No dia 29 de setembro de 2017, exatamente 3 anos após eu ter começado a estudar na Faculdade de Tecnologia Têxtil na Universidade de Zagreb, na Croácia, defendi minha tese final de curso e me tornei uma engenheira têxtil.
Lembro-me muito bem do primeiro dia na faculdade. A única pessoa que eu conhecia era a professora responsável pelos alunos internacionais, que havia me auxiliado durante todo o processo de transferência da universidade brasileira em que eu estudava para a minha nova universidade croata. Além dela, eu não conhecia ninguém. Mas esse era o menor dos meus problemas na época. O que me assustou muito mais foi o fato de que eu não entendia absolutamente nada do que os meus novos professores e colegas falavam em croata. Mil pensamentos começaram a passar pela minha mente, o primeiro deles foi o que algumas pessoas me falaram quando lhes contei que havia decidido continuar minha faculdade na Croácia: “Tem certeza que você vai conseguir acompanhar o curso?”.
Eu duvidava, e muito, de mim mesma, se conseguiria acompanhar as aulas, já que todas as matérias eram em croata e eu havia chegado na Croácia somente oito meses antes do início das aulas na faculdade. Eu sabia manter uma conversa básica em croata e havia terminado somente o primeiro nível (A1) no curso da língua, mas precisaria de um nível muito mais alto e muito mais vocabulário, principalmente técnico, para acompanhar as aulas. A minha sorte era que as matérias do primeiro semestre não demandavam muito vocabulário, como Cálculo, Química, Física, Mecânica e Estatística, mas, mesmo assim, eu precisaria assistir às aulas para ter um bom resultado nas provas durante todo o ano letivo.
A minha segunda sorte foi que os professores da faculdade eram muito solícitos e sabiam que o meu nível da língua croata não era uns dos melhores naquela época. Eu era a única estudante estrangeira no curso, e eu sabia que deveria estudar muito mais que os meus colegas croatas se quisesse obter bons resultados nas provas e passar em todas as matérias. Mesmo assim, os professores sempre me perguntavam se eu tinha alguma dúvida sobre a matéria e estavam sempre dispostos a me ajudar, muitas vezes na língua inglesa.
Ao mesmo tempo, comecei a me enturmar com os meus colegas de curso, que também entendiam a minha situação complicada e estavam sempre dispostos a me ajudar. Eu virei uma espécie de “mascote” da turma, e todos ficavam muito orgulhosos por fazer parte do meu aprendizado da língua croata durante o ano letivo.
Quando comecei o segundo ano da faculdade, meu nível de croata já era consideravelmente melhor, mas o nível de dificuldade das matérias também iria se tornar mais alto pois começamos a estudar as matérias específicas da engenharia têxtil, como melhoramento de tecidos, fibras, análise de materiais têxteis, dentre outros. Nessa época, o dicionário virou o meu melhor companheiro de estudos, já que eu não sabia muitas palavras técnicas da área têxtil nem em português, quanto mais em croata. Eu passava os finais de semana ao lado de muitos livros, resumos e dicionários, pois sabia que meu futuro dependia dos meus bons resultados na faculdade.
No terceiro ano, o mais importante para mim foi que o meu nível de autoconfiança estava bem melhor. Já sabia muito bem como todo o sistema da faculdade funcionava, desde as provas parciais e como conseguir assinaturas dos professores no Indeks (uma espécie de caderno onde os professores escrevem as notas finais de cada matéria), até como trabalhar de maneira confiante nos laboratórios químicos.
Quando finalmente defendi a minha tese e os professores me “declararam” engenheira, realmente senti o peso da decisão que havia tomado 3 anos antes: a decisão de aceitar o desafio de cabeça erguida, sabendo que iria ser difícil, mas que, com muita força de vontade, eu teria sucesso nessa jornada!
Sim, foi difícil, mas valeu muito à pena obter o título de engenheira têxtil pela Universidade de Zagreb. Sinto que ainda virão muitos desafios pela frente, mas acredito que irei enfrentá-los de uma maneira muito mais confiante. Por isso, digo a todos que desejam vir à Croácia e muitas vezes são desencorajados por outras pessoas pois a “Croácia é muito longe e a língua deles é muito difícil”, que sim, você pode conquistar os seus sonhos. Venha com dedicação, muita força de vontade, e o principal de tudo, com vontade de APRENDER. Arrisque-se! Se você estiver aberto a se arriscar, também estará aberto a ter sucesso na sua jornada!
Pozdrav!
2 Comments
Parabéns, Nathália!
Você é, definitivamente, uma inspiração! Estou há quase 4 meses na Bósnia e entendo perfeitamente quando você fala sobre a língua. Contudo, assim como você encontrou pessoas solícitas, eu também conheci pessoas dispostas a me ajudarem no aprendizado da língua.
Gostei principalmente do final do seu texto. Realmente, é apenas arriscando que obteremos sucesso.
Um grande beijo e parabéns mais uma vez!
Olá Carolina, muito obrigada pela sua mensagem! Desejo muito sucesso para você também! Um abraço, Nathália