Eizeringen é uma vila na região conhecida como Pajottenland, em Flandres, e fica a mais ou menos 20km de Bruxelas. Tão perto da capital e tão diferente! Castelos, fazendas, igrejas medievais, moinhos e pequenos vilarejos ainda resistem ao crescimento da população e urbanização.
O bar In de Verzekering Tegen de Grote Dorst fica em frente à igreja e é uma das construções mais antigas da vila. Ele só abre aos domingos das 10h às 13h30 e conta com o público local saindo da missa ou fazendo um passeio na manhã de domingo.
Mas o que este barzinho de interior tem de tão especial? A resposta é simples: uma das maiores seleções de cerveja do tipo geuze, kriek e lambiek do mundo. Esses tipos de cerveja são produzidos por fermentação espontânea, usando as leveduras e bactérias do meio em que se encontram (o vale do rio Zenne), por isso são únicas. Em nenhum outro lugar do mundo é possível reproduzi-las e até mesmo aqui o sabor não é uniforme.
Enquanto a maior parte das cervejarias opta por um ambiente completamente controlado, os produtores desse tipo de cerveja deixam tudo o mais natural possível: janelas abertas e temperatura ambiente, favorável ao crescimento de fungos e bactérias selvagens.
A primeira fermentação produz a lambiek, uma cerveja azedinha e refrescante. A lambiek é considerada a mãe de todas as cervejas modernas, pois há indícios de fermentação espontânea produzindo cerveja há cinco mil anos na Mesopotâmia. Ela é produzida na região Pajottenland há mais de quinhentos anos.
A geuze é produzida numa segunda fermentação, misturando lambiek nova e envelhecida. É uma cerveja leve, fresca e espumante, frequentemente consumida antes das refeições, junto a um aperitivo. Uma das tradições é combinar torrada com um creme de queijo fresco, rabanetes fatiados e sal e pimenta por cima.
Ao adicionar cerejas ou framboesas à lambiek, produz-se kriek e framboise, respectivamente. São cervejas perfeitas para o verão, consumidas geladinhas, com um sabor bem equilibrado entre doce e azedo. Algumas cervejarias adicionam açúcar, criando uma cerveja bem doce, o que as levou a serem conhecidas como “cervejas de mulher” ou “limonada”. Minhas preferidas são da cervejaria Boon, sem açúcar, com sabor bem fresco e natural. Se você quer experimentar a docinha, escolha a Lindemans.
Em janeiro In de Verzekering Tegen de Grote Dorst foi classificado pelo segundo ano consecutivo como o melhor bar da Bélgica e do mundo, segundo o site Rate Beer Best. Além deste, o bar já recebeu vários prêmios, nacionais e internacionais.
A cada dois anos a Associação de Geuze (Geuze Genootschap) organiza o festival internacional Nacht van de Grote Dorst (Noite da Grande Sede), um festival de geuze e kriek. Nessa noite o pequeno bar do interior de Flandres recebe visitantes do mundo inteiro, muitos deles vindos especialmente para o evento ou para um tour cervejeiro. Afinal, há país melhor que a Bélgica para degustar cervejas mais que especiais?
Mas e quando essas cervejas são produzidas em ambientes não controlados, não desinfetados, completamente ao natural? A agência Federal de Alimentação ameaçou fechar várias das cervejarias da região em 2004. Como protesto, os amantes da cerveja se reuniram para demonstrar seu apoio e orgulho e o Nacht van de Grote Dorst começou.
O festival deste ano acontecerá no dia 22 de abril, sexta-feira, a partir das 19h em Itterbeek. Todos os produtores da região estarão presentes (Boon, Cantillon, De Oude Cam, De Troch, 3 Fonteinen, Girardin, Hanssens, Mort Subite, Lindemans, Oud Beersel, Tilquin and Timmermans), além de cervejarias de outros países, que produzem de acordo com o processo de fermentação espontânea e podem ser consideradas “primas” das cervejas daqui.
A organização espera aproximadamente duas mil pessoas esse ano e encoraja o público a “usar sua bandeira”, identificar de alguma forma de onde você vem, para todos terem uma ideia clara da variedade de nacionalidades.
Fichas serão vendidas no local e podem ser usadas para comprar copos, camisetas, tira-gostos e cervejas. De acordo com a organização, queijos e patês serão servidos.
Informações sobre como chegar ou onde ficar podem ser encontradas (em inglês) no site da Associação de Geuze (Geuze Genootschap).
“Tenho orgulho de chamar a região Pajottenland de meu lar. Depois de caminhadas pela natureza ou de comparecer a missas com minha família, há poucas coisas mais agradáveis do que saborear uma geuze espumante nesta taverna autêntica e aconchegante. Especialmente se você tem escolha entre uma seleção impressionante de cervejas de fermentação espontânea, algumas chegando a ter 30 anos.
A cada dois anos ‘De Nacht van de Grote Dorst’ oferece a ocasião perfeita para compartilhar umas cervejas com amigos e se impressionar com todas as pessoas de diferentes nacionalidades que vêm visitar”. Robrecht Dierck, nasceu e cresceu na região.
Se você me encontrar por lá, não hesite em dar um oi!