Aos 24 anos, recém-formada em Comunicação, participei de um processo de seleção da AIESEC para fazer um estágio no exterior. Muitos candidatos, provas, dinâmicas de grupos e entrevistas depois, recebi a notícia que mudaria o rumo da minha vida para sempre: fui uma das 10 pessoas selecionadas naquele ano, dentre 300 candidatos, para participar do programa.
Após uma outra etapa de seleção, consegui um estágio no Vale do Silício (Califórnia) para trabalhar no Yahoo!. A empresa estava iniciando sua expansão internacional, lançando os serviços em vários idiomas e precisavam de pessoas nativas para trabalhar no atendimento respondendo e-mails e resolvendo pepinos de senha, login, conta de email invadida, etc.
Fui pensando em passar somente 6 meses, no segundo mês, já encantada com a experiência de morar no primeiro mundo, trabalhar numa empresa “.com” cheia de liberdade e viver rodeada de amigos do mundo inteiro, solicitei uma extensão e meu estágio foi prorrogado para durar 18 meses.
Um dia o meu chefe no Brasil me ofereceu uma vaga permanente, com um pacote de benefícios fantástico, para trabalhar em São Paulo. A vaga era para iniciar dali uns meses. Aceitei puramente pela razão. Se fosse seguir meu coração teria ficado nos EUA até o final do meu estágio. De volta ao Brasil após 14 meses na Califórnia, sofri um baita choque cultural ao inverso.
Eu já estava morando e trabalhando em São Paulo há 4 anos quando conheci meu marido. Ele havia feito um intercâmbio em Sydney alguns anos antes e logo descobrimos que tínhamos também em comum o desejo de morar em outro país. Por um bom tempo tentei ser transferida para algum dos escritórios dos EUA, mas não tive sucesso.
Em 2005 nos casamos e fomos passar nossa lua de mel na Austrália, no esquema mochileiros. Aproveitamos a viagem para consultar uma agente de imigração experiente e saber se tínhamos os requisitos necessários para conseguir o visto de Residente Permanente. Este visto permite morar e trabalhar aqui por tempo indeterminado e dá acesso ao sistema de saúde do governo, escolas públicas e também aos programas sociais e de renda do governo. Você só não pode: votar, ter passaporte australiano ou trabalhar em cargos públicos. Após 4 anos vivendo na Austrália continuamente, sendo pelo menos 1 ano como residente permanente, pode-se solicitar a cidadania. As regras da imigração mudam a cada ano. Todas as informações sobre os tipos de visto disponíveis estão no site da imigração (em inglês).
Voltei da lua de mel com a certeza de que era na Austrália que queria construir minha vida. Após meses de stress atrás dos documentos para o processo (provas de inglês, traduções juramentadas, cartas de recomendação, validação do meu diploma, etc.) em junho de 2006 enviei nosso pedido de visto. Detalhe: isso foi três dias antes da nossa categoria de visto ser extinta. O conhecimento prévio da nossa agente de imigração foi determinante para conseguirmos o nosso visto. Durante os 9 meses seguintes aguardei a resposta do visto enquanto planejei a mudança para a Austrália.
Um dia, a minha tão sonhada transferência de escritório se concretizou e eu consegui um emprego no Yahoo! Australia, em Sydney. A minha agente de imigração soube que eles estavam com vagas abertas e me avisou. Mas, como o visto de residente ainda não tinha saído (os prazos variam – o nosso tinha previsão de levar entre 12 e 18 meses), o Yahoo! bancou o meu “sponsorship visa” – o visto 457. Este é um visto de trabalho, bem mais rápido de conseguir do que o de residente, mas eu só poderia trabalhar no Yahoo! Austrália e não teria direito aos benefícios fornecidos pelo governo.
Embarcamos rumo a Sydney na Páscoa de 2007. Morei em Sydney até julho de 2011. Nesses 4 anos tive minha primeira filha lá, e passei o maior susto da nossa vida quando ela nasceu muito pequenininha e ficou 3 semanas no hospital. Ajudei meu marido a fundar uma revista bilíngue para brasileiros que teve 37 edições impressas. Fiz amigos realmente INCRÍVEIS e nos mudamos de casa 4 vezes em 4 anos.
Por razões familiares, retornei ao Brasil em 2011. Nesses 5 anos de Brasil, tive meu segundo filho, estudei um MBA e tive experiências novas de trabalho. Passamos Natal e feriados com a família e amigos. Foi muito bom estar em casa, comer coxinha, empadinha e pastel de feira com garapa; ficar perto de quem a gente ama. Meus filhos agora têm vínculos com os avós, primos e tios. Foi uma delícia.
Mas sofri também um segundo choque cultural ao inverso e esse durou mais tempo do que o primeiro. Levei uns 2 anos até acostumar-me ao Brasil: ter de digitar os milhões de dígitos para pagar um simples boleto bancário, passar pelo constrangimento da porta giratória com detector de metais, ir ao cartório reconhecer firma, vivenciar greves (dos correios, dos bancos, do transporte público), pagar juros altíssimos por causa da greve, tudo isso me causava muito desconforto e irritação.
Teve também o medo da violência. Nossa casa parecia uma fortaleza – tinha alarme, grades e travas de ferro nas portas. Faz um ano que fomos assaltados. Nos levaram absolutamente tudo que tínhamos de valor. Chamamos a polícia duas vezes. Estou esperando a viatura até hoje. Depois do assalto, a nossa fortaleza virou uma Alcatraz – colocamos cerca elétrica e câmeras por todos os lados.
Faltou-me esperança e fé. Sou uma típica information junkie e a quantidade de manchetes sobre latrocínios e escândalos de corrupção me assustava. Vivenciar os efeitos da recessão econômica, receber o seguro desemprego que não pagava nem o aluguel…
Voltei para a Austrália este ano. Desta vez a história está sendo bem diferente: vim com 2 filhos na bagagem e sem emprego garantido. Em compensação, como já tenho o visto de residente, estamos recebendo um suporte do governo até nos estabelecermos definitivamente.
Moro em Brisbane, a capital do estado de Queensland e a terceira maior cidade do país. A localização é privilegiada – estamos entre a Sunshine Coast e a cidade de Gold Coast. Estou perto de praias, zoológicos e parques de diversões.
Moramos num condomínio de casas e meus filhos passam o dia na rua brincando de bola ou bicicleta com os vizinhos. Temos vizinhas da Nova Zelândia, África do Sul e de Samoa. Minha casa parece casa de praia nas férias, pois vive aberta e cheia de crianças.
Estou procurando trabalho fixo e fazendo o que aparecer. Minha filha mais velha já está na escola pública e o pequeno começa no ano que vem. Ela tem aulas de italiano e mandarim, além das aulas particulares de inglês. O currículo é individualizado e acompanha o desempenho do aluno. Este mês ela começa na natação, que aqui faz parte do currículo escolar.
Eu estou estudando algo totalmente diferente. É um curso de extensão – pago pelo governo – voltado para a área de educação. Estou me redescobrindo profissionalmente já que meu campo de trabalho está em Sydney. Vim para cá com o objetivo de me reinventar mesmo. Tive medo de mudar, mas não me arrependo.
Ah, estava quase esquecendo de contar que o custo de moradia aqui na capital do “Sunshine State” é muito menor do que em Sydney ou Melbourne e que os habitantes do estado são chamados de “Queenslanders”.
Como não amar um lugar desses?
15 Comments
Demais Tasla!!! Estive em Brisbane durante minha passagem pela Australia e fiquei surpreso com a quantidade de prédios modernos. Adorei a cidade!!!
Desejo muitas felicidades e sucesso!!!
Oi Leandro, Verdade, a cidade está se modernizando bastante. No centro a gente vê guindastes aos montes no skyline. Vc morou aqui ou veio a passeio? Eu moro em um bairro bem ao norte, chamado North Lakes. Tudo por aqui é novo, uma área de expansão imobiliária, muito boa para familias pois tem escolas boas, parques. shoppings, mercado, tudo. Quem mora em Sydney tem um certo preconceito contra Brisbane porque dizem que aqui não tem praia, mas eu já descobri uma bem linda a 12 km de onde moro! Obrigada pela mensagem e sucesso pra vc tb!
Que legal tua historia Tasla! Idas e vindas e muitas experiências enriquecedoras. Ainda tens o contato da tua agente de imigração? Se puder compartilhar inbox, agradeceria muito!
Abraço e boa sorte na jornada!
Oi Angelica, sim, minhas idas e vindas me ensinaram muito, principalmente a ter paciencia e a aceitar o que a vida nos dá com gratidão; Tenho o contado da minha agente sim, não sei se posso mencionar publicamente aqui no comentário mas me acha no facebook e me manda uma mensagem privada que eu te passo o nome da empresa dela e o site. Um abraço e sucesso pra vc!
Valeu Tasla! Mesmo sendo primo, não conhecia a história toda. Boa sorte para você, pro Rick e para as criancas nessa nova fase da vida. Tudo de bom. Abraços do Zé Roberto.
Oi primo! Pois é, a gente morando longe não consegue colocar os assuntos em dia mas esta é nossa história. Pior que agora moramos mais longe ainda! 🙂 O Digo e a Cinthia estão na Alemanhã ainda? A gente embarcou no mesmo dia, olha a coincidencia! Obrigada e um beijão pra todos vc, inclusive pra tia Téi e pro tio Roberto.
Oi Tasla! Vi seu documentário agora. Adorei sobre tudo que escreveu. Estou querendo morar na Austrália. Minha família quer morar em Brisbane por causa do clima. Eu quero morar em Melbourne porque sou apaixonada com a cidade… Mas o que mais me incomodaria é o fato de já ter lido varias notícias de aparecimento de cobras em lugares públicos ou até mesmo dentro de casa.
Você poderia me esclarecer algo sobre isso?
Já aconteceu algum episódio a respeito disso com você?
Abraços
Oi Ana Paula, obrigada pelo seu comentário! Melbourne é um lugar fantástico e muito charmoso, mas vc pode sempre ir visitar, tem muitas agências de turismo por aqui, somos bombardeados de promoções para Melbourne, Adelaide, Bali, etc. Mas sobre as cobras, o que acontece é o seguinte: Aqui na Austrália tem muito verde. MUITO. Ontem vi um post de uma amiga que mora a 15 km de onde moro, e no quintal dela tinham cangurus brincando pq ela mora perto de uma reserva. Mas não se preocupe, os animais peçonhentos ficam longe da gente. Isso que a gente vê nas notícias acontece muito mais em áreas rurais, nas cidades, principalmente em uma cidade nova como Brisbane, nunca soube de nada (a menos que a casa seja muito velha e suja). Assim como Sydney, tudo aqui é espalhado, então existem bairros e bairros em meio a montanhas, bosques e matas. Bom, mas a minha amiga já viu uma cobra no parque que a gente vai aqui no nosso bairro. Mas dentro de casa só barata e formiga mesmo! Tem muitas aranhas nas árvores e áreas verdes tb.
Oi Tasla! Sensacional o seu texto, a nossa realidade no Brasil está cada vez pior. Me identifiquei com tudo que citastes do Brasil, infelizmente o nosso país está em declínio. Decorrente disso iniciei meu planejamento no ano de 2016 para a Austrália(Brisbane), se Deus quiser estarei chegando em abril/2018, para estudar e trabalhar.
Vejo muitas pessoas falando de animais, insetos…que de certa forma não são tão comuns aqui, mas com certeza prefiro viver entre eles aí, do que no meio da corrupção e violência no Brasil.
Parabéns pelo Blog!!
Abraço,
Oi Thiago, super obrigada pelo seu elogio. Eu entendo totalmente o que vc diz com respeito ao Brasil, essa frustração e descrença de que as coisas vão mudar foi o que nos motivou a deixar nossas famílias e amigos para trás e embarcar nesta nova vida, longe de todos eles. Quanto aos animais e insetos, super tranquilo. Eles aparecem muito em casas mais antigas, ou não muito limpas e em propriedades rurais que têm aos montes aqui. Aqui tem muita área verde, praças, parques, o terreno das escolas é simplesmente gigante, tem campos de rugby, tudo muito, muito verde mesmo, então é por isso. Ah, e os morcegos da cidade são frutíferos. 😉
Olá Tasla, muito bom essas duas informações, estou me planejando para ir morar em Brisbane com minha família, como você já tem muita experiência, poderia indicar algum agente de imigração, seria de grande ajuda, muito obrigado.
Oi Luis Henrique, fico feliz que minhas informações tenham te ajudado. Estou em Brisbane há um ano e AMO esta cidade. Sobre a indicação de agente de imigração, tenho 2 ou 3 que eu conheço e confio. Agora se vc estiver procurando agencia de intercambio para procurar um curso e estudar aqui, também conheço algumas de confiança para idicar. Me mande uma mensagem através da minha página do Facebook que conversamos por lá tb! https://www.facebook.com/morarnaaustraliabrasil
Tasla, obrigada pelo texto. Fantástica a sua experiência! 🙂 Senti o mesmo quando morei nos EUA. E olha que foram só três meses. Mas agente realmente acostuma com as coisas funcionando.
Estamos planejando morar em Brisbane, mas como residentes permanentes. Meu marido está com propostas para ir. Você ainda mora por aí?
Como temos dois filhos, queria saber da experiência de vocês com as crianças, especialmente em relação à escola. Com crianças, fico com receio da questão da adaptação e também do preconceito. Isso acontece aí?
Beijos e obrigada!
* a gente. Esse “corretor” acaba comigo kkkkkk
Olá Camila,
A Tasla La Pastina Worth parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Austrália que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Também temos o site https://www.brasileirinhospelomundo.com/ veja também se há alguma mamãe vivendo na Austrália para te ajudar.
Obrigada,
Edição BPM