Vale a pena morar fora?
Antes de começar esse post, gostaria de reforçar que tudo o que escrevo aqui é opinião pessoal, reflexo da minha experiência dentro e fora do Brasil. Cada um tem um ponto de vista, é claro, e venho apenas apresentar o meu a vocês! Fiquem à vontade, portanto, para concordarem ou não com o que escreverei a seguir!
Eu nunca entendi bem aquela máxima de que para ser feliz é preciso algum sacrifício ou que nada vem fácil, enfim, qualquer expressão ou insinuação de que coisas boas exigem esforço, paciência e coisa e tal. Para mim, nunca fez muito sentido ter que sofrer para ser feliz, sempre achei que uma coisa excluía a outra. Até que veio a Austrália e tudo o que envolve a decisão de morar fora. Talvez eu esteja dramatizando um pouco (tenho essa tendência, perdoem-me), mas para mim é real. Por mais que eu descreva aqui o que deixar seu país de origem representa, tenho quase certeza que somente quem passa por isso na pele entende, de fato, o que e como é de verdade. É bom? Sim, é ótimo! É fácil? Nem um pouco.
Não sei se já dividi com vocês, mas o fator principal que me fez embarcar para o outro lado do mundo foi interno, e não porque eu queria aprender inglês, juntar uma grana ou qualquer coisa do tipo. Eu estava muito insatisfeita com minha vida profissional e queria uma chance de tentar diferente, começar de novo, mas sabia que no Brasil não teria a coragem necessária para tal. Daí optei por recomeçar, literalmente, do zero em outro lugar. E este foi meu primeiro grande desafio.
A primeira bomba foi descobrir que a questão estava dentro de mim, então não adiantava viajar 15.000 km, porque eu não fugiria dela. Entender e aceitar isso não foi nem um pouco fácil e doeu pra caramba. Bateu medo, insegurança, vontade de voltar… E aí começou a tal montanha-russa de emoções que é morar fora.
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Depois percebi que o processo de deixar uma vida estruturada para trás, com família, amigos, emprego, casa, carro, etc. é mais dolorido que parece, por mais que a princípio você se sinta completamente empolgado com a nova fase. Passada a euforia, bate aquele desespero: o que foi que eu fiz?!
Outro ponto é que por mais que você ame o país em que está, ele nunca será sua casa (é o que eu sinto, pelo menos). Não sou australiana, portanto não consigo me sentir 100% em casa aqui. Por outro lado, uma vez que moramos fora, parte da gente passa a pertencer ao outro lugar também e, com isso, deixamos de ser 100% brasileiros. É um sentimento de não pertencer a lugar algum, mas vai caber a você encarar isso como positivo (viramos cidadãos do mundo, afinal!) ou negativo.
Mas é só morando fora que a gente abre a cabeça para novas culturas, novos pontos de vista, outras visões de mundo de uma forma que vivendo na nossa zona de conforto jamais conseguiríamos fazer. É quando aprendemos a valorizar pequenas coisas, a viver um dia de cada vez, a não se preocupar tanto com tudo, afinal a vida sempre se encarrega de ajustar as pontas e, sim, no fim tudo dá certo.
É quando pessoas que você conhece há pouco tempo viram quase família, e é quando você agradece de verdade pela existência da tecnologia, pois ela que te aproxima da família e amigos que ficaram no Brasil.
É programar seu cérebro para falar uma segunda língua e aprender as tarefas de um trabalho novo nessa outra língua. É chegar em casa completamente exausta no fim do dia (ou da noite), mas se sentindo super orgulhosa por ter dado conta do recado, ou é aprender a rir de si mesma quando deu o maior furo simplesmente porque não entendeu alguma instrução ou algo que foi dito.
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É conhecer lugares incríveis, e se sentir muito grata pela oportunidade de viver aquele momento, mas também reconhecer que seu país é dono de uma beleza natural incrível.
Enfim, é adquirir tanta bagagem que seria completamente injusto afirmar que não vale a pena. Então, voltando à questão que titula esse post, morar fora: vale a pena? Para mim, é claro que vale, muito! Porém cabe pontuar que, na minha balança, a vontade de me aventurar pesou mais que a vontade de me manter na zona de conforto, apesar de essa última às vezes ainda querer me puxar de volta, confesso. Sendo assim, todo dia preciso ter coragem e manter a cabeça e a mente abertas para o que esse mundão me proporciona, mas com a certeza absoluta de estar vivendo uma experiência transformadora, que já deixou, deixa e ainda deixará marcas (das boas!) na minha vida para sempre!
16 Comments
Livia, seu texto é extremamente sensacional.
Tenho convívio com pessoas que desejam ter uma vida diferente e querem sair do seu país, mas você foi muito assertiva em relatar que muitas vezes a grande questão é interna. Poucas pessoas têm coragem de assumir isso. Nunca morei fora, mas tenho a sensação que alguns que o fizeram camuflam sentimentos inevitáveis, mostrando apenas um lado da moeda. Não deve ser nada fácil, somente os guerreiros conseguem vencer essa batalha! Parabéns pela coragem e pela escrita. Sucesso!
Paulinha (é Paulinha ainda? Na minha época era! Ahahahaha), muuuito obrigada pelo seu comentário, nada me faz mais feliz que receber o feedback das pessoas sobre o que escrevo! É isso, não é fácil, não é a vida mansa que muita gente pensa, mas é muito bom!!!!
Obrigada mesmo e volte sempre! 🙂
Beijão!
Me identifico com o post!!!
Beijos!!!
É, amiga, seguimos na nossa vida de imigrante! 🙂
Beijos e saudades!
Bem legal o que vc falou. Deve ser mágico mas tbm desafiador morar em outro país. É otimo vc compartilhar essas emoções de forma tão clara.
Obrigada!!! É desafiador, mas vale muito a pena!
Beijooo!
Gostei muito do seu texto, estou em processo de mudança também, muito difícil sair da zona de conforto.
Obrigada, Alicia! Nao eh uma decisao facil mesmo, mas como disse, se eh um sonho, va em frente, vale a pena!!! 🙂
Livinha, me identifico totalmente com este posto, ontem mesmo estava com essas inquietações e cheguei a esta mesma conclusão. Até voltei a “supunhetar” kkkk da uma lida ai….
Como é fugir para uma ilha chamada Australia?
É descobrir que o problema não é do lugar ou das pessoas ao seu redor.
O problema não está em sua familia, em seu marido, namorado ou amigos.
O problema não e do tipo de trabalho que você faz, do seu chefe ou dos seus colegas de trabalho…
Não está nas dificuldades ou facilidades.
Está em você.
O problema é seu.
A solução também é sua.
Lamenta-se
Chore
Grite
Procure-se
Resolva-se
Reinvente-se
Mas faça.
Ou o tempo irá passar e você ficara com as mesmas inquietações indepentende do oceano que banha seus sonhos.
Keila Ribeiro 11.02.2018
Muito bom, Keila, super em linha com o que eu escrevi mesmo!!!! ????????????
Livinha,
Me identifico muito com o texto. Será interessante saber como você se sentirá daqui 2, 5 anos… Estou morando em Londres há 4 anos e hoje me sinto mais em casa aqui do que no Brazil. Mas as vezes ainda bate muita saudade…
Abraços,
Shelly
Shelly!!! Obrigada pelo comentário!
Com certeza vai mudar, até porque se tem uma coisa que o ser humano é, é adaptável, né?! E que bom! 🙂
Vamos aguardando o que vem pela frente!
Beijos!
Oi Livia
Mais uma vez, um otimo post!!
Eu passo por isso aqui. Apesar de morar aqui a um tempo, sempre tem uma situacao ou um comentario de alguem que lembra que vc ‘nao e daqui’. Por mais que o ingles seja bom e que estaja adaptado, esse sentimento paira como uma nuvem…
Obrigada por dividir conosco!
Carol
Obrigada, Carol!
É verdade, mas daí que vem tanto aprendizado, né… então no fim, vale mto a pena!
Obrigada pelo carinho, viu?!
Beijos!
ola Livia,
Acabei de mudar de Londres pra Sydney faz 1 semana e apesar de nao ter tido tempo de visitar a cidade q realmente e’ muito bonita, eu me pergunto o mesmo voce, nao sei se fizemos a melhor escolha. Depois de 23 anos em Londres e largar casa, escola da filha, emprego, amigos, familia, pra viver num pais completamente estranho, nao e’ facil. Confesso ja me sinto um pouco arrependida. Mas … quem sabe o q 2019 vai nos trazer ne’?
Abraços e gostaria de entrar em contato com vc se tiver interesse.
Oi Monica!
Fica tranquila que a experiência com certeza não será em vão, ainda que vocês acabem optando por retornar a Londres! Dê um pouco de tempo, essa fase de adaptação é chatinha mesmo, mas já já você vai começar a ver os aspectos positivos!
Claro, vou te mandar um e-mail!
Abraços!