Turismo cervejeiro na Bélgica.
Um bom apreciador de cerveja tem claro que a Bélgica é o paraíso da terceira bebida mais consumida no mundo. Não apenas pela quantidade exorbitante de rótulos, mas especialmente por sua qualidade celestial e por sua originalidade de sabor.
Então podemos realmente afirmar que a cerveja belga é a melhor? Definitivamente sim, e não precisa ser um mega mestre cervejeiro para atestar. Além da excelência do malte utilizado na produção, o diferencial está nas misturas de ingredientes, seja frutas, flores ou especiarias, o produtor belga não tem medo de arriscar e, juntamente com a técnica perfeita, exerce sua infinita capacidade criativa para nos brindar com maravilhas.
O grande risco está no alto teor alcoólico (média de 6% a 10% por volume), assim que não dá para sair fazendo “brindes ao fim do copo” pois o risco de pisar fora da linha é gigantesco (cansei de ver “brahmeiros caídos na Grand Place).
A cerveja belga deve ser degustada, apreciada a cada gole e honrar a premissa “beba com moderação”. Aproveite para harmonizá-las com os deliciosos queijos elaborados pelas próprias cervejarias e desfrutar de uma boa companhia.
A tradição cervejeira na Bélgica é longa. Conta-se que mesmo antes da conquista pelo Império Romano, há mais de 2 mil anos, já se produzia cerveja nos Países Baixos e como Roma nos remete também ao poder da Igreja, dá para imaginar o que esse povo deixou de herança por aqui. Monastérios equipados com cervejarias e monges experts que, para suprir a sua própria demanda e também da população local, produziam a bebida.
Assim que a apreciação da cerveja faz parte do patrimônio vivo da Bélgica sendo reconhecido pela UNESCO em 2016, como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade e, é claro, que se comemorou com muita cerveja.
Atualmente há quase 1.500 tipos produzidas no país e não se restringem ao trago pois também são utilizadas na culinária, vide o saboroso “Carbonnade”.
Dito isto, seguimos as práticas: o bar com a maior carta de cervejas do mundo encontra-se em Bruxelas, capital do país, com mais de 3.000 rótulos e ainda mais, cada cerveja é servida na taça proprietária da cervejaria, tamanha a importância e respeito que a bebida tem para os belgas.
Dependendo do seu interesse e da disponibilidade para visitas, a inserção no mundo cervejeiro belga pode ser simplesmente apreciá-las em bares ou conhecer um pouco mais da sua história “in loco”, nos Monastérios produtores. Aliás, atualmente a maioria das cervejas já não são produzidas nos monastérios e sim em cervejarias mais modernas espalhadas pelo país.
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Vamos começar pelos melhores bares localizados na capital Bruxelas, segundo especialistas, incluindo eu, é claro (risos):
- Poechenellekelder: de nome impronunciável mas de tradição inquestionável, este bar localizado em frente ao famoso maroto Manneken Pis (Rue du Chene, 5), serve mais de 90 rótulos diferentes. Com decoração bucólica e tanto quanto “exótica”, o atendimento é também um ponto positivo.
- Chez Moeder Lambic: este bar é voltado para os apreciadores da cerveja de pressão, algo como o nosso “choppinho” e das cervejas artesanais (caso já tenha entrado na monotonia das marcas comerciais belgas). Possui mais de 50 rótulos de cerveja de torneira e cerca de 200 marcas em garrafas. E mais, está localizado no bairro onde mais se ouve português em toda Bélgica – Saint Gilles (Rue de Savoie 68).
- À La Mort Subite: de mesmo nome da cerveja frutada mais apreciada pelos cervejeiros, este bar é uma viagem no tempo. Com quase 100 anos de história, mantendo a propriedade à família fundadora desde então, foi um dos pontos frequentados pelo ícone da música belga Jacque Brel. Seu endereço também foi cenário de produções cinematográficas tamanha belezura arquitetônica de estilo Art Nouveau, que mantem intacta sua fachada e interiores (Rue Montagne aux Herbes Potagères 7). Peça uma Gueuze-Lambic que é certeiro!
- Delirium Café: lembra que mencionei o bar com a maior carta do mundo, pois então, vamos a ele. Embora já possua franquias no Brasil (Rio e Sampa), este bar é algo emblemático em Bruxelas e merece uma vista, mesmo que você abomine cerveja (se bem que acredito que se esteja lendo este artigo, algum interesse pelo liquido de malte e cevada possua). Vários andares, música o tempo todo e principalmente, muita cerveja (e embriagados). Endereço: Impasse de la Fidélité 4 ou “pergunte para qualquer belga na rua”.
As cervejas de Abadia, ou seja, as associadas a Monasterios, tem parte de seus lucros doados a própria abadia ou as suas associações de caridade.Como dito, a maioria dos Monastérios não produzem mais a cerveja, porém continuam abertos a visitas e também oferecem ao seu entorno, bares onde podem ser consumidas a suas marcas.
- Abadia de Aulne: a produção da cerveja do mesmo nome remonta à Idade Média, por volta de 657 d.C, porém em 1794 a abadia foi completamente destruída quando as tropas francesas entraram na Bélgica. Após a sua restauração, 100 anos depois, a cerveja começou a fermentar novamente, porém a abadia não resistiu ao teste do tempo e agora está em estado de ruína. Em 1950, a cervejaria Aulne abriu ao lado da antiga abadia, onde dispõe de um bar (brasserie) onde além de degustar de um ótima cerveja, tem o privilégio de deslumbrar das ruídas e do rio Sambre.
- Abadia de Bonne Espérance: em funcionamento entre 1130 e o final do século XVIII, foi habitada por monges reclusos até a sua destruição pelos revolucionários franceses. No século XIX foi transformada em escola, depois retiro diocesano e em seguida, em centro de acolhimento para famílias e peregrinos. Atualmente, a cerveja é produzida em uma cervejaria ao lado e também é possível visitar a abadia. Para bebê-la, a 10 minutos de carro, está a Cervejaria La Binchoise, com 23 marcas diferentes.
- Abadia de Forest: pensa em um cenário de filme dos anos 60 e agregue a calmaria de um monastério tibetano, pois então, foi exatamente isto que senti quando cheguei para visitar essa abadia beneditina construída por volta de 1150. Foi originalmente um monastério construído para mulheres e no rótulo da cerveja esta estampado, em homenagem, uma freira. Para degustar a cerveja, terá que deslocar-se 30 minutos até o bar Silly, onde também está o centro de produção.
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- Abadia de Saint Martin: mais uma abadia destruída pelas tropas francesas e que pôs fim a produção cervejeira começada em 1096. Felizmente, as receitas de cerveja foram cuidadosamente escritas e mantidas pelos monges, o que permitiu que fosse reproduzida em 1890 na cervejaria Brunehaut, a 10 km de distância, não podemos dizer o mesmo da abadia, que não restou quase nada.
Há muitas outras abadias e cervejarias a serem visitadas, como a Abadia de Orval, que abre apenas duas vezes ao ano para visitação, portanto é necessário realizar um pré-cadastro, a Abadia Chimay aberta para visitação, com exceção da cervejaria, porém a alguns minutos está o bar que também oferece hospedagens em quartos onde há geladeiras recheadas da cerveja ou uma experiência de degustação interativa, a Abadia de Sint-Sixtus, que produz, segundo muitos especialistas, a melhor cerveja do mundo, a Westvleteren, entre outras.
Deu água na boca? O que está esperando?
Até a próxima