É possível morar na China sem falar mandarim?
O primeiro dia que botei meus pés em solo chinês, ali mesmo no saguão do caótico aeroporto de Shanghai, a minha mais nova e nada discreta cidade, me perdi do meu marido no momento em que fomos buscar as malas, e num ataque de leseira – mais o fuso horário que já estava dando sinais pela minha intensa olheira – não o achava de jeito nenhum.
Sabe aquela bobeira que acontece num lance de segundos? Em qualquer outro lugar do mundo eu nem ligaria. O Uber está aí para isso né? O encontraria no hotel, ou onde fôssemos nos instalar e no stress. Mas eu estava na China e já tinha ouvido falar que o inglês ainda era artigo de luxo por aqui e as coisas funcionavam de uma maneira bem diferente.
Sem sinal de internet para tentar um tradutor, tentei descolar uma informação com o segurança, que não entendeu bulhufas do meu inglês. Parti para uma moça com rostinho simpático que trabalhava em um stand de celulares e surpreendentemente recebi uma expressão não muito amigável também. Decidi, então, não ir muito longe, e fiquei ali, sentadinha, com minha filha o esperando. Graças ao bom senhor dos perdidos, em questão de uns 15 minutos ele apareceu, esbaforido. Eu, fingindo tranquilidade e fazendo a plena, engoli a seco aquele momento, mas na hora já senti o tamanho da encrenca: como vou viver num lugar onde ninguém me entende?
“Bora” começar as aulas de mandarim
Após dois intensos meses de adaptação escolar da minha filha, decidi que era hora de focar em mim e encarar as aulas de mandarim. Já tinha tomado tanto “murro verbal” por não conseguir me expressar que estava desanimada até para sair de casa. Tarefa simples como ir ao supermercado, ou comprar um café na esquina estavam me estressando profundamente e aplicativo de tradutor nenhum no mundo me fazia sentir melhor.
A empresa onde meu marido trabalha oferece, no primeiro ano, aulas às esposas (mandarim, ou inglês). Como já dou uma arranhada legal no english e estava desesperada pelo menos para conseguir me virar na China, optei pela primeira opção.
Minhas primeiras aulas foram focadas nos quatro tons. O mandarim é um idioma bem fonético, onde uma variação na voz pode significar muito, ou seja, uma mesma palavra, pode significar coisas diferentes. Por exemplo, no primeiro tom que é ausente de entonação, mā é mãe, no entanto no terceiro tom a mesma palavra é sinalizada por um tipo de acento circunflexo e o mǎ nesse caso significa cavalo. Entendeu?
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É aí que cai a ficha e você percebe que o buraco é bem mais embaixo e você não vai sair falando mandarim do dia para a noite. Tem que estudar e se dedicar MUITO para começar a falar o básico. A não ser que você seja aquela pessoa com enorme facilidade para aprender línguas, o que infelizmente não é meu caso.
Resumo da ópera: no total completei oito meses de aula, que fazia basicamente três vezes por semana entre dias que estava super animada e outros totalmente desesperada por não conseguir sair do básico Ni Hao Ma (olá, tudo bem?) e foi numa dessas crises que decidi dar um tempo às aulas.
Nesse momento, comecei a questionar: estou levando as aulas realmente à sério como deveria? Estou focada e estudando todos os dias para tentar sair do “basicão”? Gosto e admiro o mandarim e pretendo continuar falando?
Percebi que minha resposta era não a todas essas perguntas, o que me fez realmente repensar se gostaria de continuar seguindo esse caminho.
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Entrando na zona de conforto
Outra questão que pode te deixar com uma bela preguiça em aprender o mandarim quando se está morando em Shanghai são as “bolhas internacionais” que existem por aqui.
A colunista Cris Marote, certa vez, citou sobre isso e concordo em gênero, número e grau: Shanghai, diferente das outras cidades da China tem diversas comodidades para atender os expatriados. O que isso significa? Que você vai achar restaurantes onde os garçons falam inglês, se der sorte pegar um taxista gente boa que tente te entender, supermercados onde a caixa arranha o básico e, até mesmo, sessões especificas de cinemas e teatros em inglês.
É claro que a gente não descobre esses lugares logo quando chega. Mas depois, ouvindo uma dica ali, outra acolá de quem já é “macaco velho” no assunto, você consegue sair de casa com destino certo onde vai conseguir se comunicar, ou, pelo menos, não passar nervoso.
Como tudo tem seus dois lados da moeda, pode ser ótimo para que, não está muito a fim de encarar dezenas de aulas de mandarim e um perigo para te desmotivar de vez, como mencionei acima.
E quando você vai para outras cidades na China?
Aí o bicho pega. Até agora só tive uma experiência na China fora de Shanghai, mais especificamente no interior e te garanto que não foi nem um pouco agradável.
Tivemos dificuldade em absolutamente tudo por não falar mandarim: em pegar um Didi (espécie de uber chines) ou táxi, pedir comida no restaurante, perguntar informações na rua e, até mesmo, solicitar ajuda ao concierge do hotel que discorria um basiquinho inglês carregado de sotaque e mal dava para entender.
Nossa saída? Ficar enfurnado no hotel a viagem toda após um desastroso primeiro dia que inventamos de nos aventurar cidade afora, nos perdemos e não conseguíamos voltar de maneira alguma.
Simplesmente nenhum motorista/ taxista entendia a gente e, para ajudar, tínhamos perdido o cartão do hotel.
Dica valiosa na China: nunca saia de casa sem o cartão ou uma foto do lugar que você está hospedado escrito em mandarim. A maioria das pessoas não vão entender se estiver em inglês.
Depois desse perrengue catastrófico em forma de viagem, estou seriamente pensado em retomar as aulas de mandarim, nada como um susto para a gente acordar, não é mesmo?
Respondendo àquela perguntinha lá de cima, se dá para viver na China sem o mandarim, eu diria que em Shanghai sim, pois tem toda essa “estrutura” para os expatriados. Mas, veja bem, é um vivendo “sobrevivendo”, indo sempre aos mesmos lugares onde você já sabe que vai conseguir se comunicar em inglês.
Se você tem interesse em estudar mandarim em Shanghai, aqui eu elenco algumas opções de escolas/ universidades.
Deixando claro que não há nenhum fundo comercial nisso, apenas a título de informação sobre lugares que ouvi boas recomendações:
Escolas:
Mandarim Morning Chinese School
Universidades:
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Preciso urgente contato com brasileiro(a) em shanghai. Meu nome é Guilherme Jorge da Silva Vieira, Moro em Vila Velha-ES – Brasil.e meu email É : guilhermejvidigal1@hotmail.com. Agradeço a alma bondosa que pode me ajudar.