Budismo Theravada
Templos aos montes, praticamente em casa esquina. Imagens de Buda, pequenos altares pelas ruas, amuletos. Chegando em Yangon, com um pouco de sorte, é possível ver do avião a estupa dourada de 100 metros de altura do templo Shwedagon, o mais importante e mais sagrado do país. O budismo está fortemente presente no dia a dia dos birmaneses. Quando pensamos em Sudeste Asiático nos vem à mente automaticamente a imagem de lindos templos, figuras de Buda. Mas, o que sabemos sobre o budismo?
O budismo é praticado por 89% da população, sendo que em Myanmar se pratica o Budismo Theravada, assim como em outros países do Sudeste Asiático. Theravada é a forma mais antiga do budismo, o nome significa “doutrina dos antigos” e se concentra nas escritas Pali, transcritas da tradição oral dos ensinamentos de Buda. Os budistas que seguem a escola Theravada acreditam poder chegar à iluminação através de meditação e seguindo os chamados “oito passos da iluminação” ou “caminho octuplo”. Eu já havia citado a importância do número oito em Myanmar neste artigo. O nobre caminho óctuplo aponta as práticas para se livrar do samsara, que é o circulo eterno de vida, morte e reencarnação.
Os budistas seguem os ensinamentos de Buda – chamados Sasana. No budismo não há um conceito de deus e, por isso, alguns afirmam que o termo (ensinamentos) é mais apropriado do que religião. O budismo contém muitas práticas em sua filosofia que atraem, às vezes, também agnósticos ou ateus. Buda se denominava o desperto, e não um deus. Ainda assim, é muito comum se ver pessoas orando para Buda, fazendo oferendas com água, comida e incenso para Buda em um altar.
Mas, como é viver num país de maioria budista? Influencia de alguma forma no comportamento depois de certo tempo? Eu não tenho religião, me considero agnóstica. Obviamente, sou de um país de maioria cristã, mas não sigo nenhuma destas religiões, tão pouco suas práticas e orações. Mas sempre tive interesse e admiração pelo budismo. Minha mãe sempre leu a respeito do budismo, tínhamos livros sobre o Tibet em casa que eu lia quando tinha uns 11 anos, o que me despertou o interesse por este país, que ainda quero visitar um dia.
Chegando em Myanmar, saindo da agitada e estressada Alemanha, percebe-se uma diferença grande no comportamento das pessoas e a forma de enxergar a vida. Eu já percebia isso convivendo com birmaneses na Alemanha. Os birmaneses que conheci na Alemanha foram para lá por motivos diferentes, muitos têm asilo político. Tem diploma universitário na sua terra natal, mas na Europa não podem exercer suas profissões e acabam trabalhando como garçons, cozinheiros, etc. Sempre admirei sua determinação e humildade. Podiam ser pessoas amargas, mas tentam extrair o melhor que a situação pudesse lhes oferecer.
Tenho um amigo monge que dá aulas numa universidade budista em Yangon. Gosto de encontrá-lo porque posso conversar com ele abertamente, perguntar as coisas mais básicas. Ele acha interessante minha curiosidade e meu interesse. Um dos conceitos que gosto muito no budismo é o fato de que cada um é responsável pelo seu caminho. Não há um conceito de deus ou salvador, portanto, cada ser é responsável por aquilo que faz e pelo decorrer de sua vida, por aquilo que alcança. Deve se concentrar no presente, já que o passado não se pode mudar, e o futuro ainda está por vir.
As pessoas tem outro ritmo, comparando ao da Europa; tudo mais devagar. Em cidades grandes, obviamente, há pessoas às pressas indo ao trabalho, motoristas impacientes buzinando o tempo todo. Por outro lado, é notório este lado mais calmo de seguir a vida. Também a simplicidade e honestidade das pessoas.
Meditação é uma prática muito popular em Myanmar. Budistas de países ocidentais vêm ao país para fazerem retiros, algumas pessoas fazem esses retiros de forma regular, existem muitos centros de meditação em várias cidades. No entanto, segundo os budistas, a prática da meditação não requer um lugar específico. Basta você ter tempo e praticar em casa, na rua, no trabalho. Obviamente, para iniciantes, um lugar mais calmo é mais apropriado para se começar a praticar técnicas de meditação. A meta da meditação é controlar a mente. Controlando a mente, o corpo também relaxa, não desperdiçando energia em pensamentos de apego ou desejo que, muitas vezes, geram sofrimento, segundo o budismo. Eu já experimentei algumas técnicas, algumas vezes, pois acho muito interessante e tenho certeza que é uma prática que ajuda pessoas ansiosas, como eu. Só que ainda me falta a disciplina para praticar de forma mais regular.
No primeiro dia do ano fui ao templo Shwedagon com um amigo birmanês, budista. Ele me contou que a meditação mudou sua vida, para melhor, porque antes era muito nervoso. Ele sempre vai no primeiro dia do ano ao templo para meditar e renovar energias para o ano que começa. Foi uma experiência bastante interessante. Apesar de o templo estar cheio (por ser um domingo e primeiro dia no ano), sentados ali num canto atrás de grandes pilastras, com vista para as magníficas estupas douradas, o cheiro de incenso… Sim, foi possível se desligar do que ocorria ao redor e se concentrar nos próprios pensamentos.
Independentemente de religião ou não crença, creio que sempre podemos aprender algo das culturas que nos abrigam, quando moramos no exterior, e vivendo em Myanmar é quase intrínseco que se acabe tendo contato com o budismo e seus preceitos.