O sistema de saúde dinamarquês é essencialmente público e gratuito, e todo cidadão residente legalmente no país tem acesso a ele. Para isso, toda pessoa recebe um cartão chamado sundhedskort, que é o seu cartão de saúde onde constam o número do seu CPR (registro pessoal, número que equivale ao nosso CPF e RG no Brasil), seu nome completo e seu endereço; o grupo de saúde no qual você está registrado; o nome, endereço e telefone do seu médico de família; a data de início da validade do seu cartão e o telefone da prefeitura da cidade onde você mora. É obrigatório apresentar o cartão em cada visita ao médico, seja ao seu médico de família ou ao médico plantonista, bem como nas visitas ao dentista, quiroprata e para ser atendido no serviço de atendimento ao cidadão da prefeitura e na biblioteca municipal.
Há o sistema público, utilizado por toda a população, e um sistema privado, utilizado por uma parcela da população. O foco desse texto é o sistema público, cujo acesso é gratuito e garantido a todos os que vivem na Dinamarca legalmente.
Como funciona esse sistema?
O sistema de saúde divide os cidadãos em 2 grupos e a pessoa pode escolher o grupo em que quer se enquadrar: grupo 1, onde o tratamento com o médico de família e especialistas (sob encaminhamento) é gratuito e outros serviços de saúde como dentista, podólogo, psicólogo e fisioterapeutas são subsidiados; e grupo 2, onde o cidadão paga um valor extra para o governo para ter a liberdade de ser atendido por qualquer médico e demais tratamentos de saúde são subsidiados como no grupo 1. A grande maioria da população está no grupo 1 e caso a pessoa não escolha um grupo, ela é automaticamente enquadrada como grupo 1.
Toda pessoa tem direito a escolher um médico de família que irá atendê-la – caso não escolha ou caso o médico não possa aceitá-la, a própria municipalidade designará um médico. Esse é normalmente um clínico geral e será responsável por avaliar você e sua saúde em todos os aspectos. Caso venha a precisar de um especialista em determinada área, é o seu médico quem vai fazer o encaminhamento, mas em geral é ele mesmo quem vai lhe tratar, independentemente do que você esteja sentindo. Para ser atendido é preciso agendar consulta com seu médico e sempre é necessário apresentar o cartão de saúde no dia da consulta. Exames básicos como exame de sangue e urina são geralmente feitos no próprio consultório médico, que normalmente conta com uma secretária, uma enfermeira, o seu médico, um médico residente e um psicólogo. Exames mais elaborados para diagnósticos de doenças mais graves só são solicitados em casos específicos, e normalmente são feitos em hospitais.
Para ser atendido você precisa telefonar para o consultório e agendar, ou acessar o sistema de atendimento online do consultório do seu médico, onde você pode fazer o agendamento através de um sistema pelo computador, direto da sua casa. Sendo cadastrado e acessando esse sistema se pode marcar consultas, fazer perguntas ao médico, ver resultados de exames e renovar prescrições de medicamentos. A primeira consulta é sempre agendada por telefone e você precisa solicitar o cadastro no sistema do consultório para poder ter acesso à plataforma online de agendamento de consultas e comunicação com o seu médico via e-mail.
Os consultórios médicos funcionam em horário comercial, geralmente das 8:00 às 16:00 e têm períodos de férias, além de estarem fechados nos feriados nacionais. Se a pessoa precisar de atendimento de emergência pode telefonar para o lægevagt, que nada mais é que o pronto-socorro em hospitais, ou em casos em que não haja um hospital ou ambulatório por perto e seja uma emergência de risco de morte, por exemplo, ela pode ligar para 112, o número de emergência na Dinamarca, e pedir ajuda. Antes de ir diretamente ao hospital ou ambulatório mais próximo é preciso telefonar para o lægevagt e descrever o que está sentindo, para receber instruções por telefone sobre o que fazer e se é realmente necessário se dirigir pessoalmente para uma consulta de emergência.
Os tratamentos dentários são gratuitos para crianças, adolescentes e jovens até 18 anos.
Medicamentos
A compra de medicamentos é regulada pela agência de saúde do governo e a grande maioria dos medicamentos é vendida somente sob prescrição médica, incluindo pílulas anticoncepcionais, por aqui chamadas de P-piller. É possível, no entanto, comprar medicamentos como antitérmicos e analgésicos sem prescrição. Somente os medicamentos vendidos com receita são vendidos em drogarias (lojas físicas e online); demais medicamentos vendidos sem receita são vendidos em supermercados, lojas de conveniência etc.. Não há distribuição gratuita de remédios no país; portanto, se você precisar se tratar de uma doença crônica, por exemplo, terá que arcar com os custos do tratamento medicamentoso. Entretanto há a possibilidade de solicitar reembolso de parte do valor gasto com certos medicamentos – o valor do reembolso pode chegar até a 85% do valor gasto. É preciso, para isso, comprovar que o gasto anual com o tratamento supera o valor de 890 coroas dinamarquesas. As porcentagens dos valores de reembolso estão distribuídas assim: 50 %, para despesa compreendida entre 890 e 1.450 coroas; 75 %, para despesas entre 1.450 e 3.130 coroas; e 85 % do total, se a despesa for acima de 3.130 coroas. Medicamentos reembolsáveis ministrados a crianças e jovens até 18 anos são reembolsados em no mínimo 60% do valor da despesa. As informações sobre reembolso de valores gastos com medicamentos podem ser lidas em inglês no site da Agência Dinamarquesa Para a Saúde e Medicamentos.
Uma dica importante para viajantes: se você toma remédios por conta de algum tratamento que faça no Brasil ou no exterior e vier para a Dinamarca, ainda que por um curto período, traga sempre as prescrições do seu médico junto com os remédios. Pode acontecer de você ser controlado na aduana e bloquearem a entrada dos seus remédios por falta de prescrição, ou por serem medicamentos cuja venda é proibida ou restrita no país. Evite trazer remédios controlados na bagagem de mão.
Atendimento a portadores de necessidades especiais
Pessoas que precisam de cuidado médico especializado por conta de uma necessidade especial contam com ajuda extra para serem cidadãos ativos na sociedade. Cada comuna possui um comitê composto por 7 conselheiros que ajudam os portadores de necessidades especiais de várias formas. Para mais informações a respeito consulte o site do serviço ao cidadão (somente em dinamarquês). Há outro site onde é possível ler a respeito dos direitos concedidos aos portadores de necessidades especiais no país – acesse através desse link (somente em dinamarquês).
Leia sobre motivos para não morar na Dinamarca
Para quem já mora por aqui e quer entender melhor o sistema de saúde dinamarquês, aconselho consultar o site nacional de saúde da Dinamarca, com informações em dinamarquês a respeito do funcionamento do sistema, medicamentos, doenças etc. e onde também é possível consultar prontuários médicos pessoais emitidos por hospitais públicos, histórico de consultas médicas e tratamentos, prescrições de medicamentos e cuidados hospitalares, acessando com seu NemID pessoal; e também o site Just landed, se você acabou de chegar ao país ou pretende visitar a Dinamarca como turista. As informações no Just landed estão em inglês.
E para quem mora legalmente no país o sistema de saúde dinamarquês também conta com um serviço de ‘ombudsman’ para reclamações e questionamentos a respeito do atendimento efetuado por profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas, psicólogos, quiropratas e fisioterapeutas. No portal Patientombuddet é possível registrar a sua queixa em relação ao atendimento, diagnósticos, prescrição medicamentosa, problemas com o seu prontuário médico ou qualquer outro assunto relacionado ao atendimento pelos profissionais da saúde no país que tenha sido insatisfatório para você. As informações no portal estão disponíveis em dinamarquês, inglês e alemão.
Informações úteis
- Se você estiver de férias na Dinamarca e adoecer gravemente ou sofrer um acidente, você tem direito a tratamento médico e hospitalar gratuito no país, mesmo sem ter o cartão de saúde daqui ou o cartão europeu azul.
- Se mora na Dinamarca, guarde bem o seu cartão de saúde e lembre-se de sempre tê-lo na hora de ir ao médico. Sem ele você não é atendido nem pelo seu médico de família, nem pelo médico plantonista, bem como por nenhum outro profissional de saúde (dentista, quiroprata etc.).
- A emissão do cartão de saúde é gratuita, porém se você o perder ou se decidir mudar de médico ou grupo, ou se danificar o cartão atual e ele tiver menos de 4 anos de emissão terá que solicitar uma segunda via; essa é paga e custa 190 coroas (valor 2015). A solicitação é feita no Borgerservice da sua comuna e o novo cartão chega, em média, em 2 semanas.
- Caso receba cartas do governo convidando para exames preventivos e vacinas, sempre ligue ou escreva para se informar a respeito. Normalmente essas ‘ofertas’ são voluntárias, isto é, você só participa se quiser.
- O atendimento médico aqui pode ser por vezes decepcionante em relação a diagnósticos. Portanto, caso esteja com algum mal-estar que suspeite ser algo mais sério, exagere na descrição dos sintomas e insista para ser melhor examinado – só assim haverá uma chance de o seu médico solicitar exames auxiliares para lhe diagnosticar. Pode soar como má-fé mas a experiência que muitos têm é de ir ao médico, descrever os sintomas em detalhes e voltar para casa tomando paracetamol – por isso, solte o seu lado dramático no consultório; costuma funcionar!
- Consulte o site Lægevagten para informações sobre atendimento de emergência (médico e dentista), primeiros socorros e farmácias de plantão em toda a Dinamarca (somente em dinamarquês).
14 Comments
Olá Cristiane, tudo bem?
Gostaria de parabenizá-la pelo blog; muito legal, claro e útil. Quem me recomendou o blog foi uma amiga sua, Adriana Barin.
Estou tentando conseguir uma bolsa para fazer pós doutorado em Copenhagen (Universidade de Aarhus); não sei ainda se vou conseguir; o resultado deve sair em outubro. Se conseguir, pretendo passar 11 meses na Dinamarca e levar esposa e filho, de seis anos. Você sabe me dizer se teremos direito aos sistemas públicos de saúde e educação? Poderei colocar meu filho em uma escola pública gratuita?
Agradeço antecipadamente sua atenção.
Abçs
Marcelo
Oi Marcelo, obrigada pelo comentário. Eu falei com a Adri esses dias e ela me disse que iria recomendar o blog a um amigo.
Recomendo a leitura do meu texto sobre vistos, que pode ser bem útil no seu caso: https://brasileiraspelomundo.com/dinamarca-que-tipo-de-visto-eu-preciso-ter-371517231
Toda pessoa que resida legalmente na Dinamarca possui o CPR e tem direito ao serviço público de saúde no país. Sobre a questão da escola para seu filho, não sei lhe precisar exatamente como fica a situação mas recomendo perguntar no consulado da Noruega quando for fazer o trâmite para o visto. Outra opção é dar uma lida no http://www.nyidanmark.dk/en-us, apesar de que eu procurei por essa informação lá tanto em inglês quanto em dinamarquês e não achei nada que respondesse de forma clara. Sua esposa, enquanto acompanhante, não tem direito a trabalhar ou estudar gratuitamente na Dinamarca por conta do tipo de visto que terá, porém ela pode participar de cursos oferecidos por instituições filantrópicas no país ou mesmo pagar pelos estudos, se puder e quiser.
Recomendo também ler meus artigos sobre custo de vida e outros artigos sobre comportamento que já escrevi aqui no blog. Lá você encontrará informações muito úteis para sua vida na Dinamarca.
Espero que dê tudo certo com a bolsa para o pós-doutorado em Copenhague e aproveito para avisar que caso a resposta seja positiva, você já comece imediatamente a procurar moradia, tão logo eles digam que sua candidatura foi aprovada. Encontrar moradia em Copenhague tem sido um grande problema para muitos estudantes – o que aconselho é buscar em cidades ao redor, de onde você poderá se locomover via S-tog (metrô) ou trem para a universidade. Morar na capital é bastante caro, diga-se de passagem.
Caso tenha outras dúvidas, deixe-as em comentários nos textos que responderei assim que possível.
Abraços e continue nos acompanhando! 🙂
Muito obrigado pela pronta resposta, Cristiane! Comecei a dar uma olhada em aptos para alugar pelo Airbnb e vi que realmente é muito caro morar em Copenhague. Espero que venha logo a resposta ao meu pedido de bolsa (e que seja positiva!). Aí certamente precisarei de algumas dicas suas… Por enquanto, muito obrigado mais uma vez.
Abçs
Oi Cristiane! Em primeiro lugar, parabéns pelo blog! Tenho acompanhado constantemente, planejo começar um mestrado em setembro/2016, e tens me ajudado muito!
Posto isso aqui, para também ajudar, li nestes dois sites abaixo que a esposa do Marcelo pode sim trabalhar durante o doutorado dele, assim como minha esposa poderá.
https://lifeindenmark.borger.dk/Pages/Family-and-children.aspx?NavigationTaxonomyId=77c7d0b9-2133-4085-9ee5-d6d134fd8b28
http://www.nyidanmark.dk/en-us/coming_to_dk/studies/accompanying-family-members.htm
Grande abraço, e, por favor, continue nos contando mais sobre esse país que vai nos receber (hopefully!) logo.
Oi Tiago. Obrigada pelo esclarecimento. As leis mudam constantemente por aqui e eu perdi essa atualização, mas agradeço por enriquecer o texto com seu comentário. Vou, inclusive, editar o texto sobre vistos.
Agradeço o comentário e continue nos acompanhando aqui no BPM! Abraços 🙂
Boa Noite!
Parabéns pelo blog!
Tenho muita vontade em estudar na Dinamarca, no momento estou começando a levantar as informaçôes do programa de doutorado e afins, mas caso obtenha sucesso uma das coisas que mais me preocupo, é a questão da saúde, por eu ter uma doença crônica que necessita de constante tratamento e acompanhamento médico.
Pelo que li e entendi teria toda a saúde de forma gratuita e acessível, mas a medicação não. No Brasil minha medicação que é de alto custo eu consigo através do SUS e farmácias do governo. Estando na Dinamarca eu tenho como obter tal medicação via embaixada? Ou através do próprio sistema de saúde da DInamarca?
Obrigado
Felipe Fragoso
Felipe, muito obrigada por ler a minha coluna aqui no Brasileiras Pelo Mundo.
A questão dos remédios funciona assim: você pode comprar um seguro de saúde chamado Danmark e com ele obterá o reembolso dos valores gastos com medicação controlada. Não existe a hipótese de obter os medicamentos gratuitamente de onde quer que seja; é preciso que você pague por eles e solicite o reembolso, que pode vir a ser integral dependendo do valor gasto anualmente. Coloquei essa informação no texto mas talvez não tenha ficado clara. Acho pouco provável que a Embaixada possa prestar auxílio nesse caso, já que estando na Dinamarca, o que vigora é a lei daqui e as leis do Brasil vigoram apenas nas dependências da repartição consular.
Espero ter esclarecido a sua dúvida e sugiro a leitura de outros textos sobre a Dinamarca aqui no blog!
Abraços
Cristiane,
Tudo bem?
Muito obrigado por me respoder 🙂
Estou gostando muito da sua coluna, tentando ler o máximo possível ao menos tempo que me preparo para minha ida.
Vou procurar um pouco mais, pois no meu caso também envolve medicação de estudo clínico e afins, sabendo eu aviso aqui.
Obrigado e Abraços
Felipe
Eu é que agradeço por nos acompanhar e comentar. Se houver alguma possibilidade a esse respeito, que eu no momento desconheço, informe-nos!
Obrigada e abraços 🙂
Olá. Parabéns pelos textos! Sobre precisar da prescrição médica para comprar contraceptivos na Dinamarca: eu precisarei ir para consulta mensalmente ou numa única receita o médico pode incluir uma quantidade que eu possa comprar para vários meses? Obrigada pelas informações essenciais.
As receitas podem ser renovadas pela Internet no portal da clínica do seu médico de família, não é preciso voltar ao consultório para renovar receitas desse tipo de medicamento.
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Cristiane, tudo bem?
Obrigada por dedicar seu tempo para escrever esse texto e nos proporcionar informações tão acuradas! No entanto, ainda estou com uma dúvida a respeito de fisioterapia. Sofro de crises de dor nas costas e às vezes recorro à fisioterapia. Conforme informado em seu texto, fisioterapia é subsidiada pelo governo certo? É necessário encaminhamento de um ortopedista? Gostaria de saber se você já fez uso deste serviço e se tem algum comentário a fazer a respeito.
Muito obrigada!