Uma das coisas que pouco sabemos ao chegar em Taiwan, é a maneira de como lidar com o lixo que produzimos. Por aqui, é obrigação de todo cidadão separar o seu próprio lixo – fazendo com que a ilha, seja um exemplo de reciclagem de lixo para o mundo.
Segundo os próprios taiwaneses, em meados da década de 1980, antes de Taiwan implementar os caminhões musicais, os cidadãos amontoavam seus lixos em grandes lixeiras colocadas nas esquinas da cidade. O lixo apodrecia, o cheiro era terrível além de atrair muitos ratos e baratas. Foi nesta época, que o governo se preocupou muito com a situação, pois era um momento em que o país queria expandir a indústria e atrair turistas. Foi assim, então, que começou um grande levante em relação ao tratamento do lixo para ter cidades mais limpas e tentar se colocar como uma nação de primeiro mundo.
Segundo a EPA (Administração de Proteção Ambiental), setor que administra a reciclagem de lixo em Taiwan, o índice de coleta de resíduos tem aumentado gradativamente, bem como, os diferentes materiais reciclados. De 1998 a 2015, a taxa de coleta aumentou de 5% para 46%, segundo o gráfico da EPA. Hoje em dia, a população também está despejando menos de 400 quilogramas de lixo por pessoa diariamente. O que antes era um caos a céu aberto, hoje impressiona a quem chega. Para se ter uma ideia, o Brasil recicla somente 3% de todo o lixo produzido e, esta taxa, ainda é considerada muito baixa.
Lembro-me bem que quando fomos jogar o lixo pela primeira vez, encontramos na área de coleta do prédio inúmeras lixeiras e logo pensamos: vamos ter que aprender mais sobre reciclagem. Uma das primeiras coisas que fizemos, foi separar o lixo de casa em três lixeiras: uma para plásticos, outra para papéis e por fim, o orgânico. Mas ainda assim, a separação do lixo é bem mais minuciosa.
Como funciona?
Atualmente, dois caminhões – um de coleta orgânica e outro de coleta reciclável – ao longo de suas rotas, passam nas ruas com uma música bem característica da melodia de Beethoven – Für Elise. Durante os cinco dias da semana, moradores vão até os pontos designados de coleta onde estes caminhões ficarão parados por algum tempo, para que as pessoas, possam entregar seus sacos de lixo. É interessante ressaltar, que todos sempre podem contar com a ajuda de operários.
Ao mesmo tempo que possa parecer um caos ter os moradores indo ao mesmo tempo para o mesmo lugar levando seus sacos de lixo, todos se respeitam e tudo acontece muito bem.
No caso de alguns edifícios residenciais, existe uma lixeira central com vários lixos e o caminhão tem a permissão para entrar e retirar os resíduos. Como mencionei acima, temos caminhões diferentes para coleta de lixo que passam em dias e horários distintos, porém acontece de alguns prédios elegerem um responsável pelo lixo, e este fica incumbido de levar todo o lixo até o caminhão, mas a verdade, é que cada edifício administra internamente o seu lixo.
O despejo é único e exclusivamente realizado no caminhão. Se não despejar naquele dia, será necessário aguardar o próximo dia, com o lixo em casa para o despejo. E ainda, se não fizer a seleção correta de lixo, o governo pode penalizá-lo com uma multa que custa em torno de R$ 800,00 (oitocentos reais). Nas ruas, não há lixeiras públicas para que você possa jogar este lixo. Ah! E quase não se vê lixeiras públicas comuns. Você anda horas com uma garrafa plástica na mão até encontrar uma lixeira. Isso tudo, foi propositalmente feito para educar os taiwaneses de que a responsabilidade de colocar o lixo no lugar correto é de cada cidadão.
O lixo
Existem sacos específicos para cada tipo de lixo. Aqui em Taipei, os lixos orgânicos são embalados em sacos azuis e você precisa comprá-los. Já para o lixo reciclável, pode ser utilizado outra cor. Em casa, procuro sempre já separar um pouco o lixo para facilitar a seleção quando chegar nos coletores do edifício.
Só para terem ideia, existem coletores em nosso prédio para latas, vidros, plásticos, sacolas plásticas, papéis, caixas de papelão, jornais, orgânicos e roupas. Somam em média 8, no entanto, a separação solicitada pelo governo passa de 13.
Assim que chegamos, a limpeza das ruas da cidade realmente nos marcou. Até mesmo embaixo de viadutos não existe margem para críticas. Quando tem os tufões, a cidade parece estar em pleno outono por conta da quantidade de folhas e galhos espalhados pelo chão. Basta passar os primeiros dias e tudo volta a ficar como era antes. Em geral, a população procura manter a limpeza da cidade. Outra cena que já presenciei mais de duas vezes, foi ver alguma sujeira no chão, de papel ou plástico, e algum cidadão juntar e colocar em sua própria sacola ou levar até uma lixeira.
No Brasil, temos muito o hábito de reutilizar as sacolas de mercado. Aqui, a etiqueta é que você leve sua sacola para não precisar comprar sacola plástica. Sim, por aqui toda sacola plástica solicitada é paga – uma forma de fazer com que as pessoas pensem na saúde do meio ambiente.
Com tudo que estou vivenciando neste sentido em Taipei, vou tendo a certeza de que ainda temos muito o que aprender sobre reciclagem de lixo!