Continuando o assunto sobre ser au pair iniciado AQUI, hoje contarei como foi a minha experiência com duas famílias diferentes em cidades diferentes.
O ano de 2011 foi um ano importante em minha vida. Decidi ficar um ano fora do meu país e isso definitivamente me deixou inquieta. Foram meses lendo blogs sobre o assunto, pesquisando agências, indo a feiras de intercâmbio em São Paulo, até decidir colocar em prática tudo o que eu havia pesquisado por meses.
Após várias semanas de procura, enfim encontrei a família que achei ideal. Seguindo a dica de antigas au pairs fiz entrevistas pelo Skype, mandei minhas dúvidas por email e após um mês de conversas, eles pediram para eu ser a futura intercambista deles.
Cheguei em Gex nos Alpes franceses no dia 8 de janeiro de 2013, debaixo de muita neve! Gex é a última cidade antes de começar a estrada para subir no Mont Jura, de onde lá do alto podemos ver o Mont Blanc.
Cheguei ao aeroporto de Genebra (11 km da fronteira suíça até a cidade francesa) e lá estavam o pai e o menino mais novo, com 2 aninhos recém completados, segurando uma placa com meu nome. Lembro que saí de SP a +35°C e menos de 24h depois estava congelando a -1°C.
Em Gex vista da janela do meu quarto logo na semana que cheguei (foto arquivo pessoal)
Foi um início muito complicado, mesmo sendo minha terceira vez na Europa. Apesar de ter feito 2 anos de curso de francês no Brasil eu ainda não entendia praticamente nada do que a família falava comigo. Isso acabou gerando um hábito que não recomendo para ninguém; começamos a falar somente em inglês. Com meu francês fraco eu acabei tendo muitos problemas com os dois irmãozinhos, de 2 e 5 anos, e com a mudança na alimentação perdi 5kg só no primeiro mês – o que banir a Coca-Cola e a fast food não faz em nossa vida, não é mesmo?
O frio daquela região me deixou deprimida e foram meses de descobertas; tudo novo, medo de pegar ônibus sozinha mesmo a cidade tendo apenas 10 mil habitantes, o problema da língua, medo até de falar com os pais das crianças – um grande erro, visto que não somos franceses e nem temos o francês como língua materna. É normal errar, é normal gaguejar.
Em maio decidimos que eu não ficaria até dezembro conforme o combinado, eu sairia no início de agosto.
Foi novamente uma semana de decisões: fico e acho outra família ou vou embora? Pensar muito e ver o quanto cresci em poucos meses na França me deu forças para continuar por aqui e manter meu sonho de falar fluente o francês. Aprendi muita coisa com esta família. Hoje em dia vejo que eu poderia ter feito muito mais mas não fiz, pelo fato de ser novata em um país onde até então eu só havia sido turista.
Essa primeira experiência me serviu de teste, pois aprendi sobre a alimentação infantil francesa, sobre os desenhos animados para os pequenos francesinhos, como me vestir para uma tempestade de neve, a pilotar um carrinho de bebê com neve a até 15cm de altura e, principalmente, se eu queria aprender o francês de verdade, não seria falando inglês que eu atingiria minha meta.
Em setembro de 2013 comecei uma nova vida, desta vez em Lyon, a capital dos alpes franceses. Troquei 2 irmãos por 3 irmãzinhas e decidi que faria tudo diferente. Aboli o inglês da minha vida, tentei me adaptar ainda mais aos costumes do país e a aceitar que nem todo mundo quer ser meu amigo ou entende meu sotaque.
Os pais eram maravilhosos e me ajudavam muito com minhas dúvidas de gramática francesa, as meninas adoravam cozinhar e me ensinaram muita coisa, a bebê de 13 meses virou minha companheira de todas as horas e perdi o medo de coisas bobas como antender ao telefone (vai que não entendiam meu sotaque, não é?), pedir informação na rua e pedir o menu do dia no restaurante. Ficamos juntos durante todo o ano letivo 2013-2014 e até hoje nos vemos, pois moramos perto. Posso dizer com muito carinho que eles são minha família francesa por adoção.
Minha primeira foto em Lyon, vista de dentro da ópera. (foto arquivo pessoal)
Aprendi muito durante o 1 ano e meio como au pair, evoluí como ser humano, aprendi os cuidados infantis franceses com 4 pais incríveis, venci medos e enfrentei cada obstáculo que apareceu na minha frente. Não digo que eu não gostei de minha primeira experiência, mas digo que mesmo achando que eu estava preparada, a verdade é que eu ainda não estava. O choque cultural foi muito forte no começo e isso eu só consegui enxergar depois de meses por aqui.
Indico para todos que me perguntam se é um bom intercâmbio. Cada experiência é única e acrescenta muito em nossas vidas. Morar com uma família local, viver o dia a dia deles, ter uma refeição tradicional, aprender gírias locais, conhecer mais sobre a moda do país, a música do momento que os adolescentes escutam, tudo isso é de um valor inexplicável. Sempre vai ter aquele momento de solidão, de saudade de casa e da família, da vontade de comer arroz com feijão mas, no final do seu ano como au pair, tudo isso vai ter valido a pena. Afinal, experiência de vida nunca é demais.
6 Comments
Olá Jéssica. Fiquei muito interessada com o programa au pair, mas logo desisti pois tenho 16 e nunca na minha vida tive que cuidar de crianças, então eu não tenho horas nenhumas para ostentar. Eu li uma vez sobre cuidar de velhinhos na França e queria saber isso, se você sabe um pouco mais ou se já ouviu falar dele. É o que mais me atraiu, mas também tenho medo que peçam horas cuidando deles, e isso eu também não tenho. Enfim, francês eu sei um pouco e acho que posso sobreviver com ele.
É isso.
Vou dar uma olhada no seu blog.
Abraços.
Ola!
Com sua idade vc pode já ir se preparando para ser uma au pair com 18 anos, nesses 2 anos por exemplo vc pode fazer estagios em creches, fazer baby sitting para familias conhecidas… e assim obter experiência, o que vc acha?
Sobre cuidar de velhinhos o que eu conheço é o trabalho de Auxiliaire de vie sociale, algo como traduzindo: auxiliar de vida social. Vc vai até a pessoa idosa e faz companhia, ajuda nos afazeres da casa, prepara a refeição, o acompanha ao mercado… mas para isso é preciso ter um CAP de Auxiliaire de vie sociale (o CAP é um diploma como um ensino técnico brasileiro, com 16 anos no colégio vc já pode iniciar), ele é o nível mais simples no ramo auxílio social. Mas para trabalhar oficialmente com isso vc tem que ter esse diploma de CAP para exercer então vc não viria como intercambista e sim com visto de trabalho.
Já ouvi falar de vir como estudante e procurar agências que alocam estudantes para morar com pessoas idosas e não pagam aluguel porém fica a mercê do idoso: o que vira o trabalho do CAP citado logo acima. Vc não paga aluguel mas fica responsável pelo idoso. Não conheço ninguém que faça isso aqui na França mas uma vez na minha escola de francês me recordo da professora falar sobre isso. Mas isso também é para maiores de idade afinal vc fica responsável pelo idoso então acho que o au pair seria uma boa idéia afinal vc ainda ganha uma mesada no mês, não acha?
Abraços
Ola o oque voce teve com mais dificuldade? O idioma? … E aqui no Brasil foi dificil de encontrar uma familia au pair? .. Eu tenho 16 anos e estou me interessando muito nesse sistema, sempre fui apaixonada pelo país, faço curso de francês a 4 anos, sou escoteira então trabalho muito criança e sou apaixonada ,faço curso de nutrição aqui no Brasil… Como você fez com a faculdade ? Foi difícil de encontrar ? Se puder responder a essas duvidas … Obrigada desde já
Olá, adorei o post!
Qual curso você fez em Lyon?
Oiii Jessica, obg pelas dicas !! Eu gostaria de saber se você teve alguma entrevista para obetenção do visto, pq eu li em muitos lugares sobre ter o francês intermediário, mas já vi casos de muitas meninas com o francês bem básico, que seria mais ou menos o que eu faria…
Olá Dayane,
A Jéssica Martins parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na França.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM