Logo que retornamos à Áustria e o ano de 2019 se iniciou, meu filho passou uma semana inteira falando em um tal de Bee-bot. “O Bee-bot faz isso, o Bee-bot faz aquilo, a gente dá comandos e ele obedece”. Eu, na minha ingênua imaginação de mãe nascida ainda no século passado, pensei: “deve ser algo da fantasia dele ou algo que viu no Youtube”. E deixei por assim.
Ok, em determinado dia vou buscá-lo no Jardim e vejo no mural, correspondente a sua sala, a informação de atividades das crianças pré-escolares (meu filho é pré-escolar) durante a semana e… Bee-bot!
Atentei-me aos dados ali constantes e preciso reconhecer que me choquei com a descrição do conteúdo desenvolvido com os pequenos: 1) iniciação à robótica; 2) iniciação ao raciocínio de programação; 3) programação em nível básico. E eu pensando que era uma fantasia do meu filho! Realidade em forma de tijolaço na cara, isso sim!
O que é esse Bee-bot afinal e por que me choquei? Bee-bot é um robozinho em forma de abelha, pedagogicamente desenvolvido, para iniciar crianças bem pequenas aos primeiros contatos com um robô e com a comunicação computacional. A abelhinha, então, pode ser programada através dos botões em seu próprio corpo ou via tablet. Os comandos são bem simples, mas exigem raciocínio lógico das crianças, pois no nível mais avançado, o autômato precisa cumprir um percurso, como uma pista de fórmula 1, por exemplo.
Os pequenos necessitam, então, ter noção exata de quantos passos para frente ele precisa andar, depois quando fazer a curva – noção de esquerda e direita -, quando retornar à pista reta, enfim. Tudo isso é estudado e, na sequência, os pequenos programam o robô e o soltam na pista para que cumpra o que eles comandaram. Pra lá de interessante, não?
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Quanto ao meu choque: deu-se, porque dentro da minha desavisada inocência, esse “futuro” estaria um pouquinho distante ainda. Eles nem ler ou escrever sabem! Depois do susto, compreendi que é um raciocínio o que se está desenvolvendo, não depende de ler ou escrever ainda. Entendi, também, que meus conceitos de futuro estavam totalmente desatualizados no que diz respeito à educação das crianças do século XXI. Fiz um propósito de me reciclar urgentemente! Não é fácil, mas de extrema necessidade!
Como meu pequeno já tem uma predileção por tecnologia, pediu-me para visitar uma feira de robótica que ocorreria em Viena. Ele tinha curiosidade em compreender o que era Virtual Reality. Muito bem, a feira internacional, de estudantes de primeiro e segundo-graus, tinha entrada franca, sem limitação de idade. Lá fomos nós. Além dos estudantes e professores do mundo todo, havia, obviamente, representantes das empresas de tecnologia, expondo seus produtos.
Quem encontramos lá? Bee-bot! Quando os expositores iniciavam sua explicação, meu filho já tinha cumprido boa parte da programação do robozinho antes que eles finalizassem a orientação. Eles perguntavam como ele sabia utilizá-lo tão bem. Meu pequeno, então, respondia que eles já “trabalhavam” com o Bee-bot no Jardim de Infância. Fui informada, posteriormente, pela Diretora do nosso Jardim que esse é um programa de governo adotado maciçamente no Estado onde moramos, a Baixa Áustria, para que as crianças, ainda na tenra idade, já se familiarizem com a tecnologia. Interessante e, pelo jeito, um caminho já sem volta!
Minha segunda surpresa quanto a tecnologia e educação básica ocorreu quando recebemos o jornalzinho do distrito. Ali, constam informações relacionadas a vida do bairro. Pois bem, na capa, a manchete era “Smartboards para a escola primária” (Smartboards für Volksschule). A matéria registrava a compra, por parte da escolinha primária (de primeira a quarta série), para as 4 turmas, de 4 Smartboards, ou seja, a antiga lousa será complementada por tablets de 2 metros de comprimento, fixados na parede, para o ensino das crianças. Meu filho, e seus coleguinhas, aprenderão a ler e escrever com o auxílio desse gigantesco aparelho touchscreen, conexão simultânea para vários equipamentos, e, para mim, de novo, era como se estivesse dentro de uma cena do filme Minority Report. A prefeitura do nosso distrito, a pedido da Diretora da escola, efetuou a compra dos aparelhos.
É evidente que a ultrapassada da história sou eu. Meu filho não tem nenhuma dificuldade com a utilização da tecnologia que, sim, exige de nós, mães e pais, constante vigilância e responsabilidade na autorização do uso, porém, penso que, nesse estágio, o contato com o “futuro” não comportaria mais proibição absoluta. Por outro lado, conheço famílias que não liberam a utilização de eletrônicos pelos filhos da mesma idade do meu. Não é uma crítica! Cada família sabe melhor de si e isso deve ser respeitado, porém, em algum momento, a criança, aqui, irá obrigatoriamente se defrontar com um eletrônico.
As preocupações, de nós, mães e pais, serão então: meu filho já sabe ler e escrever? Meu filho já sabe usar o Smartboard corretamente? Essa segunda pergunta não existia para nossos pais. No nosso tempo eram somente a professora, o caderno, o lápis e a lousa. Hoje, para nós, isso não é mais suficiente. Há o Smartboard, o Bee-bot, a programação, os tablets como fonte de aprendizado também. Não são brinquedos. São ferramentas pedagógicas que não mais podem ser desconsideradas!
Deixo como reflexão a pergunta que faço a mim mesma frequentemente: como nós, mães e pais estamos preparados para esse futuro que já está dentro das nossas casas? Estamos preparados?
Um abraço e até a próxima!