionadas no idioma da comunidade e aquela famosa roda de mães e avós do parque (eu já mencionei como amo os parques por aqui?).
A dica é estar disposto a aprender e aproveitar as pessoas dispostas a ensinar. A televisão e alguns jornais locais também são no idioma daqui, assim, sempre vale uma leitura ou escutar, para se familiarizar com os sons e as palavras, mas especialmente, aproveite as pessoas locais.
Ok, mas as pessoas pela Europa não são mais fechadas e menos propicias à amizade? Não tive essa experiência por aqui, ainda… O que percebo é que as pessoas não têm o nosso costume de conhecer na fila do banco e na outra semana chama para o almoço do domingo, mas estão muito dispostos a sair pelos bares de tapas ou ainda pelos parques e diversas atividades ao ar livre que a cidade oferece (quando não está chovendo).
Uma vez vi uma reportagem no jornal local falando da importância social da saída aos bares e de como isso é um costume cultural da sociedade por aqui, achei interessante pois dizia justamente que, por não ser uma grande cidade, a maneira de confraternizar, aproveitar para sair e ainda comer fora (alguém abençoe o criador das tapas na Espanha), esse é um estilo de vida na Galícia e nem amigos de longa data tem o costume de frequentar a casa um do outro pela praticidade de encontrar todos os serviços disponíveis na rua.
Desta maneira, sair de bar em bar, compartilhando barras – já que espaço é realmente um problema por aqui – é uma maneira muito boa de aprender o idioma. As pessoas ali estão dispostas a trocar ideias e nada melhor que uma boa taça de vinho ou caña para nos tornar poliglotas!!! (Pausa para agradecer o garçom que me ensinou a diferença de um pincho, uma tapa, um bocadillo, uma caña e a pronunciar “jarra”, valeu moço, seja feliz por toda a sua vida!!!!).
Para mais informações sobre o idioma galego, é interessante consultar o site da Academia de Letras Galegas, disponível aqui, infelizmente, antes de vir eu procurei, mas não encontrei nenhum site que tivesse um curso básico do galego online, mas, existem no Brasil Associações Galegas (São Paulo, Paraná, Bahia e Rio de Janeiro) já que tem muitos galegos migraram para o nosso país na época da Segunda Guerra e do Franquismo aqui na Espanha.
Eu amei aprender um pouquinho mais dessa cultura e idioma fantásticos, que tem muito a acrescentar nessa nossa jornada que chamamos de vida. Espero que todos os leitores tenham gostado um pouquinho também.
1 Comment
O galego é parte do nosso idioma. Assim como o português do norte de Portugal é diferente do Alentejo, Açores, Angola, Moçambique.
Eu prefiro mil vezes conversar no galego do que em castelhano, a língua invasora de Castela (Madri).
Sugiro uma busca pela página do Portal da AGAL, os vídeos no youtube da editora Através, dos videos da AGLP (academia galega da língua portuguesa) e as matérias sobre o reintegracionimo da escrita galega-portuguesa.