A minha chegada no México foi muito similar ao livro de Aldoux Huxley publicado no ano de 1932, o Admirável Mundo Novo (Brave New World) – não em relação aos comportamentos diversos que o livro retrata, e sim, em relação à nossa descoberta de leitor para com o livro. Então, como disse anteriormente (antes de ser interrompida por mim mesma), a minha chegada ao México foi como abrir um livro sem saber o que esperar.
Para recapitular, sou de São Paulo – capital, ou seja, bem acostumada com o caos, o cheiro maravilhoso de poluição, a música das impacientes buzinas e o senso de comunidade e sutileza que é tão presente em metade da população. Por mais incrível e amorosa que seja a minha descrição de São Paulo, estava me habituando a morar em uma cidade mais tranquila, pois passei um ano vivendo no Panamá com meu marido. E na verdade, logo após uns 8 meses morando naquela cidade linda e especial, me vi de pé no meio do shopping com meu marido no celular comigo dizendo que havia recebido uma proposta para mudarmos para o México.
Bom, tirando o impacto inicial que tive, pensei comigo mesma: vamos enfrentar a realidade e vamos “adelante”! Li tudo o que podia ler sobre o México em muitos blogues e peguei dicas da Internet, mas devo dizer que fiquei com os dois pés muito atrás.
A economia era diferente, os costumes eram diferentes, o nível de violência era alto. Essas foram as coisas mais ditas por pessoas que moram no Brasil. Assim, me armei para ir como um guerreiro se arma para ir para uma batalha. Fui para essa batalha, chegando dia 04 de fevereiro (2016) com a cara, a coragem e com “ganas de volver”/ vontade de voltar.
Logo que o avião começou a pousar fiquei num misto de excitação e tristeza, via uma cidade enorme, quase sem fim, com uma camada grossa de poluição; também via parques, áreas verdes incríveis, monumentos em vias enormes e casas espetaculares. Chegando ao aeroporto havia aquele mar de turistas esperando para passar na imigração. O que demorou em tempo compensou em qualidade de atendimento e gentileza, incrivelmente as pessoas nos tratavam muito bem, até mesmo porque todos os funcionários do aeroporto paravam para brincar com a nossa gatinha Pan, que estava mudando conosco.
Saindo do aeroporto tive a impressão: “Que aeroporto maravilhoso!”. Porém, no caminho para nossa cidadezinha, Huixquilucan, confesso que não tive as melhores impressões.
Estávamos ainda próximos do aeroporto e a Cidade do México parecia muito desgastada, quase uma mistura de Marginal Tietê com Avenida 23 de Maio, ou seja, nem bonita, nem horrível, apenas não do meu agrado. Enquanto avançávamos pela saída da cidade e mais na proximidade do que pode ser chamado de interior do México foi como um choque: nada do que eu tinha lido fazia jus ao que eu estava vendo; era uma beleza tão incrível que eu e meu marido não parávamos de comentar.
A cada metro que passava, mais bela era a paisagem. Se eu pudesse descrever seria como se você estivesse indo para Campos de Jordão (para quem é paulista) ou Teresópolis (para quem é do Rio). Era como se eu estivesse vendo um pedacinho do Brasil na minha frente, e devo dizer que essa visão fez com que eu me apaixonasse por completo por essa cidade. As árvores, cheiro de pinheiro e grama cortada, ar puro, a tranquilidade do trânsito, a gentileza e solidariedade das pessoas, a segurança e tudo que eu via me faziam desejar morar para sempre ali.
Não sei se com outras pessoas acontece esse sentimento, mas comigo é assim, existem lugares (cidades) que quando eu chego meu coração dispara, fico sem fôlego e sinto que é a cidade que eu vou amar. É empatia no mesmo segundo, se é que posso chamar desta forma. Foi isso que me aconteceu no Panamá e agora, em Huixquilucan. Adoro essa paisagem, esse clima interiorano, esse ar de cidade de montanha, é bom demais.
Hoje meu passatempo é tomar meu café da manhã olhando pela janela do meu apartamento na qual eu consigo admirar todos os dias esse amor que se instalou dentro do meu coração e que já não vai mais embora. É espetacular a nossa flexibilidade de conseguir sair de uma cidade que crescemos toda a vida e chegar em alguma outra cidade que é tão diferente e sentir que você pode ser mais feliz neste local novo.
É óbvio que ao iniciar essas jornadas o misto de felicidade e medo permeia sempre meu caminho; nunca sabemos o dia de amanhã, afinal. Mas a sensação de recomeçar, de fazer as malas e ir para o inesperado é o melhor frio na barriga que podemos sentir, é a sensação que a nossa vida esta sendo transformadas todos os dias e que estamos aqui para poder apreciar essa beleza da mudança como bem queremos.
Creio que tomei gosto pela mudança, por mais difícil que seja. Talvez mais que isso: criei gosto pelo frio que o inesperado nos causa e que nos faz continuar esperançosos!
2 Comments
Santa Deus! Que texto inspirador,quese pude sentir esse frio na barriga também.Obrigada por compartilhar suas experiências sobre o México.
Muita sorte e luz sempre.
Ótimo texto e inspirador!
Vou me mudar para Cidade do México mês que vem e queria saber se você teve dificuldades para levar sua gatinha, pois também vou levar a minha. Li no site do consulado que basta a carteirinha de vacinação. É só isto mesmo?
Desde já agradeço suas informações.