Não é segredo para ninguém a minha paixão por moda e o que ela comunica. Sempre que estou em algum lugar ou cidade diferente presto atenção no estilo das pessoas, seus comportamentos, seus hábitos, o jeito de vestir, alguma dobra ou um toque diferente que caracterize e forme alguma referência daqueles que ali vivem. Falo, em especial, na moda de rua ou street fashion.
Aqui em Bruxelas, não poderia ser diferente. Desde que cheguei, acompanho o estilo das pessoas e seus “belgicismos” – termo usado por belgas para as coisas daqui, seja a moda, as gírias, o jeito de andar ou qualquer coisa que venha deles.
Demorei um pouco para entender certas diferenças porque, na cidade, tem gente de todos os lugares do mundo, então não foi fácil no início. Hoje percebo de longe quem é belga e quem não é apenas pelas roupas.
Os diferentes comércios
Analisando melhor, começo diferenciando os três tipos de comércio do país: a moda pronta e acessível das grandes lojas; os belgicismos e a moda autoral das marcas locais; e o luxo e a moda cara da alta costura.
Moro em Ixelles, região de Bruxelas que faz parte das 19 comunas e compreende a capital. O centro, onde está o centre-ville, a Grand Place e a cidade antiga, chamamos de Bruxelas, ou Bruxelles. E ao redor existem as comunas que, para nós brasileiros, são como grandes bairros, mas chamaremos de comuna. Cada uma delas tem sua prefeitura, suas escolas, a praça e o pequeno centro.
Cada centrinho é cheio de lojinhas e grandes magazines ou fast-fashion: Zara, H&M, Primark, Bershka, Six, Celio, Eran, Benetton, New Look, Spirit, Mango, C&A, Promod, Naf Naf, Ici Paris e mais uma infinidade de marcas que completam esses redutos comerciais com suas roupas trends e muita promoção. A rua mais famosa de moda pronta está localizada no centrinho de Bruxelas, no centre-ville, a Rue Neuve. São mais de 3 quadras cheias de lojas, galerias e um intenso movimento de pessoas. As lojas fecham apenas aos domingos.
Próximo a eles, geralmente nas vielas transversais, encontramos o “feito à mão”, com marcas autorais e comerciantes belgas, trabalho e assinaturas de designers locais carregados de belgicismos. São acessórios, roupas, moda vintage, brechós e objetos que têm a cara dos belgas: cores, fachadas e decoração sóbrias, simplicidade e simetria nas criações. Temos muitos estilistas reconhecidos por aqui, entre eles Dries Van Noten, Martin Margiela, Raf Simons, Ann Demeulemeester e a icônica Diane Von Furstenberg, essa com lojas no Brasil.
Para arrematar o comércio, as lojas de alta costura ou Haute couture estão ancoradas em uma grande avenida chamada Boulevard de Waterloo, em suas maisons de maître (mansões antigas da alta burguesia, de 3 a 5 andares) reformadas.
Marcas como Chanel, Louis Vuitton, Salvatore Ferragamo, Giani Versace, Dior, Armani, Hugo Boss, Karl Lagerfeld, Gucci, Tiffani, Jimi Choo fazem parte da moda luxo da cidade. Muitas mulheres e modelos batem seus saltos de um lado para o outro, carregando grandes sacolas.
Contextualizando, os belgas usam um pouco de tudo isso e adoram umas comprinhas, mas vejo que há uma preocupação com as lojas locais. No entanto, existem muitas pessoas se esbaldando e lotando os magazines; por isso, percebo nas ruas uma padronização do estilo por haver muitas lojas produzindo a tendência da revista ou da estação a um preço muito acessível. Porém observo que a maioria das pessoas que movimentam as compras dos magazines são geralmente turistas ou imigrantes que vivem aqui na cidade.
Vestindo-se como uma belga
A mulher belga é austera, em minha opinião. Vejo dois estilos bem distintos. O primeiro é o da mulher mais jovem, que mistura o jeans sequinho, uma camisetinha básica, casaco pesado por cima e tênis (sempre tênis, vai da aula à happy hour). Aqui o tênis faz a vez da tão usada sapatilha, e o jeans vem acompanhado de uma ou duas dobras, deixando a canela à mostra. Estampas, quase não usam. Não sei se é por viverem em um país frio, onde chove quase todos os dias, mas o máximo que vejo por aqui são algumas listras e bem discretas.
O segundo estilo vem mais feminino, porém comportado. Mulheres jovens ou mais maduras usam os vestidos como peça coringa. Em cortes retos e tecidos com textura, os vestidos acima do joelho misturam feminilidade e sofisticação. Esse estilo é sempre composto por sapatos de salto, scarpins modelo stiletto, meia-calça e um casaco pesado que, frequentemente, acompanha o comprimento do vestido.
Nos dias em que a chuva parece não querer ir embora, o sapato é substituído por uma bota, que poderá ser de cano curto, médio ou longo e o casaco por um trench coat. É simples assim. E, para finalizar, um colar longo ou uma echarpe. Às vezes, encontro alguma corzinha misturada a tanto tom neutro. Geralmente é uma peça mais viva, mas é certo que as temperaturas estão mais elevadas que de costume!
Mesmo com tanta simplicidade e discrição a mulher belga está sempre preocupada com o visual e adora entrar de loja em loja até encontrar algo que a agrade. Percebo que elas misturam algumas peças básicas compradas por um baixo valor a peças mais elaboradas e com assinatura. Complementam o look com acessórios caros e uma boa bolsa Chanel, Vuitton ou alguma outra marca de luxo! Mas elas gostam mesmo é de valorizar as marcas daqui, seus costureiros e seus belgicismos!
Turismo de Compras
A melhor cidade belga para fazer compras é Antuérpia (ou Anvers). Além das marcas de luxo e fast-fashion encontradas em Bruxelas, a cidade respira moda autoral e tem muitos estilistas ativos. E para os amantes de moda, é lá que está o famoso Mode Museum, o Momu.
Sites relacionados:
-http://www.momu.be/
-http://www.heures.be/
Au Revoir!
10 Comments
Ana! Vc mexeu com um passado não tão distante! Me formei em design de Moda em 2010 e nunca segui carreira… mas lendo seu texto e vendo Van Noten e Demeulemeester me veio a cabeça o dia que tive aula sobre The Antwerp Six. Eles foram o que mais me marcaram e ficaram na minha cabeça por semestres! Me marcou tanto que eu queria mto visitar a Antuerpia e visitar o Mode Museum. Vamos ter que marcar um passeio pra vc me mostrar um roteiro de Moda!
E sobre as belgas… nossa parece que estou lendo a descrição das francesas!!! Aqui em Lyon é igual cada palavra que vc descreveu, incrivel hehe. beijos =)
Jéssica!
Adorei suas descrições! Realmente, a moda belga, Antuerpia e o Groupe des Six d’Anvers fizeram história. Cada um com seu estilo. E hoje, muitos outros designers seguem criando moda por ali. Imagina estudar belas-artes na “cidade louca”, apelido carinhoso que pus na cidade? Além de Bruxelas, uma boa visita por Antuerpia merece mais que um dia! O comércio é vivo, tem muitas coisas diferentes para ver e muitas pessoas vão justamente em busca de novidades.
Vamos marcar uma ida sim, um roteiro de Moda por Bruxelas e Antuerpia! Te espero para fazermos isso! Bjssss.
Se eu me programar certinho eu fico 1 semana assim faço tudo com calma =) Afinal faz tempo que eu devo uma visita pra Tabata que agora esta escrevendo aqui tb, desde qd eramos au pair… assim ja faço td de uma vez hehe. Com ctz fico 2 dias inteiros em Anvers.
um beijo
A Bélgica merece sim uma semana! Bjs.
Oi Ana!!
Assim como a Jéssica, também me formei em Design de Moda em 2005 e não segui a carreira por muito tempo.
Mas nunca deixei de amar essa tal de moda hehehe
Você descrevendo as belgas é simplesmente o que vejo aqui no interior da Inglaterra, o buy from locals aqui é tão incentivado que você consegue sempre ver o que as inglesas sempre vestem sem ser o fast fashion. Essa mistura que a belga faz eu também enxergo muito por aqui,
Amei seu texto <3
Beijo
Oi Juliana!
Obrigada pelo seu comentário, adorei. A Moda é apaixonante mesmo, no meu caso ela estava guardada em uma caixinha (adormecida), pois ultimamente trabalhava com outras coisas no Brasil. Mas aqui comecei a escrever para passar o tempo e externalizar o que penso… o país é multicultural e, se todos forem usar tendências e moda pronta, as ruas ficarão “cansativas”.
Nada contra as trends, também adoro e às vezes são necessárias, mas é tão gostoso ver uma produção menos massificada e com ideias criativas, trabalhos elaborados e “mãos” tecendo tramas, não é mesmo? E aqui na Bélgica a impressão que tenho é que “há espaço para todos”. Nem oito, nem oitenta, dá para misturar tudo, comprar com mais consciência, coisas locais e mais duráveis.
E que legal que na Inglaterra também seja assim! O bacana da moda é ousar e usar o que nos faz sentir bem. Bjosss 🙂
Muito legal o seu texto, Ana. Eu tenho observado o estilo das belgas desde o dia que cheguei aqui. Como moro em Leuven, cheio de youngsters!, vejo muitooo desse jeans dobrado com tênis. Acho fofo até, mas como que usa isso com todo esse frio?! Sinto tanto frio no pé/tornozelo! Não rola pra mim. E acho que esse visual mais sóbrio é a marca da europa e de lugares frios né. Eu acho muito bonito/chique! Até porque eu não gosto muito de cores rs.
Oi Mariana!
Obrigada pelo comentário! Realmente aqui é muito frio e, no início, eu também não compreendia como as belgas usavam a calça dobrada, enfim…concluí que elas são acostumadas já ao clima, diferente de nós que viemos de um país tropical. Já peguei inverno aqui e, mesmo assim, o modelito segue forte. E vamos combinar…acho um charme, levanta o visual e moderniza a peça.
Poxa, sobre a cartela de cores delas, sinceramente “me encontrei”, hehehe. Adoro cores, mas nos outros. Geralmente sempre uso as cores mais sóbrias também, por isso adoro toda e qualquer produção belga.
Vindo aqui, me avise! Quem sabe visitamos juntas as ruas da moda em Bruxelas?
Bjssss.
Olá. Estou de mudança para Bélgica quarta. Queria dicas de aonde encontro roupas brasileiras?
Achei interessante.