Refugiados em Atenas.
Passei por uma experiência bem triste no verão. Planejei uma viagem com meu namorado para Spetses (uma das tantas ilhas encantadoras da Grécia) e fomos pegar o barco de manhã cedinho no porto de Pireus. Ao chegar lá de metrô já pude ver na estação uma movimentação diferente. Muita gente carregada com sacolas, usando roupas sujas, e carregando um olhar meio perdido, de quem não sabe exatamente pra onde ir. Fomos caminhando até o porto e vi outras pessoas na mesma situação espalhadas pela praça e nas calçadas, e me dei conta de que eram refugiados recém-chegados ou aguardando por ali um destino a seguir. Me senti bem mal, é estranho você estar de férias, indo passear e se deparar com uma visão assim (e a gente preocupado com a bateria do celular que estava descarregando…).
O ano de 2015 vai ficar marcado para sempre na história mundial como um ano difícil para o continente europeu. E a Grécia está no centro de muitas dessas complicações. Não apenas pela grave crise econômica, que quase fez o país sair da zona do euro, mas também pela crise dos refugiados. A Guerra na Síria revirou esse país de cabeça para baixo, e boa parte da população tenta escapar para salvar suas vidas. Cerca de quatro milhões de pessoas já deixaram o país desde o início dos conflitos em 2010.
A Grécia está em posição geográfica que facilita a entrada desses grupos no continente europeu. Mais de quatro mil pessoas desembarcam diariamente nas ilhas gregas (especialmente Lesbos e Kos), na esperança de atravessar o continente e chegar nos países do norte, em que a situação econômica não é agravante e onde podem assim recomeçar suas vidas. Nesse trajeto Síria – Grécia (muitos entram também pela Itália), nem todos conseguem chegar. Vale lembrar que essa situação não é recente, antes dos conflitos da Síria, pessoas de diversos países em conflito (na África e Oriente Médio, principalmente) já arriscavam suas vidas em busca de um futuro na Europa. E assim continuam, principalmente do Afeganistão.
Os que chegam finalmente às ilhas, passam por um registro e seguem caminho, vindo de barco para Atenas e aqui aguardam um certo período até que seu destino final seja estabelecido. Algumas dessas pessoas, como crianças, idosos e mulheres recebem assistência e proteção especial, como acompanhamento médico. A Grécia não é o país onde os refugiados querem ficar, eles sabem da situação econômica daqui, mas muitos não têm alternativa a não ser esperar. E assim transformam parques, jardins e áreas comuns da cidade em moradias temporárias. Veja aqui.
Assim como em outros países europeus, a Grécia tem uma relação complicada com a imigração ilegal, com muitas histórias de perseguições de membros do partido nazista a africanos, indianos e árabes (muitas vezes que moram aqui há anos). Polêmicas à parte, na questão dos refugiados, muita gente está ajudando, o que nos deixa com uma pontinha de esperança na humanidade. Seja através de doações de roupas, alimentos, sapatos, atendimento médico, aulas de idioma ou até mesmo oferecendo trabalho voluntário em instituições que ajudam essas pessoas reunidas em acampamentos improvisados.
Uma amiga brasileira resolveu se voluntariar em uma das instituições e conta como é mais ou menos o dia a dia dos que trabalham por lá: “A Caritas em Atenas tem uma cozinha comunitária, que serve almoços todos os dias, distribuição de roupas para homens, mulheres e crianças, aulas de inglês e grego, entre outras atividades. A maioria dos voluntários temporários se revezam entre a cozinha e as roupas.” Assim como ela, muitos voluntários são estrangeiros, e alguns estão há anos por lá, mas o movimento aumentou bastante este ano e são ações como essa que de certa forma confortam essas pessoas.
Além disso várias empresas em Atenas, inclusive onde trabalho, fizeram campanhas para doações e tem sido grande o volume de roupas e alimentos arrecadados.
A imigração ilegal é um problema na Europa há muitos anos. Mas os sírios, afegãos e outros povos que vêm de países em conflitos são tratados de maneira diferente por estarem em zonas de risco e não terem muita escolha. É fugir do seu país ou ser vítima da guerra. Por isso o Conselho Europeu criou um programa de realocação de refugiados para aliviar a situação de países como Grécia e Itália e custear a mudança de parte deles para outros países preparados para recebê-los.
Mais de 500 mil refugiados entraram na Europa em 2015 e esse número deve continuar alto em 2016. Ficamos na torcida para que novas medidas sejam tomadas para ajudar essas pessoas!
4 Comments
Muito legal!! Adorei o blog
Que bom que gostou Priscila! Continue acompanhando nossos posts! 🙂
Oi Clarissa, te bem?! Desde o ano passado estou nesse dilema…. O sonho de conhecer a Grécia na situação de turista eufórica , contrastando com a situação dos refugiados….. Por favor, como está a situação atual ? Em Atenas, nas ilhas ? Obrigada. Parabéns pelo blog, obrigada pelas dicas !!
Oi Vivian! Tudo joia! Que bom que gostou do blog! Bom, para viajar pela Grécia é tranquilo. A situação não afeta tanto os locais turísticos e, mesmo no dia a dia, não se percebe tanto nas ruas em Atenas. Pode programar sua viagem sem problemas! Continue acompanhando o blog e qualquer coisa que precisar é só perguntar! 🙂