Chocolate. Ao leite, amargo, em barra, cremoso, 70%, puro, com frutas, no café. Hoje em dia há chocolate para todos os gostos e paladares, e é sem dúvida um dos alimentos mais consumidos no mundo inteiro. Poucos sabem, porém, que o chocolate já era adorado na antiguidade e era tido como alimento sagrado para os olmecas, maias e aztecas. Tamanho era o seu valor para estas civilizações que o cacau era, inclusive, utilizado como moeda (eu estaria ferrada, já que comeria minhas moedas de cacau antes de conseguir comprar qualquer coisa).
Tudo bem que o cacau e o chocolate como conhecemos hoje são coisas completamente diferentes. O chocolate da época ou xocoatl (nome dado pelos aztecas e que significa água amarga) era consumido apenas como bebida e seu sabor, é claro, era bastante amargo e marcante, já que não continha açúcar. Foi somente com a chegada dos espanhóis em terras aztecas e maias que foi acrescido de açúcar pelos colonizadores por acharem a bebida desagradável ao paladar europeu.
Em Oaxaca, até hoje encontramos uma versão atualizada do Xocoatl que pode vir mesclada com especiarias diferentes dependendo do seu gosto, podendo ser misturado com leite ou água. É o conhecido chocolate de Oaxaca, tão importante no preparo de pratos mexicanos como o mole negro (molho tradicional de chocolate com pimenta).
Porém hoje em dia no México o paladar já foi transformado pela colonização e a preferência é o chocolate ao leite ao melhor estilo europeu, sendo o consumo do chocolate de Oaxaca destinado mais à culinária local do que para o seu consumo in natura.
Acho interessante que seja na sua versão mais pura e amarga ou na versão doce e cremosa europeia o chocolate sempre teve o seu feitiço. Para os antigos era a bebida dos deuses, nos dias de hoje é um antidepressivo natural, um aliado ao combate a diversos malefícios a que estamos expostos no dia-dia, um companheiro nos dias nervosos da TPM, um amigo que levamos na bolsa que nos escuta sem falar nada etc. Mas a verdade mesmo— deuses e ciência que me desculpem— é que chocolate é bom demais e ponto final. As razões justificamos como melhor nos convêm, afinal o prazer, pelo menos para mim, não tem nada a ver com causa e efeito.
Bom, voltando a história, os espanhóis foram os responsáveis por trazer o chocolate que provaram durante a colonização mexicana para a Europa. Rapidamente este virou moda na corte francesa e se espalhou entre a elite europeia. Alguns suíços amantes do chocolate, entre eles François- Louis Cailler e Rodolphe Lindt, começaram a testar diferentes misturas até chegar ao que hoje conhecemos como chocolate.
Aqui na Suíça é possível visitar a fábrica da Cailler e saber como é feito o original chocolate suíço. Um passeio bacana, afinal foi uma das primeiras fábricas de chocolate a misturar o chocolate com a qualidade do leite alpino e açúcar.Recentemente visitei a fábrica, mas devo confessar que achei muito cheia. Se você não gosta de tumulto, evite. Mas se ama chocolate vale a pena para fazer a degustação de chocolates e passar na lojinha lá dentro para comprar todos os presentes para os amigos e familiares chocólatras no Brasil (não sem antes, claro, disfarçadamente, comprar umas duas caixas a mais só para você).
A grande especialidade suíça são os chamados pralinen, ou bombons em bom português. Em qualquer esquina encontramos padarias ou chocolateries que produzem os próprios pralinen e são realmente deliciosos. De champanhe, de caramelo com sal marinho, de frutas, de nozes, puro, com pretzel etc. O paraíso dos chocólatras tem endereço e é aqui na Suíça.
Mas o cacau é uma fruta de climas tropicais e portanto não há plantação de cacau na Europa. A maior parte do cacau utilizado na produção do chocolate europeu é oriunda da Costa do Marfim, na África. Por lá, chocolate não tem glamour e os trabalhadores têm uma vida bastante difícil para que possamos ter os nossos minutos de prazer nos deliciando com o chocolate.
Na verdade, acho incrível a quantidade de coisa que ingerimos sem nos darmos conta do seu árduo processo de produção. Muitos africanos são levados a trabalhar nas plantações de cacau com promessas de uma vida melhor simplesmente para chegar e descobrir que a realidade não é bem essa. Alguns são explorados desde a infância e levam uma vida realmente dura para que o cacau chegue às grandes fábricas.
Bom, como o assunto do texto não é a Costa do Marfim e o problema do tráfico infantil não vou desenvolver este tema, mas acho importante lembrar que o que comemos também tem sua história e nem sempre ela é tão glam quanto o produto que vemos já prontinho na vitrine.
Pensando nisso e na questão do valor nutritivo do chocolate, criou-se o chamado raw chocolate. É um tipo de chocolate vegano na sua forma mais orgânica possível, tipo uma volta ao Xocoatl da antiguidade, só que em barras. Destes infelizmente não tenho fotos porque aqui na Suíça a moda do raw chocolate ainda não pegou, de modo que nunca provei.
Super food ou não, o que fica claro é que o chocolate teve, tem e sempre terá, acredito eu, lugar de destaque na nossa alimentação. Afinal, dos mais hippies à Bridget Jones, quem resiste a um bom chocolate?
E você, viajante, ficou com vontade? Então inclua já o México e a Suíça no seu próximo roteiro de viagem, e de preferência deixe a culpa em casa. E se você ficou achando que aqui na Suíça só temos vaquinhas e chocolates, leia o meu texto sobre estereótipos aqui no BPM.
Até a próxima!
6 Comments
Que delícia de texto!! Em todos os sentidos!! Agora dá licença que vou sair pra comprar um chocolate!!!
Hahaha eu escrevi comendo, Joy!! Beijos e obrigada pelo comentário 🙂
ahhhhhhhh menina que fotos maravilhosas, li ..salivando ;p . Chamar atenção para a questão de como se dá a produção do que comemos, foi fantástico, para alertar sobre situações cruéis e desconhecidas de muitos. Isso me lembrou um programa que vi recentemente sobre a produção do algodão orgânico na Índia. Mas eu tenho um fé de que um dia o ser humano muda’ra para melhor.
Parabëns !!!
Oi Cintia! Pois é, acho muito importante prestarmos atenção em todo o processo de produção, desde a colheita da matéria-prima até o produto final nas lojas. Afinal, até nos dias de hoje, esse tipo de notícia não é muito divulgada. Não conheço muito sobre a produção do algodão na India. Fiquei interessada em ver. Qual o nome do documentário? Beijos e obrigada pelo comentário 🙂
Oi Fernanda,
Não me lembro o nome do documentário… 🙁 Mas era sobre a produção do algodão orgânico )e mostrava toda a contradição do processo, já que de tãp caro os próprios trabalhadores e produtores não possuem acesso ao produto. Bjs
O XOCOATL era a bebida dos deuses produzida pelos Aztecas com as sementes do cacau ( amêndoas), na realidade uma bebida muito usada por eles. E não um produto cremoso misturado ao leite e açúcar como atualmente conhecido. E suas sementes ou amêndoas é que eram usadas como moedas, para trocar pro mercadorias.