Quando recebo e-mails de famílias que estão vindo morar aqui no Qatar uma das perguntas mais frequentes e a maior preocupação de quem tem filhos é: Como vou colocar meus filhos na escola? Eles não falam inglês!
Peço sempre para se acalmarem, aqui têm diversas boas escolas internacionais, que seguem o currículo britânico ou americano e tem até uma escola que ensina português como uma das opções de língua. Para quem quer saber mais sobre as escolas no Qatar, basta clicar aqui.
E para as crianças de 0 a 4 anos? O que fazer com eles? Como introduzir o inglês ou o árabe?
Em março desse ano comecei a trabalhar numa creche como professora de ginástica e estou acompanhando de perto a evolução dos pequenos e entendendo um pouco melhor como funciona a pré-escola no país.
A primeira coisa que tenho a dizer é que crianças são como esponjas, elas aprendem tudo o que ensinamos, tudo mesmo. Comecei a cantar “Atirei o pau no gato”, em português mesmo, e depois de três ou quatro vezes algumas delas já pronunciavam “aaaatireiiii… o gato to to … dona chicaaaaa… miauuu” e bem, eu tive que parar; afinal, português não é uma das línguas que constam no currículo.
Grande parte das creches aqui ministram a maioria das aulas em inglês, porém elas também oferecem aulas em árabe e em francês. Ou seja, o mesmo conteúdo que as crianças vêem em inglês (palavras, cores, números, formas geométricas) elas também aprendem nas outras duas línguas.
As creches são dividias em centros educativos. A que eu trabalho tem quatro: Círculo (que tem foco em desenvolver a linguagem falada e escrita), Matemática (onde se aprende sobre números e formas geométricas), Criatividade (trabalhos manuais e cores), Descoberta (experimento com diferentes materiais englobando um pouco de todos os outros centros) e Ginástica (estímulo ao movimento, coordenação motora, equilíbrio e música).
As crianças são separadas em grupos de acordo com sua faixa etária e elas andam pela creche na companhia de duas ou mais assistentes de classe, indo de uma sala para outra. Ou seja, não é a professora que vai até as crianças, são as crianças que vão até a professora.
Eu achei isso muito diferente. Não sei como está no Brasil agora, mas quando eu era pequena, me lembro de ter só uma professora que ficava com a gente dentro de uma sala o dia inteiro e era responsável por ensinar todas as disciplinas. O nome da minha era tia Cláudia, cabelo longo cacheado, tenho algumas memórias dela (mesmo depois de mais de 25 anos).
Antes de começar a andar, os bebês ficam no berçário e tem uma aula de ginástica por dia. Meus 40 minutos preferidos! Eu canto e caminho com aqueles que conseguem ficar de pé e faço massagem naquelas coisinhas rechonchudas.
Os planos de aula são desenvolvidos semanalmente. Geralmente possuem temas centrais relacionados a cor, letra, número ou forma geométrica da semana. Por exemplo: Quando estudamos a letra G o tema foi Gingerbread man e na quinta feira (último dia da semana aqui) assamos biscoitos que, para a minha surpresa, não tinham gengibre (ginger), só canela.
Todas as creches, ou pelo menos todas de que tenho conhecimento, tem um sistema de monitoramento por câmeras. Isso significa que enquanto seu humaninho estiver por lá, você pode vê-lo de casa, conferir se está tudo bem. Sei que é algo que dá uma segurança especialmente para os recém-chegados no país. Sempre ouço os pais me dizerem que tem medo que seus filhos fiquem assustados por ninguém falar a língua deles.
A experiência da creche aqui é muito importante, principalmente porque é na creche que as crianças que não tem o inglês como língua materna tem o primeiro contato com a língua e onde também elas são preparadas para o teste que irá avaliar se elas estão aptas ou não a frequentar uma escola no país. Como são poucas as escolas, as vagas são bem concorridas e todas as crianças, independente da idade, são obrigadas a fazer o teste.
Esse teste, na idade entre 3 e 4 anos, avalia se a criança conhece as cores básicas, sabe contar até 10, reconhece ou escreve o próprio nome, conhece ou sabe desenhar as formas geométricas básicas, sabe segurar um lápis corretamente e usar uma tesoura. Eles também avaliam a compreensão a comando básicos como “vem aqui”, “senta”, “quer comer ou beber?” na língua inglesa.
Em apenas sete meses pude ver o quanto os pequenos são bem mais fortes e safos que a gente. Vi crianças que não falavam nenhuma palavra em inglês saírem da creche para a escola grande (como elas chamam) com o inglês na ponta da língua. Vi crianças tímidas se tornarem comunicativas; crianças inseguras criarem coragem para fazer qualquer coisa. Elas acham que eu sou a professora quando, na verdade, eu sou a aluna, pois eles me ensinam todos os dias a nunca desistir de tentar e que errar faz parte do aprendizado.
6 Comments
Eu estou cá no qatar desde Maio e tenho um filho com 4anos e queria pólo numa escola .
Nós somos portuguêses ;mas o meu problema é a língua.
Oi Susana! Pode coloca-lo que ele aprende!
Em três meses ele já vai estar adaptado, você vai ver. Crianças são esponjinhas, aprendem bem rápido.
Grande abraço!
Escolas para ele podem me ajudar.
Oi Susana! dá uma olhadinha nesse post do DesbravaDoha sobre escolas no Qatar clique aqui . Lá tem uma lista com algumas escolas.
Espero ter te ajudado, grande abraço!
Oi. Tudo bem?
Você tem alguma postagem para brasileiros que não falam inglês ? Como se da a adaptaçãoem geral .
Obrigada , Karla
Olá Karla,
A Thais Cunha, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM