Trabalho Voluntário na Grécia
Que tal juntar aquela vontade de se sentir útil com o prazer de uma viagem tranquila com tempo para relaxar e pensar na vida? Foi isso o que fiz em minha segunda semana de férias nesse verão. Desta vez, decidi não ir muito longe e fazer algo completamente diferente. A Grécia é um dos locais que recebe, anualmente, tartarugas marinhas em diversos pontos espalhados pelo país. Elas deixam seus ovos nas areias das praias e voltam para o mar, iniciando um novo ciclo de vida. E onde eu entrei nessa história?
Há pouco mais de um ano comecei a pesquisar por organizações localizadas por aqui, que eu pudesse ajudar de alguma maneira, mesmo sabendo que não seria em tempo integral. Assim, achei a Medasset, um projeto de conservação que ajuda tartarugas marinhas com ações ecológicas e participações em eventos. Comecei a receber e-mails deles sobre diferentes atividades e dois meses atrás recebi um comunicado falando que outra organização, a Archelon, precisava de voluntários nas praias em que atua, na proteção das tartarugas. O projeto existe desde 1983 e recebe todo ano centenas de voluntários de diferentes partes do mundo!
Quem me conhece bem sabe que eu AMO tartarugas e sempre quis acompanhar de perto o ciclo de vida das tartarugas marinhas. Apesar de ter morado perto do Projeto Tamar, na Praia do Forte, que fica há cerca de uma hora de Salvador, nunca tive essa chance antes. Não pensei duas vezes: me candidatei a participar do projeto por uma semana (normalmente o mínimo é um mês, mas eles aceitam voluntários temporários) e lá fui eu com minha tenda de camping e saco de dormir. Primeira vez, aliás, que acampo aqui na Grécia e super recomendo.
As tartarugas marinhas são uma das espécies mais antigas de animais, estando presentes na Terra há mais de 100 milhões de anos! E a sobrevivência delas acaba contribuindo também para a sobrevivência de outros animas marinhos e do ecossistema como um todo. Eu não sou bióloga, na verdade bem longe disso, mas para se voluntariar nada mais do que vontade, disposição e algum tempo livre são necessários. Ok, para quem vai ficar um mês também é preciso pagar uma taxa que cubra os custos de estadia e contribuição com o projeto (essa taxa é mais baixa no caso de voluntários temporários, porém eles pagam custos de hospedagem à parte).
A experiência foi incrível! Participei do projeto em uma praia do Peloponeso, Kyparissia, acampando com cerca de 25 outras pessoas de todos os cantos da Europa. No auge da estação, entre os meses de julho e agosto, mais de 60 pessoas, na maioria jovens estudantes, participam do projeto apenas nesse acampamento. Lá, fiz de tudo um pouco, desde cozinhar para o pessoal até virar a noite esperando as tartaruguinhas saírem dos ovos e ajuda-las para que seguissem em direção ao mar. O problema é que nas praias com restaurantes e hotéis, elas se perdem e acabam indo para o lado errado por conta da luz e do barulho. Fora o risco de serem devoradas por cachorros e outros animais antes de chegarem ao mar.
Para se ter uma noção, de cerca de 1000 tartaruguinhas que nascem, apenas 1 chega a idade adulta. São tantos obstáculos no caminho que a grande maioria não consegue sobreviver…
Projetos como Tamar, Medasset e Archelon, buscam aumentar esse número ou, pelo menos, reduzir as chances de queda dessa probabilidade. Além de proteger as tartarugas adultas na época de desova, os voluntários também monitoram todo o ciclo dos ovos, protegendo os ninhos de predadores – incluindo pessoas que muitas vezes os destroem sabendo ou não do que se tratam – Eles ainda buscam e analisam dados: quantas tartaruguinhas nasceram, quantas nem sequer saíram dos ovos ou foram formadas, as razões para isso, tais como possíveis bactérias, etc.
Na semana em que eu estive voluntariando para a Archelon, foi atingido o número de 3000 ninhos encontrados e protegidos na região nesse verão. E muito mais ainda estava por vir, pois até o fim de setembro, muitas tartaruguinhas ainda iriam nascer. O projeto, que começa suas ações em maio, termina na primeira semana de outubro, quando também não há mais ovos ou tartarugas na região. Durante o outono e inverno elas migram pra diferentes áreas e mares.
Para quem não pode participar ajudando diretamente nos projetos, também há atividades para turistas. A Archelon organiza seminários e grupos para acompanhar as atividades dos voluntários de monitoramento nas praias. Se você planeja conhecer as ilhas de Creta e Zakhyntos, ou essa região do Peloponeso, fique atento e participe de alguma maneira! Em Atenas também é possível conhecer um pouco do projeto, pois eles mantém um centro de recuperação para as tartarugas doentes ou machucadas no bairro de Glyfada.
E fica a dica aqui: ao programar uma viagem, lembre-se sempre de que há a possibilidade de participar de um projeto como esse e contribuir com alguma causa em que tenha interesse. E o melhor de tudo é poder sentir-se integrado com a natureza e aproveitando seus dias de descanso ao mesmo tempo.
Para quem é apaixonado, como eu, por tartarugas marinhas, segue um link com oportunidades de voluntariado em diversos projetos no mundo todo, inclusive na Grécia.