Quando moramos distantes de nossas famílias de origem, esperamos ansiosamente pela visita deles, elaboramos os roteiros dos passeios, preparamos a casa, organizamos compras de supermercados e abrimos espaços em nossas agendas para melhor recebê-los, pois esse momento é sempre permeado de emoção e ansiedade.
Todo o preparo que antecede a vinda de pessoas queridas é idealizado com carinho e todos os detalhes são especialmente escolhidos para atender o gosto de cada visitante.
Da mesma forma que criamos expectativas, nossas visitas também planejaram e fantasiaram situações para essa viagem. Portanto, existe algo já pré-estabelecido tanto para quem recebe como para quem é recebido. Tal expectativa é potencializada quando a programação é para Índia, um país que faz parte do imaginário popular por conta dos contos e romances míticos e fantasiosos que incitam o mistério e a sensualidade, dos costumes exóticos, das tradições e contradições, da sabedoria ancestral, enfim, desse mix que faz da Índia um lugar diferente.
Dificilmente a Índia corresponderá às expectativas de todas as pessoas, que por vezes se frustram e por vezes se encantam e, nesse contexto, cabe aos anfitriões acolher todo o turbilhão de emoções despertado por essa enigmática viagem em seus convidados.
Eu sempre gostei de receber visitas e, especialmente aqui na Índia, tenho me atentado à forma que os indianos recebem suas visitas e constatei que eles são ótimos anfitriões e recebem sempre com muito apreço, pois eles entendem que a visita é algo muito agradável. Gestos simples denotam a atenção a pequenos detalhes que contribuem para o conforto do seu visitante e evidenciam sua maneira bem receber. Exemplo disso é o ritual indiano de servir algo líquido ao visitante tão logo ele chegue, pois parte-se do princípio de que ele esteja com sede pelo calor ou pelo cansaço da viagem.
A Índia não costuma ser o principal roteiro de turismo para os brasileiros, pois a grande maioria dá preferência ao “estilo americano”, enquanto alguns arriscam jornadas pela Europa. Para a Índia, geralmente vem aquele turista que já rodou o mundo ou que tem interesses específicos como ioga, meditação ou medicina ayurveda.
Morando na Índia, tenho recebido um outro tipo de turista, aquele que vem porque tem alguém próximo morando no país, fator que facilita o seu acesso a essa rota tão incomum.
A globalização e a estabilidade financeira conquistada pelo Brasil nas últimas duas décadas contribuíram para estimular o turismo no país, sendo que alguns brasileiros tornaram-se quase “profissionais” no quesito viagem. Atualmente, as prioridades se transformaram, e gradativamente as pessoas almejam viagens ao redor do mundo.
Assim, o sonhado Taj Mahal passou a ser incluído em muitos roteiros e hoje eu me vejo sendo guia do sonho do imperador mongol Shah Jahan, que construiu o mausoléu para sua amada Aryumand, que ele carinhosamente chamava por Mumtaz Mahal, que significa “a eleita do palácio”.
As opções de roteiros são muitas, mas, particularmente, eu faço questão de levar meus hóspedes à cidade rosa “Jaipur”, mostrada na novela “Caminho das Índias”, que abriga o Forte de Jaipur, os artesanatos do Rajastão e onde elefantes e camelos circulam normalmente em meio ao trânsito da cidade.
Paralelamente à Índia exuberante, há a Índia suja, com cenas fortes para nossos olhares, onde hábitos tão distintos que são difíceis de serem imaginados como reais. Os turistas reagem com olhares atentos sem muito entender o sentido de todo esse contraste.
De toda forma, seja para o turista experiente ou para quem viaja ao exterior pela primeira vez, a Índia sempre envolve o seu visitante, seja pela gastronomia, pela estratégia de negociação, pelo vestuário, pelo trânsito, pontos de curiosidade que acho interessante detalhar.
A comida local é difícil de ser “compreendida”, pois a maioria dos restaurantes indianos espalhados pelo mundo oferece um cardápio ocidentalizado, pois massala tem sabor mais leve, o ambiente tem estilo e há sempre talheres disponíveis. Ao contrário do que pensam os turistas, a maior dificuldade quanto à alimentação não é a carne, mas a pimenta que torna os pratos muito picantes. O problema é que os indianos juram que não há pimenta, por mais que se peça a retirada desse ingrediente.
A barganha nas compras é indescritível, pois se revela um verdadeiro jogo no qual o vendedor sempre coloca um preço que o produto não vale e o turista sempre fica desconfiado com o valor. Alguns acham essa negociação divertida, outros muito cansativa. Qualquer compra é longa e demorada e nunca se sabe se pagamos um preço justo.
Quem opta pela Índia como roteiro turístico sempre tem dúvidas ao fazer as malas, já que os indianos se vestem de forma autêntica. Os homens usam os Dhoti, Lungi ou Kurta combinando as sandálias e as mulheres usam sarees, kurtas e outras roupas típicas que dificilmente deixam as pernas ou os ombros à mostra. O ideal é usar roupas confortáveis, frescas e discretas, ou seja, nada muito decotado nem justo.
O trânsito é caótico, aparentemente sem leis que o regulem, pois carros passam em meio a vacas, motos, bicicletas, tuk-tuks que se seguem como se não tivessem rumo, buzinando assustadoramente a qualquer momento, em mão inglesa, contrária a do Brasil. Creio que esses são motivos mais do que suficientes para os turistas desistirem de alugar um carro para desbravar o país.
Assim, pouco a pouco, aquela Índia idealizada vai tomando outra forma, contudo, sem deixar de ser uma experiência muito rica e interessante.
8 Comments
Adoro essa autora! Minha vontade de passar um tempo na India só aumenta!
Estou te esperando!!!!
Oi Raquel, eu adorei a maneira que descreve a Índia, estou planejando conhecer a Índia em 2018, e desde então tenho lido muito sobre esse país, escolhi Índia pq quero conhecer uma cultura totalmente diferente da minha. E se eu conseguir alguma coisa pra fazer talvez eu fique uns 3 meses. Minha intenção não é só “turistar” gostaria, se possível, participar de algum projeto social, ou trabalhar em em alguma coisa, enfim. Eu quero viver um pouco a tão exótica Índia
Que bacana!! Espero que seus projetos estejam firmes.
Oi Rachel, estou perto de você, moro em Cochin. Concordo com tudo que você descreve aqui e também aprendi muito da arte de “anfitriar” com o povo indiano. Abraços!
Que bacana Juliana!!! Sabe bem o que digo…
Juliana Estou lendo seu post , eu meu marido, pretendemos passar uns meses ai para estudar.
Gostaria de saber mais sobre a vida ai, como fazer compras em supermercados e farmácias, alugueis . Uma visão geral. Estou com um pouco de medo.
Rosanny
Oi, O artigo desse mês é sobre Bangalore, acredito que ira te ajudar. Qualquer duvida maior pode perguntar.