No mês de agosto completei dois anos fora do Brasil. A primeira mudança, para o México, em virtude do casamento com um mexicano, veio acompanhada da inesperada expatriação pelo trabalho do meu então esposo, poucos meses depois, nos trazendo à Argentina. Para resumir, foram três países e duas mudanças internacionais em um período de 6 meses. Eu, que no Brasil era uma típica workaholic com três empregos e uma carreira consolidada, tive pela frente o grande desafio de aprender a cuidar de uma casa e a não trabalhar – primeiro no México, e depois na Argentina.
O bombardeio de sentimentos e pensamentos que isso provoca são temas para outro texto, mas as dicas para lidar com essa realidade foram muito bem exploradas pela Thaís Lima, colaboradora da Colômbia, no texto “A vida sem trabalho (e sem filhos)”. Assim como ela sugere, meu primeiro ano na Argentina foi dedicado aos estudos: investi em especializações, em aprimorar técnicas e a ler bastante!
Com o tempo, porém, a inevitável inquietude de quem trabalhou desde os 18 anos começou a aparecer. Junto dela, a frustração, o medo e a insegurança de não saber como recomeçar, especialmente em um país que não é o seu, com outras línguas, outros costumes e outra cultura de trabalho. As dúvidas, desde onde começar a procurar até como as pessoas se vestem para ir a uma entrevista de trabalho, começaram a surgir, a crescer e a me deixar mais preocupada a cada dia. A sensação inicial (e equivocada!) era a de que toda a minha trajetória profissional não servia de nada. De que as empresas nas quais trabalhei não passavam de nomes desconhecidos no novo país. Os cursos feitos e as conquistas alcançadas nos antigos trabalhos pareciam, de repente, linhas a mais em um currículo traduzido. Infelizmente, e inevitavelmente, o fato de ser imigrante resultou, em algumas entrevistas, uma grande desvantagem para alguns empregadores, me deixando passos atrás de outros candidatos simplesmente pelo meu país de origem (e aquela ideia arcaica de que estaria tirando o trabalho de algum nativo).
Não obstante, a minha percepção sobre o momento que eu vivia mudou, realmente, (e sem querer parecer que estou jogando confetes), quando conheci o Brasileiras Pelo Mundo. Primeiro porque começar a acompanhar todas as dificuldades, relatos, superações e sucessos de tantas companheiras espalhadas pelo mundo me fez perceber que eu não estava sozinha, e que muitas brasileiras já haviam superado esse obstáculo e se encontravam realizadas profissionalmente em seus novos países. Segundo porque começar a colaborar com o BPM me trouxe o sentimento de pertencer a algo, de responsabilidade de trabalho e de ser frutuosa, alimentando as minhas energias para continuar buscando.
Finalmente, veio o primeiro emprego. E não veio de bandeja! Tampouco foi oferecido por alguém que me contatou através da página (ainda que isso não seja incomum entre outras colaboradoras). A verdade é que, independente de qual seja a sua crença ou a sua visão de mundo, o seu estado de espírito influi no seu dia a dia, na sua forma de encarar as batalhas e, de fato, te ajuda na vitória. A mudança de como meu me sentia me permitiu ter mais ânimo na busca laboral e a acalmar a ansiedade.
Começar a fazer parte do time BPM me ajudou com a autoestima e me trouxe mais segurança. Seguir as narrações de êxito das companheiras me trouxe energia e sabedoria para saber esperar.
Soube entender que a dificuldade era um momento, necessário para o crescimento e para chegar à etapa seguinte. Os “nãos” deixaram de me afetar tanto e foram constituindo ferramentas para evoluir e entender qual o melhor caminho a seguir.
Comecei a explorar todos os cantos em que poderia haver uma oferta de trabalho. Espalhei currículos e fui a diversas entrevistas – algumas com ofertas muito interessantes e outras com propostas que quase que me desanimavam outra vez. Deixei de buscar qualquer trabalho, já que fui percebendo que chegava muito qualificada para determinadas vagas, o que não causava a melhor das impressões. Passei, então, a focar mais na minha área e nas minhas habilidades. Finalmente, a primeira consultoria neste novo país! Logo, outra oportunidade, que terminou de selar a ideia de que tudo tem o seu tempo (e, quando chega, chega o melhor!).
Hoje, escrever para o BPM ficou um pouquinho complicado: já falta tempo! No entanto, tem um sabor diferente, de quem é grata, de quem persistiu e conquistou. Os desafios nessa vida, seja no Brasil ou no exterior, não deixaram e nem deixarão de existir, mas o coração se acalma e se enche de alegria por ter superado mais um obstáculo. Afinal, como já dizia Nietzsche “o que não me destrói, me fortalece!”. A minha gratidão ao BPM e o meu desejo de que essa seja só mais uma história êxito entre todas que já existem e estão para surgir entre nós, brasileiras pelo mundo (ou pelo Brasil)!
8 Comments
Sara,
Sou uma das colunistas do BPM e fiquei muito feliz em ler seu artigo.
Aproveito para parabenizá-la e desejar muito sucesso!
Um beijo,
Liliane
Muito obrigada, Liliane! Sucesso para todas nós! 🙂
Beijo,
Sara
Sara, que lindo! Muito feliz de verdade pela sua conquista.
Beijão 😉
Fabi, querida! Muito obrigada!!! <3
Temos que marcar em breve nosso jantar! Beijo!!!
A tua trajetória mostra o teu caráter e persistência e por isto te faz teres valor.Poderias escrever um livro de auto-ajuda para o trabalho e emprego.Eu conheço um lema Hei de vencer ! Fôste à luta e venceste,quado outras pessoas desistem.
Obrigada pelas lindas palavras Solon!! 🙂
Sara, muito feliz por você. Eu continuo na minha jornada em busca de trabalho e sinto e compreendo muito do que falou. Mas acho que com o tempo, você vai evoluindo e amadurecendo, se acalmando. Isso faz com que veja com mais nitidez as oportunidades ao seu redor e as agarre. Como dizem, o tempo às vezes é o melhor remédio. Sucesso! Obrigada por citar meu post, muito querida! Bjos
Obrigada a você, Thais! O tempo realmente é o melhor remédio – e é exato, preciso! Que você seja muito feliz e que o encontro da sua busca venha da melhor maneira! 🙂
Beijo