Bucareste se transforma no verão. Tomada de verde e enfeitada por rosas, as ruas são perfumadas e se abrem, convidativas, para passeios à luz de um sol que se põe às 21:00.
As escolas estão fechadas, o trânsito ameniza e a cidade se entorpe de uma preguiça deliciosamente quente. Em junho, já passa fácil dos 30 graus. Com o avançar de julho e agosto, chegará aos 40.
Amanhece de madrugada e a falta de costume da claridade traz a falsa sensação da hora perdida. Engano, ainda são 5:30 e o sono é permitido, mas, para que dormir, quando se tem um dia tão bonito lá fora?
A semana carrega a eletricidade viva dos verões paridos por invernos pesados. É a euforia da estação, nem sempre fácil de ser entendida para quem vem de um país de sol eterno. O simples prazer de se desnudar em pequenos pedaços; ou o direito adquirido à pele de fora em pátios descobertos, até um anoitecer que quase não chega.
No sábado e no domingo, o compasso lento de uma cidade sua. Os demais subiram os Cárpatos ou seguiram para o Mar Negro. Sobrou você. Espalhe-se pela cidade, mas, não sem antes:
Achar o seu jardim secreto
Se tivesse o poder, mudaria o nome de Bucareste para Jardim do Leste. Além de verde e cercada por grandes parques, como o Herăstrău, o Kiseleff, o Tineretului, o Cișmigiu e o Carol I, a cidade é plena de pequenos jardins. Em meu segundo verão, descobri que por mas convidativos que os parques possam ser, o bom mesmo da estação é encontrar um desses jardinzinhos para chamar de seu.
Os grădini de vară (jardins de verão) funcionam como apêndices de parques menores ou em terraços transformados em bares e restaurantes, com muita grama e espaço aberto. Por essa razão, só abrem durante o verão, mas descontam os meses fechados seguindo uma programação intensa, com pausa, todavia, para tardes introspectivas, no meio de uma natureza silenciosa.
O meu jardim secreto “particular” se chama Grădina Floreasca e fica próximo de onde moro. Esse jardim é anexo ao Parque Floreasca e oferece restaurante, piscina (acesso pago) e área verde. Para celebrar os meses de sol, tem yoga, pela manhã, passando por noites de jazz e cinema ao ar livre. Fica difícil resisitir!
Descobrir onde será o próximo festival de rua
Durante a primavera e o verão, é comum se deparar com alguma ruazinha de bairro fechada, abrigando o que eles chamam de festival urbano. Geralmente, duram três dias, de sexta a domingo, oferecendo atividades e atrações como oficinas variadas para crianças e shows de pequenas bandas.
Com perfume hipster, esses mini festivais trazem um gosto da cozinha local, apresentando pequenas marcas artesanais com produção limitada e foco em consumo sustentável.
Entre eles, tem destaque o Festivalul Femei pe Mătăsari e o Festivalul Strada Armeneasca.
Escolher uma piscina
Lembrando das aulas de geografia, a Romênia tem clima temperado continental, dando aos invernos um rigor quase siberiano e, aos verões, um calor praticamente texano. Portanto, é quente, e como a praia mais proxima está a 227km, a ida à piscina se torna um pequeno ritual de sobrevivência.
Por sorte, o que não falta é escolha. Do clube de campo aos jardins de verão, sem esquecer das academias de ginástica (com opção de acesso pago para o público externo) e dos hoteis com diárias para uso das áreas comuns.
Render-se à culinária dos países vizinhos
Tempo quente pede pratos leves com ingredientes frescos, e quem melhor do que a cozinha mediterrânea para suprir essa necessidade? Banhadas pelo mar de Homero, a Grécia e a Turquia estão bem ali, na esquina, prontas para oferecer a presença dessa culinária em suas especialidades, nos tantos restaurantes dessas duas nacionalidades espalhados por Bucareste.
A verdade é que, dada a proximidade, até mesmo na seção de frios dos supermercados se encontra muitos desses pratos. Esse é o caso do hummus, do baba ganoush e do falafel, apresentados à mesa brasileira pela, também mediterrânea, cozinha libanesa. A Turquia, inclusive, exerce forte influência nas receitas romenas, existindo uma certa disputa sobre a origem do meu prato favorito, o sarmale.
Para provar delícias gregas e iguarias turcas, o Kuzina e o Divan fazem as honras de seus respectivos países.
Fazer compras em bazares charmosos
Este foi um segredo muito bem desvendado, graças ao meu faro de consultora de estilo, já que Bucareste não é a cidade mais óbvia para se comprar roupas e acessórios. Digo isso porque, além dos shopping centers não oferecem nada diferente da loja padrão, encontrada em qualquer centro comecial, falta na cidade uma rua dedicada a um comércio bonito, onde se possa juntar o útil ao agradável e fazer das comprinhas um passeio.
Acontece que os estilistas e as marcas romenas mais interessantes optam por se instalar em lugares quase secretos, como casarões vistosos, daqueles que atraem por certa aura entre o decadente e o elegante, geralmente escondidos em pacatos bairros residenciais.
Como não tem plaquinha, nem letreiro, encotrá-los pode ser um trabalho para iniciados, mas, uma vez descoberto o mapa da mina, a Romênia tem me surpreendido com o gosto e a qualidade de muitos de seus produtos. Para quem tiver curiosidade, tenho listado o que me salta aos olhos nesse link aqui.
Ainda assim, continuam espalhados pela cidade, dificultando a logística dos compradores, até entrar em cena o tal do bazar, facilitando a vida e organizando a programação.
Entre a primavera e o verão, a cidade se enche deles, reunindo o que os criadores de moda local fazem de mais bonito. Alguns são montados em palácios sofisticados, como os organizados pela V for Vintage e Band of Creators, ja outros, em locações mais despojadas, com a Bounty Fair e a Art Fashion Fair. Seja qual for o seu estilo, todos são convidativos a uma visita.
2 Comments
Oi Cristina Hélcias ; Meu nome é Carlos e estou pensando em fazer entre 02/01 a 09/01 próximos, o trecho de carro Bucareste -> Sinaia -> Brasov -> Sighişoara -> daqui (posso ir até Cluj-Napoca), Voce acha interessante acrescentar alguma outra cidade no percurso ? daqui eu gostaria de entregar o carro na locadora e ir de trem até Belgrado. Existe trem que faça este percurso ? É necessário comprar antecipadamente os tickets ou posso comprar na hora ? As estradas até aqui nesta época do ano são transitáveis ? Da para ir numa boa ? A estrada até Belgrado é boa nesta época ? AGRADEÇO A SUA ATENÇÃO.
Carlos, o roteiro está bem escolhido e, sim, em janeiro é possível fazê-lo, mas sempre existe o risco da neve, bloqueando rodovias. Sobre o restante do seu percurso, até Belgrado, não tenho como opinar pois nunca o fiz. Boa sorte e aproveite a viagem!