Depois de dois intercâmbios e uma faculdade de Letras concluída, eu me pegava imaginando morando fora do Brasil outra vez e, ao mesmo tempo, achava que já era hora de pensar num mestrado. E para juntar a “fome com a vontade de comer”, conheci o Mestrado em Educação e Globalização da Universidade de Oulu na Finlândia.
Por incrível que pareça, o processo é muito simples e objetivo, apesar de um pouco trabalhoso. Vale lembrar que o passo-a-passo a seguir é para a Universidade de Oulu apenas. Embora as outras universidades finlandesas possam ter um sistema muito parecido, cada curso tem suas exigências.
O Mestrado
Apesar do nome, o mestrado não é voltado para professores ou pessoas que trabalhem na área de educação somente – em 2015, 38% dos candidatos selecionados eram da área de Humanas como eu, por exemplo (informação aqui) e as áreas de atuação vão muito além da sala de aula, já que o curso trata das diversas facetas da educação num mundo globalizado.
Documentação
Para me candidatar a uma vaga, precisei de:
– Tradução juramentada em inglês do meu diploma e histórico escolar. A universidade aceita em inglês, finlandês e sueco, já que as duas últimas são as línguas oficiais do país. A tradução juramentada é relativamente cara, mas é a única aceita por ter valor legal.
– Cópias dos documentos originais em português. Junto com as traduções originais enviei as cópias em português. Como tenho licenciatura, enviei também o histórico escolar do curso, pois apesar de não ser obrigatório, candidatos que provem ser da área de educação de alguma forma ganham mais pontos na primeira etapa.
– Cópia do passaporte.
– Carta de apresentação. Nada mais é que uma carta falando sobre mim e minhas motivações para cursar o programa, além da minha experiência na área de educação. É muito importante que a carta seja bem escrita e que você deixe claro porque é um bom candidato – é a partir desta carta que a universidade vai ter uma ideia de quem você é.
– Intenção de pesquisa. Como é um mestrado focado em pesquisa, é necessário deixar claro o que você pretende pesquisar. A proposta é apenas uma descrição da minha área de interesse e do tema que gostaria de pesquisar e ela pode ser mudada depois, desde que tenha a aprovação dos professores.
– Currículo acadêmico. Um currículo com todas as experiências profissionais e acadêmicas relevantes para o curso.
-Duas cartas de referência. Podem ser de ex-empregadores ou professores, desde que sejam relevantes para o contexto do curso. As cartas devem ser envidas dentro de envelopes lacrados como uma garantia de que o candidato não as leu. Eu enviei de professores da época da faculdade.
Eles não aceitam inscrições “virtuais”, então precisei enviar tudo pelo correio. É importante ficar atento ao prazo, pois a inscrição deve ser recebida até a data limite, que geralmente é no fim de janeiro.
Até 2015 a inscrição era gratuita, mas devido a recessão na Finlândia, algumas mudanças estão acontecendo e a partir de 2016 será cobrado 100 euros de todos os candidatos com diploma emitido fora da União Europeia. O curso continua gratuito.
Todas as informações para se candidatar para o outono de 2016 estão aqui.
Seleção
A seleção se divide em duas etapas. A primeira é a análise dos documentos enviados e o candidato pode fazer até 18 pontos, sendo 6 pela relevância do currículo como um todo, 6 pela carta de apresentação e 6 pela intenção de pesquisa. Acredito que nesta etapa analisem a relevância de tudo e se o perfil do candidato se encaixa com o perfil da faculdade.
A segunda etapa é uma entrevista de 30 minutos por Skype. Nesta etapa eles analisam o nível de inglês, já que ao contrário da maioria das universidades eles não pedem nenhum certificado de proficiência escrito na inscrição, e tiram dúvidas sobre a intenção de pesquisa, checam se o candidato tem aptidão para a área de educação e se consegue articular o conteúdo do programa.
Esta etapa vale 10 pontos e é necessário fazer pelo menos 5 para passar.
Embora possa parecer um bicho-de-sete-cabeças, o processo de seleção é muito mais simples dos que os processos de grandes universidades brasileiras. Minha impressão é que é muito mais avaliado o perfil do candidato e como ele se encaixaria dentro daquele curso do que notas ou sucesso acadêmico exclusivamente. Isso é perceptível na composição da minha turma: há desde pessoas recém-saídas do bacharelado e sem nenhuma experiência profissional até professores com alguns anos de experiência como eu. Além disso, a turma é formada por pessoas de diversas áreas como contabilidade, psicologia, tradução, administração e até arquitetura e como o curso enfatiza educação no contexto da globalização, os candidatos vêm de todas as partes do mundo também, apesar de eu ser a única latina americana da turma.
Eu recomendo o mestrado para todos que têm interesse na área de educação, seja para atuar como professor, coordenador, em ONGs ou na elaboração de currículos.
7 Comments
Oi Bia !! Obrigada por compartilhar essa experiência de mestrado, tb tenho mt vontade de fazer pós ou mestrado em outro país mas nao sabia qual país escolher, e a Finlandia parece fantástica ! Gostaria de perguntar, vc tem bolsa de estudos ??
Olá, Isabela!
Não, não tenho bolsa. O ensino é gratuito, então nem o governo nem a universidade tem programa de bolsa para alunos estrangeiros e, infelizmente, o Brasil não oferece nenhum tipo de bolsa para alunos de mestrado, apenas doutorado.
Olá, Bia! Adorei ler seu texto!
Quero fazer um mestrado em algum lugar da Escandinávia na área de Relações Internacionais e uma das minhas maiores preocupações é não ter um desempenho acadêmico e currículo bons o bastante. O CR, por exemplo, é uma coisa que me preocupa muito! Estou me formando no final do ano e meu CR, no momento, é 8,5. Fico com medo de ser muito “regular” para me aceitarem.
Fora isso, meu currículo é basicamente alguns estágios na área de Direito (minha graduação), uns três cursos de extensão presenciais e alguns online. E um programa de intercâmbio de trabalho de 3 meses nos EUA.
Pela sua experiência, acha que seria o bastante? Teria alguma sugestão sobre como melhorar?
Muito, muito obrigada desde já!! 🙂
Olá, Paula!
Obrigada pelo comentário.
Eu não posso falar por todos os países nórdicos, pois não conheço as peculiaridades de cada um. O que notei sobre a Finlândia é que os alunos estrangeiros não são avaliados apenas por suas notas, mas pelo “conjunto da obra” e as notas, então, seriam apenas um dos itens avaliados. Além disso, avaliam a relevância da sua formação como um todo e de que forma você poderia contribuir fazendo parte do corpo discente. A carta de apresentação, então, é fundamental para você convencê-los que é uma boa “aposta” e o resto do seu currículo vai completar sua apresentação.
Boa sorte!
Olá Bia. Gostei muito do seu texto, e foi muito útil para mim.
Completei o ensino médio, e eu gostaria de estudar fora do Brasil. A minha esolha foi estudar na Finlândia, mesmo nunca ter visitado, adorei o estilo de vida e tudo mais. Mas eu tenho uma dúvida. Você acharia melhor fazer uma faculdade no Brasil e depois fazer um mestrado na Finlândia, ou fazer a faculdade na Finlândia mesmo? Obrigada desde já.
Oi Bia, muito grata por seu compartilhamento! Ótimas informações e o curso me parece muito interessante. Quero me inscrever mas não estou encontrando no site da Universidade de Oulu, por exemplo, o formulário online, ou a lista de documentos necessários, enfim, toda a informação necessária. Vc sabe onde tenho acesso a isso, e como me inscrevo? Qual o primeiro passo da inscrição? Obrigada e parabéns!
Olá. A Beatriz parou de colaborar conosco. Procure os textos das outras colunistas no país para fazer sua pergunta.
Edição BPM