De todos os estereótipos sobre a Índia, o trânsito é um dos mais fidedignos, pois corresponde ao caos total local, podendo até mesmo ser comparado a um enigma impossível de ser decifrado, considerando-se a deficiência na infraestrutura viária e a falta de planejamento nas estradas num país com 1,2 bilhão de habitantes concentrados principalmente nas metrópoles e nas cidades de médio porte.
A demarcação das vias e das calçadas é prejudicada pela falta de pavimentação, concorrendo para que tal desordem tome proporções ainda maiores, pois pedestres e animais, principalmente vacas, disputam o espaço das ruas com uma profusão de carros, ônibus, bicicletas, motos, tratores e tuk-tuks que se comunicam por meio de buzinas.
Num verdadeiro canteiro de obras a céu aberto, nas ruas e avenidas os carros, motos, ônibus, caminhões e os populares riquixás (veículo de três rodas que transporta passageiros) vão literalmente se acotovelando em busca de espaço. À distância, parece-nos impossível encontrar formas e saídas para solucionar o “nó” que se observa no trânsito, principalmente nos horários de pico. Contudo, a solução aparece seguindo-se a “lógica do melhor posicionado”. Eventualmente, pode ocorrer alguma discussão, mas maiores conflitos não são levados à frente.
Por mais incrível que possa parecer, há, sim, leis de trânsito na Índia, só que a maioria da população não as respeitam. É comum ver condutores e caronas circularem livremente sem capacetes nas motos, veículos superlotados extrapolando a capacidade permitida de passageiros, crianças nos bancos da frente, pessoas sem cinto de segurança, animais sendo carregados nas motos, enfim, todo tipo de excesso que se possa imaginar. Por essa razão, a Índia tristemente lidera as primeiras posições no índice de mortes no trânsito, segundo a Organização das Nações Unidas – ONU.
Como a Índia foi colonizada pelos ingleses, a mão da direção é invertida relativamente à adotada no Brasil. Por aqui, há pouquíssimos veículos com câmbio automático e grande parte da frota é velha e mal conservada. A permissão para dirigir é concedida por um departamento local e dos motoristas estrangeiros (turistas) é exigida a carteira internacional.
Por questões de segurança, nem eu nem meu marido dirigimos aqui na Índia e, sendo assim, no que diz respeito a transporte, utilizamos os serviços de um motorista contratado por uma empresa especializada. Esse recurso, aliás, não é considerado aqui supérfluo ou um luxo, como seria no Brasil, mas, sim, um serviço necessário à segurança de expatriados, inclusive por orientação das suas respectivas empresas contratantes, devido à cautela intensa que o trânsito local exige. Embora contemos com o “conforto” de ter um motorista, a falta de autonomia para nos locomovermos no trânsito acarreta certa dependência que, a meu ver, é difícil de assimilar.
Alguns brasileiros do nosso círculo social, no entanto, optaram por tirar a licença de motorista local, cujo processo é bem simples. De toda forma, eles só utilizam o veículo nos finais de semana, em algumas situações bem pontuais.
Os meios de transportes exigem precauções, principalmente para mulheres desacompanhadas. Em Bangalore, são indicados os serviços de transporte do UBER e de uma empresa de táxi chamada OLA. Há também empresas especializadas exclusivamente no transporte de mulheres, as quais são indicadas para estrangeiras.
Os indianos utilizam frequentemente os rickshaw, conhecido no Brasil como tuk-tuk, que funcionam como táxi, com grande oferta e baixo custo. Contudo, como a questão de segurança com a mulher é um ponto que necessita de especial atenção, o mais aconselhável é usarmos os serviços de transporte de empresas de conceituadas. Cidades como Délhi, Mumbai, Kolkata (Calcutá), Bangalore, Jaipur, e Gurgaon têm sistemas de metrô, apesar de haver pouquíssimas linhas. Já ouvi comentários de que o metrô de Delhi é muito bom e que esse serviço vem sendo aprimorado nas maiores cidades da Índia.
O serviço de ônibus urbano é muito utilizado pela população local e, apesar de a frota ser antiga e mal conservada, os ônibus estão sempre lotados. Já a frota de ônibus interestaduais conta com veículos confortáveis e em ótimo estado de conservação, com alternativa de ônibus leito e compra de bilhetes online. O problema é que a viagem é realizada ao som das buzinas e em meio a balanços causados pela falta de estrutura das estradas.
O transporte ferroviário, por sua vez, funciona muito bem, tendo sido implantado pelo ingleses. Atualmente administrado pela estatal Indian Railways, essa opção de transporte é aconselhável para viagens noturnas ou de curtas distâncias. A Indian Railways oferece diferentes classes de serviços que comportam todo o tipo de bolso e as linhas abrangem toda a extensão do território indiano. A desvantagem desse tipo de serviço é que, rotineiramente, os trens estão lotados e a higiene das instalações deixa muito a desejar.
Já o transporte aéreo indiano é muito bom, com empresas como IndiGo, Air India, Jet Airways, SpiceJet entre outras. Na minha opinião, este é o meio de transporte mais aconselhável para longas distâncias, cujo custo não é alto e a oferta de horário é bem ampla e os aeroportos têm boa infraestrutura e forte esquema de segurança, tanto que só é permitida a entrada do viajante. O único “porém” é que, se você for acompanhar ou esperar por alguém, precisa ficar do lado de fora do aeroporto.
Mesmo com todo o caos no trânsito, a população tem alternativas de escolha de transporte e locomoção, embora alguns sistemas uns sejam mais precários do que outros.
Como tudo na Índia, o trânsito também não é simples. Daí a importância, por parte dos estrangeiros, especialmente, de estarem atentos à garantia de segurança e de conforto quando da contratação desse tipo de serviço, orientando-se em referências confiáveis e planejando-se antecipadamente.
4 Comments
Gostei muito de todos os conteúdos e temas abordados.
Muito importante para quem quer conhecer esse país futuramente .
Abraço.
Ricardo Borges
Que bom o seu feedback!!! Bom saber que estansendo util!
oi. muito bom o teu posto. houve modificação desde que postastes estas informações?
Olá Leandro,
A Rachel Tardin parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM