Uma vez li em algum lugar que, na lista das experiências mais traumáticas e deprimentes para o ser humano, mudar de casa ocupava o terceiro posto (atrás da morte de uma pessoa querida, e de uma separação ou divórcio! E não estavam falando de mudar de cidade ou país. Só de mudar de casa mesmo). Achei um exagero, mas hoje, depois de tantas mudanças realmente vejo alguma verdade nisso.
Mudar de casa exige também uma transformação interna. Quando você esvazia uma casa, visita lugares empoeirados e escuros também dentro de você. Abre caixas quase esquecidas, encontra lembranças, boas e ruins, e muitas vezes tem que se desfazer delas. Ao mudar de casa você é obrigada a fazer um inventário de toda a sua trajetória, auditar todos os seus bens e definir o que é relevante e deve continuar com você e o que será retirado da sua vida. E, ao chegar numa casa nova, você terá que definir o papel e a importância de cada objeto para fazer com que este lugar, sem nenhuma história ou memória, comece a se parecer um pouco com um lar e possa abrigar você e sua família. Por algum tempo você vive no caos. Leva tempo para a casa ser sua e ter sua cara. Não é só uma questão de arrumação. Tudo pode estar guardado e organizado, mas se sentir em casa leva tempo.
E então, quando eu ainda estava tentando encontrar os lugares certos para cada coisa na minha casa, o inverno chegou…
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A primeira vez que fui ao médico aqui na Holanda ele recomendou que toda a família começasse a tomar vitamina D imediatamente. Segundo ele, em pouco tempo passaríamos a ter muito pouca luz durante o dia e um complemento de vitamina D seria indispensável. Além de ajudar o corpo a absorver o cálcio, a vitamina D é importante para os músculos e para o bom funcionamento dos sistemas imunológico e nervoso e, apesar de estar presente em alimentos, a principal fonte de vitamina D para nosso corpo é a luz solar. A falta de sol, também diminui os níveis de serotonina no organismo e isto causa alterações no nosso estado de ânimo. Por isso, a falta de vitamina D também esta associada à falta de energia, desânimo, tristeza e depressão. E é exatamente aqui que meu texto começa…
Eu acho que depressão, a doença, deveria ter outro nome. Infelizmente as pessoas acabam associando depressão com tristeza ou desânimo e não levam a doença a sério. É muito diferente o “estar deprimido” (que as pessoas usam normalmente) de TER DEPRESSÃO. Depressão é uma doença delicada e pode ter consequências graves, portanto é muito importante você identificar e separar tristeza, preguiça ou desânimo de depressão.
Sim, uma mudança pode te deixar deprimida! Sim, o inverno pode te deixar deprimida! E se isto acontecer você precisará de acompanhamento médico e remédios. Fique atenta aos sinais e não hesite em pedir ajuda. Mas, mesmo sem estar doente, enfrentar o inverno europeu é um grande desafio e vai exigir de você muita disciplina, bom humor e coragem!
O que mais me impressionou quando o frio começou, foi a disposição dos holandeses. Tudo continua igualzinho. As bicicletas seguem circulando pelas ruas mesmo com chuva, os cachorros são levados para passear até com neve. Você está batendo os dentes e achando que seu nariz vai cair e os holandeses ao seu lado estão sorrindo e se divertindo. Depois de um tempo aprendi duas coisas: A primeira é que usar as roupas, agasalhos e equipamentos certos faz muita diferença e a segunda é que no inverno, nosso maior inimigo não é o frio, é a preguiça!
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Um dia chuvoso, naturalmente já traz aquela vontade de ficar em casa, comendo pipoca e assistindo Netflix. Mas, quando o frio e a falta de luz se estendem por meses a situação pode se complicar. É importante que você se esforce para manter sua rotina e não sucumba à vontade de ficar na cama! Não cancele nem adie seus compromissos por causa da chuva ou do frio. Aliás, meu conselho é até arrumar mais compromissos. Qualquer coisa que te dê algum prazer e que te obrigue a sair de casa. Obviamente um esporte é super indicado, pois a endorfina vai te fazer se sentir muito melhor e mais disposta. Mas, qualquer coisa está valendo: aula de pintura, aula de tricô, clube de leitura, café com as amigas, trabalhos voluntários, participar dos eventos da escola das crianças… O importante é se ocupar!
Outra coisa essencial é fazer com que o tempo passado em casa seja mais agradável. Principalmente se você acabou de se mudar e talvez ainda não tenha um grupo de amigos, o tempo que vai passar em casa, só com sua família, será grande. Envolva todo mundo nos trabalhos domésticos e eles ficarão mais divertidos. Crie uma rotina para os finais de semana também e faça com que todos participem. Aqui já tivemos sextas de Show de Talentos, sábados de Master Chef, domingos de Cada Um Faz Sua Pizza, tardes de jogos de tabuleiros e até campeonato de rouba-monte… Acabamos criando tradições que aproximam a família e fazem os fins de semana de inverno bem mais gostosos.
E, se por acaso o sol aparecer, saia correndo de casa! Isto foi outra coisa que me impressionou: Ao primeiro sinal de sol as ruas se enchem e imediatamente bares e praças ficam lotados. Os holandeses aproveitam ao máximo a luz do dia. As casas têm janelas grandes que dão direto para a rua e as cortinas estão sempre abertas. Você consegue ver a casa toda por dentro. No começo a falta de privacidade me incomodava um pouco, mas hoje eu entendo que qualquer luzinha é importante e cada segundo de sol é captado com muito mais apreço por aqui.
O holandês não faz distinção entre um dia de inverno ou de verão. A vida segue igual. Cada estação tem suas características e suas atividades e principalmente sua beleza. Eu não gosto do frio, mas posso garantir que se você se preparar e se organizar bem, o inverno vai passar sem dor e talvez até deixe boas lembranças e alguma saudade.
3 Comments
Ótimos pontos de vista, Xará!!
Obrigada xará! 🙂
Uma coisa que contribui para o ar depressivo da Holanda é que o país possui uma arquitetura algo sombria e simples fora das áreas turísticas,me refiro às fotos de Amsterdã que todos já viram.De fato muitas áreas são completamente modernas,lembrando mais os Estados Unidos que a Europa.Enquanto no México sucede o contrário,este se parece algumas vezes com a Espanha nas suas partes mais antigas.