Pode-se dizer que a imagem que fazemos de algo é uma representação interior de acontecimentos que experimentamos e de informações que acumulamos ao longo da vida. A mente organiza as imagens mentais, inserindo-as dentro um contexto; isto quer dizer que nossa mente é composta por milhares de histórias que são criadas e recriadas com base no que vivemos. Isso significa que o contexto sócio-cultural e histórico também exercem uma grande influência na imagem que fazemos de alguma coisa, algo ou alguém. Assim, quando pensei em escrever sobre a mulher holandesa, percebi que a imagem que tenho delas ia ficar limitada à minha experiência de vida e que consequentemente seria uma imagem incompleta e que contemplaria somente o meu olhar.
E foi pensando nessa limitação que nasceu a ideia de entrevistar mulheres de diferentes países, com diferentes realidades e experiências de vida, que me contassem a visão delas sobre as holandesas. Dessa forma a imagem da mulher holandesa não ficaria limitada ao meu olhar e poderia mostrar aspectos que de outro modo passariam despercebidos por mim. Afinal quem sabe se o olhar de diferentes mulheres não consegue mostrar uma imagem mais completa?
As entrevistadas pertencem às mais diferentes religiões, filosofias de vida, culturas, profissões e níveis educacionais e sociais. O tempo de moradia na Holanda varia de pouco mais de 2 anos e meio até 50 anos. Os motivos que as trouxeram ao país variam desde o amor até trabalho e estudos. E todas foram unânimes em esclarecer que as respostas dadas possuem um aspecto geral, pois obviamente nem todas as pessoas são iguais ou agem da mesma forma.
Escolhi fazer duas perguntas básicas, que foram: “Qual a imagem que você tem da mulher holandesa ?” e “quais as principais diferenças entre as holandesas e as mulheres de seu país? “.
Todas as entrevistas foram realizadas separadamente, para que não houvesse influência nas respostas e ao lado do nome das entrevistadas , está entre parênteses, o nome de seu país de origem.
E agora, boa leitura !
1 – Qual imagem você têm da mulher holandesa ? (Ou seja, se tivesse que as descrever em breves palavras, como faria?)
Kátia (Bulgária)– Ah…eu acho elas bonitas. Outro dia estava na estação de trem e fiquei olhando uma moça, ela estava parada esperando o trem e me pareceu tão bonita e auto-confiante…No geral a imagem que tenho das holandesas é positiva. Acho-as além de bonitas, calmas, confiantes, mas também contidas, expressam pouco as emoções. Também vejo, que são muito ativas, fazem muitas coisas além do básico, como por exemplo: voluntariado. Por outro lado nunca se sabe o que de fato pensam, são sempre bem-educadas, mas não se consegue entrar no mundo delas.
Houda (Egito) – Observo que as holandesas acima dos 50 anos são mais fáceis de se fazer contato, são agradáveis e se comunicam bem, mas com as mais jovens o contato é mais difícil, porque são fechadas. O contato com os outros é muito formal. Na escola das crianças, por exemplo, é fácil, mas em outras situações, não. A maioria cuida bem das crianças, mas eu acho que se você não é boa com a sua família (referindo-se ao fato das relações familiares aqui serem mais distantes), então não vai cuidar bem das crianças. Elas geralmente tèm tudo planejado. Se são jovens, trabalham e para elas fim de semana é fim de semana, não trabalham em casa. Também acho que gostam muito de viajar, mas eu tenho a impressão que não são felizes.
Aporan (Tailândia) – As holandesas são diferentes. São muito diretas: se querem algo, dizem diretamente. Também são distantes, mesmo que conheçam você se mantêm distantes, mesmo dentro da própria família. Tudo precisa ser agendado, até mesmo com a família. A maioria é agradável, mas isso também depende de COMO as conhecemos (em qual situação).
Eugênia (Cabo Verde) – Acho que vivem mais livremente, aproveitam mais a vida, são mais independentes das famílias, nesse sentido são diferentes. São também muito diretas.
Kim (Tailândia) – Elas (as holandesas) são muito diretas e também são muito confiantes. Na verdade, acho que são como um chefe, o marido tem que fazer isso e aquilo. São as chefes da família. Também planejam tudo, têm tudo agendado e não são flexíveis para fazer mudanças.
Natascha (Ucrânia) – Acho que são muito diretas, ás vezes diretas até demais, mas talvez isso não seja tão ruim assim. Também observo que não gastam muito tempo com roupas e maquiagem. Não se preocupam muito com a aparência, em ser feminina. Por outro lado conseguem ser bem independentes dos homens; na Ucrânia as mulheres são mais dependentes. As holandesas também são agradáveis, mesmo reclamando constantemente são agradáveis. Amam as crianças. Também é possível aqui (referindo-se á Holanda) que a mulher trabalhe fora e o homem, não. São muito emancipadas. Elas podem ser muito bem chefes em casa e no trabalho. Acho que elas são dominantes, líderes da família. É como se fosse primeiro a Rainha e depois seu Consorte.
Agatha (Brasil) – São muito independente. Aparentam muita autoconfiança, talvez até mais do que realmente sentem. É meio como que uma estratégia de ser. Enxergo-as como em muito “pé de igualdade” com os homens, no sentindo de “ não temos que estar por baixo”. Também são muito diretas, falam tudo o que querem falar mesmo. Já a preocupação com a aparência é relativa, não as vejo tão ocupadas com isso. Seguram muito as emoções e são muito racionais.
Lola (Colômbia) – A impressão que me passam é que são inteligentes de mentalidade aberta; fortes, tomam as providências da casa, carinhosas e dedicadas. São também dominantes e pouco diplomáticas; algumas, complicadas e rudes, outras, pouco amáveis e pouco hospitaleiras. Acho-as também bonitas, altas, loiras, mas não utilizam seus atributos porque são muito despojadas e não cuidam da aparência, pouco vaidosas. Não usam jóias, apenas se maquiam e usam o cabelo meio bagunçado. Preferem a rusticidade e o conforto à feminilidade. Não gostam de elogios, não sabem flertar, mas creio que é porque se sentem muito autossuficientes.
Ivonne (Cuba) – A mulher holandesa é feminista ao extremo e por querer se igualar com os homens, muitas vezes perde a essência e até a feminilidade. Homens e mulheres não são iguais e Graças a Deus é assim.
Quais as principais diferenças entre as holandesas e as mulheres de seu país ?
Kátia (Bulgária)– Na Bulgária as mulheres se preocupam muito com a aparência. Lá a confiança vem da aparência e não de como você é (interiormente). As búlgaras pensam mais como donas de casa e aqui as holandesas não. Por outro lado as mulheres do meu país são mais abertas e com mais calor humano.
Houda (Egito) – No meu país as mulheres ajudam mais umas ás outras; aqui, menos. Também aqui as mulheres tem que trabalhar e no Egito não, porque cuidar da família está em primeiro lugar. Lá no meu país as mulheres são mais fáceis de contatar, para conversar por exemplo.
Aporan (Tailândia) – Na Tailândia as mulheres não são diretas, não reclamam quando não gostam de algo e por isso algumas situações chegam ao extremo Por isso é bom ser direta, porque se consegue resolver a situação mais rápido. Por outro lado são mais pacientes e as famílias são mais próximas. Aqui as famílias, no geral, são mais distantes e isso dá uma sensação de frieza, mas nem todas são assim.
Eugênia (Cabo Verde) – As mulheres do meu país não são tão objetivas como as holandesas. Nós fazemos mais problema das coisas, ou seja, complicamos mais. Mas, somos também mais preocupadas e mais próximas da família.
Kim (Tailândia) – As tailandesas são mais tímidas, não falam das coisas que não gostam. Pensam muito, guardam os pensamentos para si mesmas.
Natascha (Ucrânia) – As mulheres ucranianas são muito diferentes; lá as mulheres são criadas para cuidar dos pais e aqui não, elas os colocam em casas de repouso. Aí você pergunta por quê e elas respondem que não tem como ser diferente. Na Ucrânia as mulheres dão muita atenção aos homens e por isso eles abusam. Aqui os homens respeitam mais a liberdade das mulheres, os homens ucranianos são muito machistas. Apesar de achar que as holandesas amam as crianças, elas se preocupam menos e dão menos atenção aos pequenos, se comparadas com as mulheres do meu país. Lá (referindo-se á Ucrânia) as famílias são mais próximas e gostam de ter controle sobre tudo o que acontece aos seus membros e aqui, não. As pessoas também querem tudo perfeito, as escolas com mais prestígio para os filhos, etc e aqui os pais respeitam mais as escolhas dos filhos, não precisam ir necessariamente para a universidade por exemplo.
Agatha (Brasil) – A mulher brasileira é menos autoconfiante. A autoconfiança deixa a desejar, talvez por causa do machismo. É mais emocional, acho a brasileira mais transparente. Penso que as mulheres no Brasil são mais espiritualizadas. Aliás, não só as mulheres, mas as pessoas no geral são mais espiritualizadas. A brasileira gosta de estar mais com as pessoas, de estar no meio de muita gente. Já as holandesas geralmente tem poucas amigas, que são aquelas da vida inteira. Bom, mas isso também se aplica aos homens. No que se refere na relação com os homens, a brasileira é mais doce, mais carinhosa. A brasileira vê o homem de uma maneira diferente. Na verdade acho que a questão da igualdade aqui, acaba meio que gerando uma competição entre o casal. Nesse sentido, a brasileira cede mais. Tenho a impressão que nos relacionamentos, é o homem (holandês) quem busca mais harmonia e assim acho que acaba combinando melhor com a brasileira, porque as holandesas são meio “ferro e fogo”.
Lola (Colômbia) – A mulher colombiana é empreendedora, trabalhadora e dinâmica, com um elevado sentido de responsabilidade e muito persistente. Inteligentes e estudiosas, são muito dedicadas ao trabalho, mas sem descuidar da casa e da família. As colombianas são também um pouco teimosas e orgulhosas e muito desconfiadas, possuem um caráter forte e temperamental quando estão com raiva. No geral as colombianas são fiéis e leais, mas esse aspecto é muito complexo e depende de vários fatores, portanto não há como garantir que todas são.
Ivonne (Cuba) – As mulheres cubanas vivem em uma sociedade muito machista e são, portanto, o extremo oposto das holandesas. Mesmo que trabalhem oito horas por dia, chegam em casa e fazem tudo e se o marido não ajuda, não acham tão ruim.É um grande erro pensar assim. As cubanas sentem mais prazer em cuidar dos filhos, do marido, dos seus pais e da casa. São desinteressadas ao dedicar suas vidas a eles e ás vezes põem de lado suas carreiras e sonhos. Elas (cubanas) ajudam seus filhos, mesmo quando estes já são adultos. E por isso os filhos lhes são agradecidos, reunindo-se a elas nos finais de semana, telefonando-lhes todos os dias e é como uma lei não escrita que quando estejam idosas os filhos tomem conta delas, assim como elas o fizeram com amor incondicional quando eram pequenos. Aqui na Holanda é ao contrário , as mulheres são mais egoístas , quando os filhos fazem 18 anos querem-nos fora de casa, e apenas ajudam a cuidar dos netos porque é seu tempo de descansar já que estão idosas. E os filhos por sua vez, respondem da mesma forma, colocando-as em asilos e só vão visitá-las em datas importantes ou aniversário. Eu crio minhas filhas esperando que quando eu esteja idosa, tanto por comodidade como por necessidade, me ponham numa casa de repouso, mas que me visitem todos os dias, me telefonem e me tenham um infinito amor. Creio que em uma sociedade de primeiro mundo, com tanta independência econômica, as pessoas também se tornam afetivamente independentes, pois não necessitam muito de outras para apoiá-las. Assim, é a relação de pais e filhos, ou a relação de casais com bens separados, etc. Também, por causa disso (referindo-se á independência afetiva que ela enxerga na sociedade holandesa) é cada vez mais difícil para o homem holandês conhecer uma mulher de forma normal e tem que recorrer a sites na web para travar conhecimento com uma pessoa que ele talvez tenha visto no supermercado e que poderia facilmente ter abordado, pois são incapazes de começar uma conversa. Acho que com menos tecnologia as pessoas são mais afetuosas e as relações mais normais porque nos vemos obrigados a interagir socialmente.
Fonte:www.euvoudebike.com<
Caros leitores, espero que através dos olhares dessas mulheres vocês consigam ter uma imagem (ainda que geral) das holandesas.
Finalizo indicando um filme e um livro que abordam de modos distintos o universo feminino:
Filme : “De Jurk” (“O Vestido”) – é um filme holandês sobre a história de um vestido e consequentemente suas donas. Os medos, esperanças, expectativas e a realidades dessas mulheres e o significado do vestido em suas vidas.
Livro : “Infiel” autora Ayaan Hirsi Ali – é a autobiografia da própria autora, que conta sua trajetória desde a infância muçulmana na Somália, até sua fuga para a Holanda, aonde conseguiu eleger-se deputada. Ayaan tornou-se defensora dos direitos das mulheres muçulmanas e uma crítica do fundamentalismo islâmico.
Agradeço às professoras Karin de Kleijen e Thera Etman que cederam o espaço de suas aulas para que eu pudesse entrevistar algumas de suas alunas.
* As respostas das entrevistadas não refletem necessariamente a opinião da autora e nem do blog Brasileiras pelo Mundo.
16 Comments
Que ótimo texto!
Obrigada Lucia.!!!
Parabéns, Cintia! O filme não vi, mas o livro é maravilhoso. Beijos!
Obrigada Juliana.!!!vjs
Ola, otimo blog!
Mas nao concordo com a descrição de mulher brasileira! Para mim, somos muito mais que na descrição. Achei pouco relevante e nada objetiva. Somos polivalentes, com muitas facetas, passamos por momentos de grande mudanças no cenário e adptamos-nos facilmente ao papel de mãe, esposa, filha, mulher de negocios. Somos sim, muito autoconfiantes, guerreiras e batalhadoras. Romanticas, mas tambem realistas e inteligentes.
Ola Anna,
Obrigada pelo comentário e continue acompanhando o blog. Abs. Cintia
Pingback: Holanda – A mulher holandesa por ela própria
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Ótimo texto, muito interessante! Então, queria te perguntar algo se não for incômodo. Eu planejo morar na Holanda (tenho cidadania italiana), mas só daqui uns 7, 8 anos, pois assim termino minha faculdade de Administração e ainda junto um dinheiro/acumulo experiência de trabalho.
A minha pergunta é sobre validação/equivalência de diplomas por aí. Você tem algum conhecimento nisso? Eu pesquisei e parece que é um órgão chamado Nuffic que faz esse tipo de reconhecimento. Conhece alguém que passou por essa experiência?
Digo isso pois o meu curso é amplo, não é como Enfermagem por exemplo, que pelo que li a pessoa tem de fazer algumas aulas complementares; então, pelo menos teoricamente, depois da equivalência eu já estaria apto a trabalhar em minha área (ou pelo menos é o que eu espero).
Se me pudesse responder sobre isso por email, ou aqui mesmo, o que for melhor, eu agradeço muito. Um dia ainda vou morar aí! 🙂
Olá Leandro
Fico feliz em perceber sua animação e que está batalhando pelo seu sonho.
Sobre validação e equivalência de diplomas voce pode entrar em contato com o DUO
O link é esse duo.nl/particulieren/international-student/default.asp. Voce tem a opcao de ler as informaçoes em ingles.
O DUO é uma Organização que vai analisar a grade curricular/ carga horária do curso que voce fez e depois dar um parecer. Mesmo seu curso não sendo na área de saúde eles podem indicar alguma aula complementar que considerem importante, mas como eu disse, eles primeiro precisam analisar.
Espero ter ajudado . Muito sucesso para voce. Abs.
Mais um exelente texto , amei o ponto de vista da Cubana tem tudo haver hahaha faço dela as minhas palavras ! Tirando o mimimi das holandesas , no fundo elas são uns amores !!!! ????????????????
Olá Yra, obrigada!!!
Concordo com você , conheço holandesas que são excelentes pessoa. Abs e continue nos acompanhando. 🙂
Parabens pelos maravilhoso texto, adorei!
Muito interessante essa pesquisa! Sinto uma diferença imensa entre a brasileira e a holandesa, e foi ótimo poder ter a visão de pessoas de outras partes do mundo.
Acho que no fundo do meu ser, eu sou Holandesa kkkkkkkk
Eu não vi o filme,confesso. mas o livro é fabuloso.
Parabéns pela postagem