Atire a primeira pedra quem nunca sonhou em morar fora do Brasil. Acredito que poucas pessoas poderão afirmar com plena convicção que nunca ansiaram por dar esse grande passo na vida, mesmo que por alguns meros minutos em que as coisas não funcionaram exatamente como haviam planejado.
Pois é. Entretanto, nem tudo é sempre como sonhamos e muitas vezes a realidade é dura. Quando finalmente damos esse grande passo, as dificuldades aparecem sutilmente e a realidade bate à nossa porta rapidamente.
O primeiro balde de água fria que se ganha quando se desembarca no seu destino é a falta de capacidade de compreender o idioma local. Reza a lenda que o melhor curso de línguas é morar onde a língua escolhida é a local. Posso afirmar que sim, a lenda é real.
Pouco importa o quanto você se dedicou no aprendizado ou aprofundamento da língua estrangeira. Garanto que em algum momento alguém dirá pra você algo extremamente simples (ou nem tanto), e cairá sua ficha de que nada substitui a convivência diária e rotineira com os moradores, nem mesmo aquele curso caro que você tinha certeza que te daria ao menos um apoio inicial, auxiliando durante período de adaptação, antes de você dominar minimamente o idioma.
E sabe por que concluo isso sem nem pensar muito? Pela simples razão de que cursei seis meses de um curso de francês antes de me mudar para a França. Não embarquei acreditando que dominava a língua pelo simples fato de ter estudado somente a base da língua francesa, mas o choque linguístico foi muito maior do que eu havia imaginado. Pessoas que nascem falando uma língua (todo e qualquer ser humano possui ao menos uma língua materna – aquela que aprendemos em nosso seio familiar desde o nosso nascimento e na qual fomos alfabetizados) simplesmente possuem um rítmo próprio ao falar.
Confie que normalmente as pessoas falam muito rápido e com um linguajar repleto de gírias que seu professor nunca te ensinou, talvez por nunca ter tido a oportunidade de passar uma temporada fora do Brasil. Infelizmente o conteúdo teórico da gramática é importante sim para compreender o funcionamento da língua estrangeira, porém, de pouquíssima utilidade na sua rotina, já que em qualquer país existem duas línguas: a dos livros didáticos e a linguagem das ruas. Adivinhe com qual você vai conviver infinitamente mais ao mergulhar afundo na cultura de outro país?
Se conselho fosse bom, a gente vendia, não dava gratuitamente, não é? Mas ainda assim recomendo que se o seu interesse for se aventurar por um país desconhecido, cuja língua você não domine, procure um professor que tenha os conhecimentos teóricos e práticos da língua estrangeira, alguém que conheça profundamente os hábitos da região para onde você pretende se mudar, afinal, qualquer país possui infinitas particularidades regionais, tal como acontece no Brasil.
O sentimento de qualquer imigrante ao adentrar em terras estrangeiras é de ter se transformado num analfabeto após poucas horas de voo. Como você se sentiria ao ler uma placa e não compreender o seu conteúdo, ou perguntar uma informação na rua e a resposta não ter sido clara o suficiente para te orientar sobre seu rumo naquele momento, isso se você conseguir entender algo do que te disseram?
Pessoas altamente instruídas no seu país de origem se veem sem qualificação no exterior. Acredito que nunca estaremos preparados o suficiente para nos deparar com propostas de emprego muito abaixo do nível para o qual fomos educados.
As expectativas de vida que temos refletem em nossas atitudes. Claro que se você se propôs a mudar radicalmente de vida, imediatamente abriu mão de estar dentro da sua zona de conforto. Contudo, a sua boa vontade em acatar ordens de pessoas que possuem anos de estudo a menos que você nem sempre será o suficiente.
A preferência para ocupar uma vaga de emprego será de um local, porque ele domina a língua. E por essa razão não terá as mesmas dificuldades que você, estrangeiro, para se adaptar à nova função. Lembre-se de que no mercado de trabalho tempo é dinheiro. Pouquíssimas pessoas terão paciência para ensinar uma língua estrangeira no mercado corporativo.
O que muitos chamam de preconceito com estrangeiros, aprendi a enxergar com outros olhos ao tentar me colocar no lugar deles. Imagine que bata à sua porta um estrangeiro que não fala um bom português à procura de emprego na sua empresa, especialmente em tempos de recessão econômica. Qual seria a sua reação? Acolhê-lo ou optar por outro candidato que já possua as qualidades que você procura na pessoa que ocupará o cargo à disposição (especialmente no tocante à língua)?
Sabendo que a falta de domínio da língua local certamente será um obstáculo para o desenvolvimento profissional do estrangeiro, e, por conseqüência, para o crescimento do seu empreendimento, a dificuldade em ocupar uma vaga de trabalho no exterior será maior para quem não é local.
A experiência de morar no exterior inevitavelmente te fará crescer numa velocidade infinitamente maior do que se você tivesse permanecido na vida a qual já estava habituado. Guarde no coração o tempo todo que as dificuldades são passageiras, simplesmente o caminho para as suas pequenas grandes vitórias pessoais, aos quais somente quem souber persistir conhecerá o gosto.