Minha experiência em hospital público na Romênia.
Se você segue meus textos, deve lembrar que no mês passado comentei sobre minha experiência com o sistema de saúde aqui na Romênia. Caso não tenha visto, clique aqui para saber mais. Dando sequência nesse assunto, conto sobre como foi ficar internada em um hospital público em Bucareste. Sempre ressalto que este relato representa a minha experiência, que certamente não foi a mesma de outras pessoas.
Diagnóstico
Ao menos uma vez por ano vou na ginecologista para exames de rotina. Durante meus exames do ano passado, a médica detectou algumas questões atípicas (não vou entrar em detalhes), fiz tratamento, mas a partir de novos exames no início deste ano ela resolveu fazer uma biópsia para nos certificarmos que não era nenhum problema sério. Então que veio a notícia que tanto temia: para este procedimento, eu deveria ficar internada por 48 horas.
Tentei ficar tranquila, mas por dentro estava preocupada. Ouvi falar sobre problemas de infecção hospitalar, relatos sobre como você só é bem atendido aqui se pagar um valor “por fora” para médicos e enfermeiros, além de outras questões. Porém, eu só confio naquela médica, e ela só trabalha em um hospital público da cidade. Por conta disso, escolhi fazer o procedimento com ela e torcer para dar tudo certo.
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Preparação
Uma vez confirmada a necessidade da biópsia, marquei uma consulta com a médica de família, afinal praticamente todo tratamento de saúde coberto pelo Estado deve passar inicialmente por ela. Expliquei o ocorrido e recebi a guia de encaminhamento para internação e uma guia para fazer exames de sangue para o “pré-operatório”.
A ginecologista me informou a data do procedimento, e neste dia fui ao hospital em jejum, às 7h, e esperei para me registrar. Apresentei a guia da médica de família, documentos e exames de sangue. Fui encaminhada a uma 2a fila, para pagar uma taxa de 10 lei (aproximadamente R$ 10,00) para o guarda-volumes. Ali, tirei a roupa e calçados que estava usando e vesti um pijama e chinelo limpos (que trouxe de casa). Essa roupa “da rua” ficou guardada ali, eu recebi uma camisola de hospital, e esperei mais alguns minutos até ser chamada.
Passados uns 10 minutos, uma enfermeira chamou a mim e a outra mulher. Ela nos encaminhou até o quarto em que ficaríamos internadas, que tinha 5 camas, TV e geladeira. Todas as camas estavam disponíveis, e pude escolher em qual ficar. Escolhi uma que tinha uma tomada na cabeceira, para poder carregar meu celular. E foi nessa cama que fiquei, até a hora do procedimento. Conversei um pouco com minha colega de quarto, que estava ali pelo mesmo motivo que eu, e no restante do tempo fiquei deitada, lendo e assistindo séries no celular.
Procedimento
Às 12h, uma enfermeira veio nos buscar para irmos até o centro cirúrgico. Foi uma boa caminhada onde pude observar um prédio antigo, mas bem conservado. Ao chegarmos no centro cirúrgico, aguardei mais uns minutos, até que minha médica me chamou. Na sala estavam presentes minha médica e outras 3 enfermeiras. Logo que deitei, tomei uma anestesia geral, e só acordei já do lado de fora da sala. Foi tudo muito tranquilo.
“Depois”
Não lembro exatamente o horário, mas acredito que por volta de 15h fui levada de volta ao quarto em uma cadeira de rodas. Lembro de ter um pouco de fome (estava de jejum), mas o efeito da anestesia era forte, então acabei mandando notícias para a família e dormi.
Ao acordar, notei que minha colega de quarto comia um sanduíche que ela trouxe de casa. Uma enfermeira veio até o quarto verificar minha pressão, aproveitei para perguntar sobre visitas e ela me informou que eu não poderia receber visitas no quarto, porém poderia descer até a recepção para ver outras pessoas. Isso porque aquele hospital era uma maternidade, há pouco tempo houve um surto de doença em recém-nascidos de outra maternidade na cidade. Então, por precaução, a circulação de pessoas “de fora” foi barrada.
De tarde, recebi outras duas colegas de quarto, e notei que todas traziam uma sacola de comidas – foi quando percebi que provavelmente não receberia comida ali. Liguei para meu marido, informei sobre a visita e pedi que trouxesse coisas para comer. Ele veio no início da noite, após o trabalho, com uma sacola com comida para uma semana. Conversamos um pouco, até que voltei ao quarto.
A noite passou tranquilamente, comi, fiquei no celular, dormi, e no dia seguinte, logo cedo, uma senhora limpou cuidadosamente o quarto e uma enfermeira veio se certificar de que eu estava bem. Foram duas noites no hospital, pois precisava ficar internada por 48 horas após a anestesia. E na hora de ir embora, reencontrei minha médica, que me examinou para ver se estava tudo bem antes de me liberar.
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Impressões gerais
Sobre a comida, duas vezes enquanto eu dormia fui acordada com gritos de uma enfermeira que abria a porta, gritava e saía. Na terceira vez, estava acordada e entendi que ela gritava “a refeição está servida!”, e então percebi que deveria ir por conta própria até o refeitório que vi apenas uma vez quando andava até o centro cirúrgico, e lá poderia comer. Obviamente que eu não lembrava como chegar lá, e como tinha comida o suficiente comigo, nem me dei ao trabalho (a maioria das pessoas faziam o mesmo).
Os quartos não possuíam banheiro, mas do lado de fora havia um banheiro grande que atendia a alguns quartos do andar – vasos sanitários, chuveiros e pias.
Apesar do receio de ser mal cuidada ou de pensar que teria que pagar “propina” para lembrarem da minha existência, a internação correu bem. Levei dinheiro comigo por precaução, mas não paguei nada a ninguém. O hospital não tinha um atendimento “humanizado” como aconteceu comigo nas poucas vezes que fui internada no Brasil, mas não foi mal. Fiquei em um quarto limpo, com uma estrutura simples que atendia minhas necessidades. Não paguei nada pela internação nem pela biópsia (exceto os 10 lei para guardar minhas roupas). Algumas semanas depois, a médica me ligou dizendo que tinha recebido o resultado da minha biópsia, e que tudo estava bem.