Sentir falta de muitas coisas de nosso país de origem quando emigramos é a coisa mais normal do mundo. Mudar de ambiente realmente nos faz sentir muita falta de tudo o que estávamos acostumados, da rotina, das nossas raízes.
Porém, morar fora também nos faz avaliar nosso antigo entorno desde um novo ponto de vista. Uma perspectiva externa nos ajuda a compreender o que havia de positivo e também de negativo em nossa antiga vida.
Costumamos ter muita saudade daquilo que vemos como positivo e nos apegar a isso gerando um sentimento de lamento. É como se todas as coisas boas tivessem ficado para trás. No entanto, é importante saber distinguir e perceber que além das coisas boas, há também coisas ruins que ficaram para trás. E ao invés de estar melancólico ansiando pelas coisas boas que deixamos, podemos sentir-nos felizes pelas coisas que nos faziam mal e que já não nos acompanham mais.
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Me mudei para Barcelona há quase 1 ano e meio e tenho que admitir que minha adaptação aqui foi extremamente fácil. Entre outros motivos, acredito que muitas das coisas que vejo como positivas aqui são justamente o que via de negativo quando morava no Rio de Janeiro.
É utópico pensar que existe um lugar perfeito. E dentro das imperfeições de cada cidade, devemos escolher estar onde elas nos afetam menos. Outro dia comecei a fazer uma lista na minha cabeça das coisas que não sentia falta da minha rotina carioca. E percebi que, apesar de amar o Rio de Janeiro, de ali estarem algumas das pessoas que mais amo na vida, minha lista era grande.
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Ela começa pela questão dos horários e dos atrasos. Ao combinar algo com amigos no Ri, o horário era um mero detalhe. Marcávamos uma hora, mas sabíamos que cada pessoa ia chegar quando que lhe fosse mais conveniente. Já era sabido que o horário não ia ser cumprido.
Além disso, outra coisa muito comum é as pessoas confirmarem e/ou desistirem de programas em cima da hora. Se a coisa ficasse apenas no âmbito das relações pessoais, talvez afetasse menos. Porém, essa falta de comprometimento e seriedade também se estende às relações profissionais.
Na empresa onde eu trabalhava me lembro que era raro alguma reunião começar no horário determinado. Dez minutinhos de atraso era algo completamente normal. Justamente porque os minutos são vistos como “minutinhos”, a falta de horários acaba sendo banalizada.
Aqui, esses 10 “minutinhos” são considerados atraso. Vejo que todo mundo é bastante pontual e inclusive combinam programas com muita antecedência. Na 2a feira já sabemos quais são os planos do próximos final de semana!
Apesar de São Paulo ser a cidade mais famosa pelo excesso de engarrafamento, o Rio de Janeiro não fica nada atrás. Há quem acredite que hoje em dia esta última ultrapasse a primeira em nível de caos no trânsito. Barcelona é a segunda maior cidade da Espanha e obviamente tem engarrafamentos. Mas nunca peguei aqui um engarrafamento de horas como é comum quando nos deslocamos da Zona Sul à Barra da Tijuca, da Ilha do Governador ao Centro, do Rio a Niterói…
Aqui o transporte público funciona bastante bem, (claro que sempre é possível melhorar) e muita gente opta por não ter carro (ou deixá-lo estacionado) e deslocar-se em metrô, trem ou ônibus. Além de a malha ser mais extensa que no Rio, a questão da segurança conta muito para que as pessoas escolham locomover-se em transporte público.
Outro fator que acredito que ajude a desafogar o trânsito é que as crianças costumam estudar em escolas no mesmo bairro onde moram, poupando os pais de terem que levá-las e buscá-las ou contratar condução escolar.
O ritmo de trabalho frenético também é outra coisa da qual não sinto falta. Aquela sensação de morrer de trabalhar eu ainda não experienciei por aqui. No Brasil estamos acostumados a trabalhar muito, agora que estou aqui, vejo que trabalhamos além da conta.
E sempre nos sentindo culpados, achando que poderíamos trabalhar ainda mais; que somos sortudos quando temos um emprego que nos permite entrar e sair no horário estipulado, já que fazer horas extras é tão comum em tantas profissões. Enforcar um feriado na empresa onde eu trabalhava era como submeter-se ao pecado da preguiça!
Ao voltar ao trabalho após uma doença, por exemplo, as pessoas te olhavam torto, imaginando que você estava se aproveitando de uma situação para fugir das suas responsabilidades profissionais. Aqui o foco é na qualidade de vida. As pessoas se permitem passar tempo com a família e ninguém tem vergonha de dizer que está precisando de férias!
2 Comments
Bem verdade, Carolina, estou na Australia ha 1,5 ano tambem, e minha comparacao com o RJ e bem parecida com a tua visao ai de Barcelona… amo minha cidade, mas que precisamos evoluir em muitos aspectos, ah, precisamos…
Oi, Lívia!
Obrigada pelo seu comentário! Pois é… a vida no Rio poderia ser muito melhor em diversos aspectos. Quem sabe algum dia? Eu estou sempre na torcida e acredito que você também! Sucesso para você aí na Austrália!