Primeiras impressões da vida na Ilha de Man:
A chegada
Finalmente, após muitas horas de viagem e algumas conexões, embarquei em um pequeno avião, saindo de Londres rumo à Ilha de Man. Eu vinha sozinha do Brasil e aquele era meu último trecho. O voo estava cheio e os passageiros pareciam ser todos moradores da Ilha que foram resolver seus negócios em Londres.
A noite já havia chegado, mas ainda estava claro e nem assim eu conseguia enxergar a Ilha lá do alto, inúmeras nuvens impediam minha curiosidade de ver a paisagem que se aproximava. Foram 80 longos minutos de percurso que me fizeram respirar fundo pelo menos umas dez vezes. Era minha primeira vez naquela pequena ilha da Europa com pouco mais de 84.000 habitantes. Não se tratava de um descontraído passeio turístico, eu estava indo morar lá e isso me dava um enorme frio na barriga.
Naqueles últimos momentos dentro da aeronave, eu não pensava em nada do que havia ficado para trás, apenas imaginava o que me aguardava dali para frente. Era pura alegria, uma enorme ansiedade e a certeza de que minhas malas não chegariam junto comigo no meu destino final. Isso porque algumas horas antes eu fazia uma conexão em Casablanca, Marrocos e, posso afirmar, que nunca corri tanto na vida. Eu não podia, de maneira alguma, perder aquele próximo voo para Londres, mas infelizmente minhas malas, que carregavam minha pequena-grande mudança, não correram tanto quanto eu e só foram aparecer três dias depois.
O momento da minha chegada se aproximava e a aterrissagem foi anunciada. Ao pousarmos, meu coração estava acelerado e desci pela pequena escada do avião já experienciando o frio. Era primavera, mas para uma pessoa que vinha do sudeste do Brasil, aquele clima parecia ser o auge do inverno. Pobre de mim que depois descobriria que aquele dia “frio” era considerado um dia de temperatura muito agradável no país.
Lá estava eu chegando na Ilha de Man, um país que fica exatamente entre a Irlanda do Norte e a Inglaterra. E, para vê-lo no mapa, durante minhas primeiras pesquisas, era preciso utilizar o zoom de aproximação, caso contrário, era possível visualizar apenas um ponto no mar irlandês.
Enfim, o avião pousou. Depois de caminhar poucos metros, achei que teria que parar e observar as indicações das placas de localização do aeroporto, mas eu já estava no desembarque, mais exatamente na porta de saída e, com mais dez passos, já estava do lado de fora. O pequeno aeroporto se localiza no sul da ilha, próximo a cidade de Castletown, 11 km de Douglas, a capital. Essas informações básicas aprendi depois, já que no dia da minha chegada queria apenas desfrutar da sensação de alívio por ter chegado bem.
Fui recepcionada com muita saudade por alguém que eu não via há um mês, era meu marido. Tínhamos acabado de nos casar e era impossível não trocarmos tantos abraços e beijos naquele reencontro. Foi um momento muito esperado e, por isso, a alegria era evidente em meu rosto. Eu vestia um casaco preto de moletom bem confortável, excelente para a uma longa viagem, mas que não me aquecia do frescor primaveril sentido do lado de fora. O mais importante naquele primeiro momento é que meu coração estava aberto às novidades e não me deixei abalar por esse primeiro impacto. Mal podia acreditar que eu havia chegado para morar em um país que nove meses antes eu nem sabia que existia e, curiosamente, isso me deixava mais animada ainda.
O caminho do aeroporto até a cidade de Douglas, onde seria minha futura residência, já anunciava o que me aguardava. Procurei ser cuidadosa para não me deixar dominar pelas primeiras impressões e nem frustrar minhas expectativas.
De olhos bem atentos acompanhava todo o trajeto no qual predominava um verde vivo da natureza, muitos campos, ovelhas, bois, cavalos de roupa, mar para todo o lado e mais ovelhas. Achei um tanto quanto rural e bem bonito. Quase não havia trânsito e as ruas eram extremamente silenciosas, não se ouvia nada vindo de fora e quase ninguém circulava pela cidade.
O primeiro choque ocorreu na rua principal do comércio da capital, quando descobri que às 18h já não havia mais nada funcionando, uma leve sensação de cidade fantasma. Para não ser injusta, nem tudo estava fechado, os pubs espalhados pela cidade estavam todos em pleno funcionamento até mais tarde.
A capital apresentava uma interessante característica interiorana. Alguns traços confirmavam a minha impressão. Logo atrás dos prédios, na orla da maior cidade do país, eu conseguia avistar montanhas e até ovelhas pastando. Fiquei intrigada ao ver um bonde puxado a cavalo trafegando pela orla, por um instante fiz uma viagem no tempo. Essa espécie de trem, chamado Douglas Bay Horse Tramway, com seus 140 anos de existência, obviamente trata-se de uma atração turística muito peculiar e bem charmosa.
Esse movimento desacelerado e tranquilo percebi que também se estendia a outros serviços que precisei utilizar assim que cheguei, o que achei sensacional! Se tem algo que notei já na primeira semana é que aqui praticamente não enfrentamos filas. A primeira ida ao prédio do Governo, não havia fila alguma e também, aparentemente, ninguém para me atender. Havia apenas uma campainha que era justamente para chamar o funcionário que iria me auxiliar e, entendi que é assim que alguns serviços funcionam.
Ao me inscrever no NHS, o serviço nacional de saúde, observei a mesma forma de funcionamento. Primeiro era necessário agendar um horário e, em poucos dias já poderia fazer a minha primeira consulta e completar a minha ficha médica. Simples assim, sem filas e sem espera. Não posso deixar de mencionar que a interação com as pessoas também seguia esse ritmo, todos se mostravam tranquilos, eram muito educados e de forma simpática tiravam todas as dúvidas.
E foi assim minha chegada na Ilha de Man. Meu esforço inicial era tentar olhar ao redor sem tantos julgamentos, o que quase sempre é um desafio. Fui gradativamente usufruindo de todas aquelas novidades e entendendo certas singularidades e costumes, sem me deixar ser tomada pelo meu etnocentrismo. A partir dali minha grande e importante tarefa era de me preparar para os desafios que eu iria encontrar pela frente.
47 Comments
Caramba, boa sorte pra você. Vai ser interessante ler seus próximos blogs sobre a vida na ilha. Morei na Inglaterra trinta anos, mas nunca visitei.
Aguardo suas impressões.
Muito obrigada, Vera! Então você morou bastante tempo aqui bem perto, que bacana. No próximo texto tem mais informações e impressões sobre a Ilha.
Priscila, gostei muito da sua matéria, parabéns. Como sou historiadora, fiquei interessada em conhecer esse país. Você saberia dizer sobre valores de hospedagem, passeios turísticos, etc?Mais uma vez parabéns pela matéria.
Ei Adriana, que chique receber esse comentário de uma historiadora, Muito obrigada! Ainda nao tenho nada organizado sobre isso, mas se quiser me passar algum e-mail posso te passar algumas informações turísticas. Será um prazer ajudar.
Que maravilha de narrativa. Sensível e atenta. Parabéns pela bela escrita que me levou de braços dados nessa aventura. Abçs querida.
Olá Ruth,
Muito obrigada! Fico muito feliz em poder levar mais gente junto comigo nessa aventura, mesmo que seja por meio da escrita. Abraços
Que delicia acompanhar essa história. Me senti vivenciando essa experiência. Me encantam essas trajetórias, que um dia também sonhei em experimentar, mas s vida me levou a outras aventuras, aí vou me deliciando nos contos de amigos, rs.
Que maravilha, Alê! Fico feliz que tenha gostado, muito obrigada pelo carinho e incetivo de sempre. Te aguardo nos próximos!!
Deliciosa leitura… consegui viajar junto…
Muito obrigada, Valeria! Fico muito satisfeita pelo seu comentário.
Adorei sua matéria, espero conhecer mais de onde está e seus desafios.
Muito obrigada, Andressa! Que bom que gostou, tenho muita história para contar sobre aqui. Aguarde os próximos textos.
Pri, esse lugar parece ser lindo! Moro em Malta e, até então, jurava que era a menor ilha da Europa!
Senti falta de fotos aqui, tava ansiosa para ver esse lugar! Já joguei no Google e me apaixonei!
Parabéns pelo texto! Me deu muita vontade de ir conhecer!
Ei Isa, é bem bonito e como não é um lugar famoso a gente se surpreende com o que encontra pelo caminho. Realmente a quantidade de habitante aqui é muitas vezes menor que em Malta. Sobre as fotos, eu estou criando um blog de fotografia e algumas histórias daqui, já já sai do forno e entrará na minha descrição aqui.
Muito obrigada, se quiser conhecer a Ilha será ótimo encontrá-la!
Adorei o texto! Com uma descrição precisa e poética dos acontecimentos, me senti chegando a Ilha junto com a autora. Não vejo a hora de ler uma continuação dessa aventura!
Que percepção legal que teve, Denise! Fico muiro feliz em ler isso. Obrigada por me apresentar esse blog lindo. Em breve teremos a próxima história!
Oba!!! Não vejo a hora!
Nossa!!! Que emocionantes. Foi bom ler tantos detalhes e sentimentos desta jornada linda. Amei o lance de não ter filas e poder usar o NHS assim após 1 semana. Amei. Quero acompanhar mais e mais novidades.
Muito obrigada, Kelly! Nem sempre temos a oportunidade de contar tudo pessoalmente e a escrita faz esse papel. Te aviso dos próximos!!
Que legal Priscila! Eu também sou colunista aqui do blog e moro na Irlanda, do lado hehe Eu e meu marido temos muita curiosidade de ir conhecer a ilha de man! Quem sabe um dia marcamos um café por lá hehe Boa sorte por aí 😉
Ei Débora, já está marcado então, só me avisar quando puderem vir aqui. Como somos vizinhas, tem a opção fazer a viagem de ferry boat também. Obrigada e boa sorte
também!
Irmã!!!! Consegui sentir o cheiro da ilha….que maravilha!!! Quanto orgulho ???? quero voltar e aparecer no seu blog ? melhor não. Rsrs
Que maravilha, obrigada irmã! Volte logo para me visitar. Aguardando…..
Pri, você tem algum blog pessoal (instagram, page, algo assim)?
Adorei descobri sobre a ilha de man!
Oi Devart,
Que legal que gostou de saber sobre a Ilha de Man. Tenho um blog quase pronto para ser publicado que irei colocar fotografias e algumas histórias. Em poucos dias vou colocar no ar. O endereço estará embaixo da descrição do meu nome neste blog em breve.
Já pode lá conferir o meu blog: http://mundopequeno.im/
Bom saber de sua aventura e conhecer um pouco dessa ilha, até então totalmente desconhecida por mim. PARABÉNS. Beijos
Obrigada, Eliane! beijos
Amei o texto Pri!
Quero acompanhar todos!
Aguardando com ansiedade!
Que maravilha, Claudia! Muito obrigada por acompanhar!
Arrasou, como sempre!
Muito obrigada, Dani!! bjos
Amiga!! Que texto lindo.. encantador..me envolveu de tal forma que viajei com você..pude sentir todas as suas experiências. Vou ficar aqui acompanhando os outros textos ansiosa rsrs… Solta a próxima matéria! Sua escrita é linda!!! Bjss
Ei Mayra, muito obrigada!!! Que legal que gostou de acompanhar o início dessa aventura. Fica tranquila, em breve sai a próxima! bjos
Nossa Priscila viajei junto com a sua história, esse lugar parece até que não existe de tão perfeita, admito que fiquei curiosa em saber mais sobre aí !!
Obrigada, Mirian! É um lugar bem bonito, claro que tem o fato de ser bem frio, mas em relação a tranquilidade e beleza natural tem de sobra. O próximo texto vai explicar melhor alguns detalhes da Ilha, espero que acompanhe também. Até a próxima!
Priscila, surpreendente sua matéria, a gente já se ensaiava nessa área, fazendo nosso jornalzinho no Centro de Convivência de Jardim Camburi, mas você ainda não havia dado esse pulo para o alto, a de colunista! Adorei! Parabéns!
Ei Ada,
É verdade, tivemos ótimos momentos no jornalzinho do Centro de Convivência!
Obrigada por ler e comentar!
abraços
Oi Priscilinha tudo bem?
Que legal esta narrativa , estava viajando junto e imaginando o passo a passo. Bacana isso tudo! Estava lendo e ficando curioso pelas novas histórias!
Boa sorte aí! Deus te abençoe!
Bjs do primo nino
Muito obrigada, Nino!
É realmente uma experiência desafiadora. Em agosto tem mais história, pode aguardar! Bjo
Prima por um instante me senti na Ilha de Man. Texto maravilhoso, parabéns!!!♡♡
Que legal que acompanhou de perto a prmeira história!Muito obrigada pela leitura e comentário. Te espero nos próximos textos, prima. bjos
Estive na ilha em junho, para assistir a corrida! Voltei completamente apaixonado pelo lugar… As pessoas… Os lugares… A comida… Tudo me deixou bobo…
Olá Danilo,
Que bacana que você estava aqui na última corrida. Mesmo morando na ilha ainda me surpreendo positivamente com muitas coisas, tudo bem diferente, né?
Não sei se viu, mas escrevi recentemente sobre a corrida: https://brasileiraspelomundo.com/a-corrida-da-morte-na-ilha-de-man-110665007
E se quiser conhecer mais coisas da Ilha de Man, também tenho um blog pessoal: http://mundopequeno.im/
Obrigada por comentar!
Olá Priscila!
Parabéns pelos posts. Excelentes!
Queria tirar uma dúvida… Quais as formas de conseguir cidadania na Ilha de Man? Pelo que sei ela faz parte da coroa britânica, mas é um país… Então fiquei na dúvida. E quais os documentos necessários para conseguir a cidadania aí? Penso em morar na ilha de man.
Olá Rafael,
Obrigada por acompanhar os artigos!
A ilha de Man é um país independente, mas as relações externas são realizadas pelo Reino Unido. Quando fui solicitar meu visto eu me dirigi, ainda no Brasil, ao consulado do Reino Unido que foi quem me forneceu o visto.
Para ter cidadania você precisa morar por 5 anos ininterruptos na Ilha.
Para morar legalmente antes de obter a cidadania e o passaporte manx, você pode usar a cidadania européia, caso tenha.
Se só tiver o passaporte brasileiro pode viver legalmente na Ilha se for casado com uma européia.
Se não se encaixar em nenhum desses casos você precisa ter um visto de trabalho, ou seja, você precisa conseguir um emprego na ilha que te forneça o visto de trabalho.
Como brasileiro você tem direito de ficar 3 meses como turista, mas precisa fazer isso de forma bem correta pois a imigração que você vai passar é a de Londres que é bem rígida.
Neste link tem mais informações:
https://www.gov.im/categories/travel-traffic-and-motoring/immigration/foreign-nationals-and-entry-clearance-applications/
Espero ter esclarecido
Olá Priscila!
Quero dizer que adorei a matéria, sua escrita me fez viajar por esse lugar fascinante.
Sonho em viver fora do Brasil um dia mas tenho medo do inesperado.
De alguma forma sua escrita me encorajou.
Obrigada por compartilhar sua experiência. Certamente visitarei seu blog, ávida por mais textos como esse.