Minha experiência com o sistema de saúde romeno.
Dou início a este texto deixando claro que trata-se de um relato da minha experiência com o sistema de saúde romeno, sendo muito possível que outras pessoas tenham pontos de vista diferentes do meu, baseados em suas experiências. Informações gerais sobre a estrutura do sistema de saúde na Romênia já foram relatadas em outro texto, e podem ser lidas aqui.
Em minha realidade diária, tenho acesso tanto ao sistema público, quanto ao privado. Explicarei cada um separadamente:
Público
Acessível a todos que estejam com situação regularizada no país. Aqui não temos “postos de saúde” como no Brasil, mas temos clínicas privadas que são registradas com o governo como aptas a fazer o atendimento público.
As pessoas devem se cadastrar em um “médico de família” dessas clínicas para serem atendidas quando necessário. O médico de família é um clínico geral, e qualquer tratamento na rede pública sempre terá início por ele. Também é o médico de família que será o responsável por atestados médicos a serem entregues na empresa, em caso de faltas ao trabalho por motivo de doença.
Nesse quesito, me considero uma pessoa de muita sorte. Quando chegamos, escolhemos o médico de família levando em consideração apenas a localização da clínica, e não o profissional em si. Queríamos um médico perto de casa, pois achamos importante o fácil acesso quando necessário, mas não pensamos muito em quem seria o profissional (ainda penso que a localização tenha que ser considerada se você ainda não tem um médico de família).
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Quando chegamos, precisávamos de uma médica que falasse inglês, então encontramos uma que falava mais ou menos, e o atendimento sempre foi mais ou menos (por sorte, nunca tivemos nenhum problema sério que ela precisasse tratar). Passado um ano, houve uma troca de médicos na clínica, e nossa médica foi embora. Tivemos a opção de pegar o contato da nova clínica para nos mantermos cadastrados com ela, ou ficávamos na mesma clínica com a nova médica. Escolhemos a última opção, e não me arrependo em nenhum momento disso!
Ela é nossa médica de família até hoje, e nós a adoramos. Muito atenciosa, simpática, nos examina muito bem, e como estamos juntos há mais de 3 anos, ela conhece nosso histórico de saúde e não precisamos fazer aquele relatório completo em cada consulta.
Além disso, quando preciso de atendimento de algum especialista, também devo passar pela médica de família, explicar meus motivos, e ela me entrega uma guia de encaminhamento para que eu possa marcar a consulta com especialista sem custos. Através da nossa médica, já fizemos atendimento com ginecologista, otorrinolaringologista, dermatologista e psicólogo.
Em relação a exames solicitados pelos médicos, também é possível fazer muitos deles na rede pública, mas aqui é importante entender uma questão: todos os meses, cada clínica recebe do governo um determinado valor em dinheiro e deste valor são descontados os custos dos exames de pacientes da rede pública. No meu caso, já fiz exames de sangue na minha clínica sem custos nenhum. Teve a vez que precisava do exame, mas não era urgente, e minha clínica estava sem “fundos” (como chamam essa cota de dinheiro). Nesse caso, fui em outras clínicas, até que encontrei uma que ainda tinha fundo disponível para fazer exames sem custos. Outra vez, o exame era urgente, e como minha clínica não tinha fundo, acabei pagando particular. Em casos de não urgência em que não há fundo disponível, vale a pena perguntar na clínica em que data eles recebem o dinheiro do governo, e voltar nessa data. Assim, as chances de ter o valor do exame disponível são bem maiores.
Privado
Além do acesso ao sistema público de saúde, eu também tenho, pela minha empresa, acesso a convênio médico particular. A principal diferença entre o sistema público e privado é que no privado você não precisa passar por um clínico geral para ter acesso a um especialista, basta entrar em contato com a clínica e fazer o agendamento.
Confesso que foram poucas as vezes em que usei meu convênio, já que não tenho nenhuma clínica perto da minha casa, e também por confiar muito na minha médica de família e nos especialistas que ela recomenda. Tentei uma vez uma ginecologista e uma nutricionista que não gostei, e uma vez um oftalmologista, pois estava com fortes dores de cabeça sempre que sentava ao computador, e precisava de uma solução rápida (essa consulta resultou em eu começar a usar óculos… coisas que acontecem depois que atingimos os 30 anos – hahaha).
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Já meu marido tem pela empresa dele um convênio diferente do meu. Ele sofre de dermatite atópica severa, passou por diversos especialistas no Brasil, mas foi só aqui na Romênia, através da médica alergista do convênio dele, que conseguimos finalmente um tratamento que resultou em manter a dermatite sob controle. A médica foi muito atenciosa e compreensiva com o caso dele, e nos colocou em contato com o médico chefe do departamento de alergias no hospital universitário de Bucareste, um profissional muito respeitado e referência na área que aceitou tratar o caso dele pessoalmente. As consultas eram de graça, e pagamos apenas o valor dos medicamentos receitados, valor este que não chega nem perto dos valores que gastamos com tratamentos e consultas no Brasil.
O objetivo deste texto é relatar a minha experiência e da minha família com o sistema de saúde daqui, e mostrar que tanto o público quanto o privado têm seus lados positivos e negativos. Conheço pessoas com relatos semelhantes ao meu, assim como conheço pessoas com experiências completamente opostas. O mais importante, na minha opinião, é sempre buscar um profissional de confiança, pois com saúde não se brinca.