Eu sou a Thaís e esta é a minha primeira colaboração para o “BPM”. Fiz uma listinha com alguns assuntos que pensei em escrever e para este começo nada melhor do que uma mensagem de boas vindas. Para este novo ano, para mim aqui no blog e para você que está chegando aqui na África do Sul, ou em qualquer lugar do planeta. O que vale é colocar o sorriso no rosto, vestir a camisa da coragem, fechar o medo no zip lock e GO!
Existem pessoas que sempre tiveram o sonho de morar em outro país, eu na verdade nunca tive muito tempo para pensar nisso, a coisa simplesmente aconteceu. Mas era óbvio que isso iria acontecer, eu não cabia mais em Ribeirão Preto, minha cidade natal, me mudei para São Paulo, morei na capital dez anos e o bichinho do “vamos mudar novamente” começou a me atormentar. O destino colocou em meu caminho um marido com o mesmo perfil e lá fomos nós.
– Quer casar comigo e morar na Índia?
– Oi? Como? Vamos!
E quando tudo parecia estar começando a se ajeitar surge uma outra oportunidade. África. SAWUBONA!
O susto foi grande. Esperamos um pouco para dar a notícia para as nossas famílias. Preferimos ir conhecer o território antes de tudo, para depois contar.
Quando chegamos em Johannesburg e vimos o quanto tudo isso era diferente do que pensávamos, pegamos o telefone e conversamos com todos do nosso clã. Foi uma loucura!
Tinha sogra chorando, mãe fazendo novena, tia fazendo pesquisas sobre o local e ninguém acreditava no que estávamos falando – e alguns ainda pensam que tem elefantes e leões andando pelas ruas.
Confesso que este tipo de mudança é um pouco assustadora. Sair da sua zona de conforto e enfrentar uma nova vida exige paz de espírito e muita força de vontade. Muitas serão as dificuldades, mas quando colocadas na balança e levadas em consideração as boas experiências e o crescimento, essas dificuldades são anuladas.
A gente aprende a lidar com uma casa nova, decorações extravagantes, novos vizinhos, a falta do chuchu e da mandioquinha, principalmente da guaraná Antartica, o novo estilo do trânsito, a puxar o freio de mão com a mão esquerda, o fuso horário, a sair pra jantar as 19:00 e outras coisitas. A única coisa que a gente nao aprende é controlar a saudade da nossa família e nossos amigos, não importa há quanto tempo moramos fora, essa é a parte mais difícil.
Eu conheço pessoas que sentem falta do carro, da casa, da cidade onde nasceu, do bichinho de estimação que ficou na casa da avó, daquela padaria na esquina de casa, mas isso são coisas que se a gente não desapega deixamos de abrir os olhos para enxergar o que o local tem para nos oferecer e que na maioria das vezes são coisas muito mais saborosas do que o pastel da feira aos domingos, se é que você me entende.
Com a mudança de país eu aprendi a observar mais as pessoas ao meu redor e o principal, eu comecei a me observar com mais afinco. Aprendi a ouvir mais e pelo menos tentar falar menos. Aprendi que o sorriso é um idioma falado no mundo todo. Fiquei muito mais ligada à minha família, a saudade nos ensina a valorizar sentimentos e pessoas.
Quando eu cheguei na África do Sul eu estava certa de que arranjaria um trabalho. Na Índia eu trabalhava e não queria chegar aqui e ficar sem “fazer nada”. Eu sou estilista, sou uma pessoa artística e criativa, ficar sem o meu trabalho não seria legal. Então logo de cara atualizei meu currículo, peguei meu portfólio, me cadastrei em sites para vagas na minha área e fui batendo em algumas portas.
Conversava bastante com os locais para ver se eu tinha alguma chance. Muitos deles, ja me conhecendo, diziam que eu deveria fazer meu trabalho em casa, vender minhas criações e produtos em sites ou lojas da cidade. Mas eu queria aquela rotina de sair de casa, ir ao escritório, ter minha mesinha. E isso não aconteceu. O buraco era mais embaixo.
Eu não tinha o visto para trabalhar, tenho apenas o visto de esposa, o que automaticamente ja descarta a possibilidade de um emprego. Mas alguém poderia me dar um visto de trabalho, existia essa possibilidade, então eu queria isso. Mas o mercado da moda aqui em Johannesburg é muito escasso. A maioria das marcas sul africanas tem seus escritórios em Cape Town (Cidade do Cabo).
Em umas das últimas entrevistas que fui, a diretora me explicou porque eu estava tendo tanta dificuldade em encontrar um trabalho aqui, apesar de eu merecer muito uma chance, como ela mesmo disse. Além desse mercado não ter muita força, existem outros probleminhas mais burocráticos na hora da contratação de um estrangeiro. “Por que a empresa contrataria uma branca, estrangeira para uma vaga que nem é tão importante assim?” Pois é, foi exatamente isso que ouvi.
“Antes de contratar você, eu preciso anunciar no jornal esta vaga, entrevistar outros estilistas negros (questões das cotas nas empresas, onde toda empresa é obrigada a ter uma porcentagem de funcionários negros), se a vaga não for preenchida, aí sim eu posso te contratar e ainda assim preciso explicar o motivo de eu não contratar um negro.”
Então eu e meu marido decidimos que eu não iria mais procurar um trabalho. Mas essa decisão pesou. Eu não me dei muito bem com a ideia e fiquei meio paranoica, tensa e muitas vezes irritada. Chorava, minha auto estima ia la embaixo, tinha vergonha de pedir dinheiro pro Gabriel (meu marido). No começo muitas vezes eu usava o meu cartão do Brasil para comprar algumas coisas para mim só para não dizer que estava gastando o dinheiro dele. Péssimo.
O tempo foi passando e eu fui me acostumando. A ajuda do Gabriel nesse sentindo foi essencial, ele me dava força, me explicava as coisas, me lembrava o motivo de eu estar aqui com ele, tudo isso foi muito importante.
E algumas pessoas me perguntavam e ainda perguntam: “Mas o que você faz afinal?”. Nossa, seria mais fácil dizer que eu trabalho a listar as coisas que faço. Eu apenas coloquei na minha cabeça que não viveria uma vida de futilidade e de dondoca. Eu escolhi ter amigos, cozinhar, ler muitos livros, reformar a casa, decorar, organizar, educar e brincar com minha filha, conhecer os milhares de lugares lindos que o país oferece.
Antes da minha pequena nascer eu tinha mais tempo para frequentar cursos de artes, fotografia, costura e de tudo que me interessasse, agora o meu tempo livre é prioridade dela.
Também me dedico ao trabalho voluntário, o que é muito especial e só tenho a agradecer por ter esta oportunidade (quem sabe escrevo mais sobre isso outro dia). As vezes eu até gostaria que o dia tivesse mais de 24 horas para eu fazer tudo que tenho vontade.
Além de tudo que eu escolho fazer ainda tem os convites de mil e uma atividades com os brasileiros que estão no mesmo barco. Assim que conheci a primeira brasileira ela me apresentou outras que me apresentaram outras, que me convidaram para um cafezinho, que viraram amigas, que viraram irmãs e por aí vai.
Tenho um grupo no whatsapp que se chama “Família na África” e é isso mesmo, as pessoas que você conhece, que se tornam amigos, que estão com você o tempo todo viram sua família. São aqueles que tem a chave da sua casa, aqueles que você passa o número em caso de emergência, que estão juntos em todas as festinhas de criança, churrasco ou feijoada.
Existem alguns grupos no Facebook para quem mora aqui na Africa. Inclusive tem um que é praticamente o clube das Luluzinhas. É um barato! Tem gente recebendo boas vindas, dizendo adeus, vendendo carro, indicando diarista, babá, vendendo móveis, vendendo pão de queijo e mais um monte de coisas bastante úteis por sinal.
Se você está se mudando ou ja mora aqui e ainda não conhece nenhum grupo, fale comigo, posso te apresentar para a administradora. Também acontece uma vez ao mês um “Café da manhã das Brasileiras”. Mulherada reunida para papear e conhecer as recém chegadas.
Obrigada por terem me recebido e uma boa sorte a todas nós!
Leia sobre a rota dos vinhos na África do Sul!
24 Comments
Olá Thaís! Primeiramente, seja bem vinda ao BPM! Fiquei surpreso de saber que existem cotas raciais na África do Sul, com população majoritariamente negra, para qualquer tipo de emprego. No Brasil, isso até seria compreensível, porque os negros não tem o mesmo acesso ao mercado de trabalho e educação que pessoas de outras raças, além do preconceito em si. Mas se tratando de um país africano, isso não faz tanto sentido, por não haver “concorrência” ou desvantagem racial como no Brasil e fazerem parte da maioria. Será que na África do Sul há o mesmo problema? Que justificativa é usada pelas autoridades para estabelecer essas cotas raciais? Obrigado pelo post.
Olá Elias! Você foi a primeira pessoa a comentar, muito obrigada! Você está certo, existe uma diferença entre a “cota” daqui da Africa com a do Brasil. Isso da muito pano pra manga, estou pensando até em escrever um post sobre o assunto. Mas só esclarecendo, na verdade aqui não são cotas, são os BEE’s ou Broad-based black Economic Empowerment (B-BBEE). É um sistema do governo para ajustar as restrições existentes no país para que os negros possam participar da economia de uma forma justa. Infelizmente, aqui, aí ou em qualquer lugar que exista “cotas” ou algo do tipo, me soa um pouco estranho. Por que o ser humano precisa disso para conseguir uma vaga na faculdade ou um emprego? Para mim isso automaticamente demonstra uma certa discriminação. Abraços!
Olá Thaís,
Tudo bem?
Também sou uma nova colunista, mas moro aqui no Brasil, seja bem-vinda!
No mês de janeiro, foi publicado meu primeiro texto sobre uma curta experiência que tive em Cape Town. Foi minha primeira viagem internacional sozinha e sem dúvida, é uma das experiências que levarei para toda minha vida.
Decidi escrever para este blog para dizer que somos capazes de lidar com todos estes receios que vivendo por muito ou pouco tempo em terras estrangeiras, sabemos que pode acontecer, mas que no fundo sabemos que daremos conta, não é mesmo?
Adorei Cape Town, mas não tive oportunidade de conhecer Johannesburg. Espero que você aproveite “sua nova casa”.
Bem vinda!
Bjs,
Liliane Oliveira
Oi Liliane, obrigada pelo comentário. Cape Town é demais não é mesmo? Não tem como não se apaixonar! Espero que você tenha varias outras viagens pela frente, sozinha (o que também é maravilhoso) ou acompanhada. E se vier a Johannesburg me avise!
Boa sorte para nós aqui como novatas !
abraços
Tá brincando… você é de RP. Sou nascido e criado aqui; penso em fazer intercâmbio na África do Sul (por questões de preço). Muito bom seu texto. Salve!
É o que eu digo… não importa onde você vá, sempre irá encontrar um ribeirãopretano!rs
Fico feliz que tenha gostado do meu texto, obrigada José Carlos. Se eu puder te ajudar com algo me escreva! Abraços
Oi Thaís ! Queria te parabenizar pelo seu texto, você expressou de forma muito sincera e delicada as mudanças e vivências neste país diferente ! Gostaria de perguntar, considerando que você mora aí a alguns anos, você não conseguiria requerer a cidadania para ter total acesso a seus direitos, inclusive trabalhar ?
Oi Isabela! Obrigada! Espero que você também goste dos próximos.
Muito bacana seu comentário sobre a cidadania. Sim, existe essa possibilidade. Ja me informei sobre isso mas nao me lembro bem ao certo, depois confirmo com você, mas parece que são 5 anos para você conseguir. E quem sabe as coisas fiquem mais fáceis para um trabalho né?
Volto a te escrever para confirmar o que falou.
Abraços
Olá Thais,
Ótimo texto! Me caiu como uma luva, pois provavelmente até o meio do ano me mudarei para Cape Town por conta de uma proposta de emprego do meu marido. Deixar o meu trabalho no Brasil e não saber ao certo se terei como trabalhar é algo que me preocupa um bocado. Ler a respeito das minhas possíveis crises futuras (rs) e pensar em possibilidades diversificadas de ocupação – que não necessariamente um trabalho – foi bastante interessante! Começarei a acompanhar seus textos e as publicações do site! Abraços
Oi Mariana! Obrigada pelo comentario. Nao tenha medo, venha venha! Você será muito bem recebida e Cape Town é um paraiso ! Com certeza encontraras muitas coisas pra fazer. Quem sabe um trabalho? Nao coloquei no post, mas eu trabalhei em uma loja aqui em Johannesburg, antes de engravidar. Foi uma experiencia muito boa e aprendi muito, independente de ter o visto ou nao. Quando vier me avise. Quando eu for a CPT ou vc vier a Joburg podemos tomar um café e comer um red velvet cake.
abraços
Oi Mariana, por acaso pode me dize qual empresa seu marido vai trabalhar? Também estou no mesmo barco, quem sabe é a mesma empresa !!
Oi Mariana, sabe me dizer qual empresa que seu marido vai trabalhar em Cape Town? Estou no mesmo barco e quem sabe é a mesma empresa!!
Oi Thais, fiquei encantada com o seu comentário. Tenho uma filha que mudou pra Johannesburg em março de 2015. Confesso que fiquei apavorada. No início foi difícil, mas como você falou ela encontrou mulheres brasileiras que a acolheram muito carinhosamente,na escola da minha neta, no curso de inglês e através de grupos do Watsap, onde elas se relacionam trocam informações e etc. Hoje ela já se adaptou bem, tirando a falta da família ela tem conseguido levar tranquilo.
Oi Ester, fico muito feliz que gostou, muito obrigada! Adoro saber e ler o que o outro lado tem a dizer. O que sentem as pessoas das familias que ficam, seus medos e anseios.
Será que conheço sua filha? Se quiser, me escreva um e-mail dizendo quem é ela.
abraços!
Ola Thais! Parabens pelo texto. Cheguei em Joburg em janeiro a trabalho e minha esposa vira em Março com nossa filha de 4 meses. Identifiquei nossa situação com seu texto e se puder nos ajudar com certeza nos trará alguns atalhos principalmente para minha esposa. Abracos
Ola Marcio! Desculpe a demora. Espero que tenha dado tudo certo na mudança com a família.
se precisar de algo, me escreva!
abraços
Olá, primeiro adorei o post Thaís, segundo estou pensando em estudar inglês na África do Sul. Poderíamos trocar umas idéias.
Valeu
Até
Olá Franciele, Obrigada!
Você irá se apaixonar pela Africa do Sul!
Podemos trocar umas ideias sim, vamos nos falando!
Abraços,
Ola Thais, moro em Cape Town ha 25 anos e nao troco por nada desse mundo.Casado com Sul – Africana. Gostaria de entrar em contact com o grupo de brasileiros no wassup ou face book. poderia me passar mais informaçoes de como fazer? Obrigado jose@netpoint.co.za
Olá Thais!
Excelente seu texto.
Queria entrar em contato com você por e-mail ou facebook, é possível? Estou indo com meu marido e minha bebê de 6 meses para a África do Sul, ele irá a trabalho. E queria algumas dicas e sugestões suas sobre Johannesburg. Alguns comentários sobre os perigos e a violência da cidade assustam… Se puder me enviar faço contato. Embarcamos na próxima semana! Abraços
Ola Rafaela. Venha tranquila. Muito se fala sobre os perigos de se viver aqui, mas não traga o medo na bagagem. De uma olhadinha em outros textos aqui no blog e se precisar me escreva: thaishelenabpm@gmail.com
Abrazos
Olá Rafaela.
Tudo bem?
Acho que você ja deve estar por aqui, mas se ainda precisar de algo, me escreva
thaishelenabpm@gmail.com
abraços
Ola, Thais!
Espero que esteja tudo bem com você e com a sua família.
Adorei suas dicas! Muito obrigada por compartilha- las. Já meu deu uma grande ajuda.
Acabamos de nos mudar para Johannesburg. Chegamos na semana passada.
Fiquei um pouco triste com a situação de não poder trabalhar… uma pena… então, resolvi antes de vir para cá e já sabendo da impossibilidade de trabalhar que iria fazer trabalho voluntário. Já fiz trabalho voluntário quando morei no Oriente Médio.
Gostaria, por favor, se você pudesse me passar alguns links de organizações que aceitam trabalho Voluntário. Agradeço de coração.
Também, se for possível, gostaria de participar do Café.
Tenho 2 filhas que irão começar na escola no dia 17/01. Então, apartir deste dia ficarei sozinha.
Desejo a você e a sua família um Feliz 2018!
Andrea
Olá Andrea,
A Thaís Helena parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na África do Sul chamada Eloah Ramalho.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM