O abuso pode vir de muitas formas. Todas elas são difíceis, complicadas e um bocado aborrecidas de lidar. O abuso pode ser físico, mental, emocional ou verbal. E isso geralmente acontece em segredo, escondido atrás das portas. O resultado? Vítimas totalmente vulneráveis e com a vida alterada para sempre.
É extremamente triste, para nós mulheres, pensar que a violência doméstica existe. E é mais terrível ainda ter uma experiência como essa.
Mas e na Suécia, o país que prega pela igualdade de gênero, existe violência doméstica? A resposta, infelizmente, é sim.
O relatório Violência contra a Mulher por toda a UE, publicado em 2014 pela Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA), revelou dados surpreendentes. “A maior porcentagem de vítimas de violência contra as mulheres estão no norte da Europa: Dinamarca (52%), Finlândia (47%) e Suécia (46%)”.
A Euronews informou em 2013 que “até há alguns anos, a violência contra as mulheres na Suécia era quase que um assunto escondido”. Felizmente, graças a mudanças feitas na legislação, muita coisa começou a vir à tona. Tanto veio que parece que a violência está cada vez mais em ascensão. Só para se ter uma ideia, a cada três semanas uma mulher é morta na Suécia por um homem que é próximo dela. A polícia disse que só no ano passado um total de 35 mil casos de violência foram relatados. Difícil de acreditar, mas essa é a realidade nua e crua.
Um dos vídeos que bombou esse ano nas redes sociais no país foi sobre um “experimento social” realizado pela organização sueca STHLM Panda, mostrando como as pessoas ignoram a violência doméstica enquanto o elevador estava em movimento. Cinquenta e três pessoas foram filmadas nesse elevador e apenas uma reagiu para parar com o abuso. A única pessoa que teve coragem de falar era uma expatriada.
Além disso, todos os anos a Suécia recebe milhares de pessoas vindas de outros países, muitas delas, mulheres e crianças – seja porque foram obrigadas a deixar seus países de origem, seja porque encontraram um grande amor ou simplesmente porque vieram pela promessa de uma vida melhor. Às vezes a violência doméstica acontece tão rápido, que os sonhos acabam se tornando um pesadelo. Algumas dessas mulheres ainda não tiveram tempo de aprender a língua, a nova cultura e em alguns casos não conseguiram nem mesmo criar laços de amizade para uma possível ajuda.
Fora isso ainda há a questão do visto. A autorização de residência é concedida de forma temporária com base no status do relacionamento que essas mulheres têm com seus parceiros. Muitas vezes elas têm medo (ou não) de relatar os crimes de violência por medo de serem deportadas. Isto é conhecido no país como a “Regra de Dois Anos”. No caso da relação terminar, o visto de residência dessas mulheres é colocado em perigo, e elas se veem diante de duas alternativas muito ruins a escolher – serem deportadas ou lidar com o abuso. Assim, muitas optam por suportar o abuso. Elas geralmente esperam que consigam sobreviver até que seja liberada a autorização de residência permanente, depois desses dois anos.
Numa tentativa de alertar as mulheres que vivem na Suécia ou que já estão de mudança e não sabem ao certo o que as aguarda, aqui estão algumas informações importantes:
- Número de telefone de emergência na Suécia: 112
- Os sinais de abuso e relacionamentos abusivos
- Encontrar um médico na Suécia
Hotline: 020-50 50 50
A linha de apoio nacional para as pessoas que tenham sido vítimas de ameaças e violência está aberta durante todo o dia e você pode ligar de graça, não importando onde você vive na Suécia. A sua chamada não será visível na sua conta telefônica. A equipe atende em sueco, mas se você precisar de um intérprete, é só aguardar que ele será providenciado. Isso pode levar até uns 15 minutos.
Hotline: 020-52 10 10
Besökadress: Lorenbergsgatan 18
Postadress: Box 53268, 400 16 Göteborg
E-mail: infogoteborg@terrafem.org
A Terrafem é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para mulheres e meninas com direito de viver sem violência masculina. A organização foi formada em março de 2000 e opera o único hotline em todo o país para as mulheres estrangeiras. A Terrafem também tem um advogado de plantão e oferece apartamentos de assistência.
Tomara que você, expatriada ou não, nunca precise usá-los.
11 Comments
Como puderam tantas pessoas naquele experimento não fazer nada?!?! Parece ser uma cultura que convive com e aceita (de certa forma, ou pelo menos não luta ativamente contra ele) esse tipo abuso, o que é muito triste…
Oi Mari! Também fiquei chocada com isso. A cultura na Suécia é não entrar em conflito com os outros e se intrometer em qualquer tipo de discussão e/ou briga está fora de cogitação. É muito triste mesmo ver que as pessoas fingiram (e fingem) que nada acontece no país das maravilhas.
Vania, No livro Homens que Odeiam as Mulheres (acho que em ingles foi Girl with a Dragon Tatoo, nao tenho muita certeza do titulo em portugues pois li em holandes) o autor menciona dados alarmantes sobre a violencia e contrabando de mulheres na Suecia. A regiao escandinava e´ muito mitificada como segura e emancipada para as mulheres. Que bom que vc abordou esse assunto.
Oi Ana!
Que legal saber que você leu o livro também. Gosto muito da literatura sueca e fiquei feliz de você mencionar sobre a violência no livro. Quando estava pesquisando informações para esse post confesso que tomei um baque com a estatística, porque eu não imaginava que os índices seriam tão altos assim. Espero de coração que isso sirva de alerta para muitas mulheres que esperam imigrar para a Suécia.
Super obrigada pelo seu comentário.
É incrivel isso, mas eu já sabia que Suécia tinha uma grande taxa de agressão domesticas. Mas tenho uma pergunta (nada a ver com a postagem, eu sei, mas gostaria que me respondesse), li em algum lugar que tem muitos ateus-agnosticos na Suécia (cerca de 80% segundo uma pesquisa), mas que os muçulmanos que vem de outros paises também aumenta. Isso é verdade? Tem tanto descrente assim? E os muçulmanos, há alguma rivalidade por causa disso (já que li no Alcorão que muçulmanos não devem tolerar descrente, principalmente), sem contar que já vi alguns videos sobre atos de muçulmanos na Europa que me chocaram um pouco.
Beijos ~
Bacana saber que você já estava bem informada com relação à violência nos países escandinavos :). E sim, é verdade que boa parte da população é ateu-agnóstica, mas pelo que vejo isso não atrapalha em nada o andamento da sociedade. Pelo menos por enquanto. Apenas uma pequena parte se identifica e frequenta algum tipo de religião. A quantidade de muçulmanos também tem aumentado na Suécia, visto que muitos deles fogem de seus países devido às guerras. Minha percepção é que os muçulmanos vivem dentro de suas próprias comunidades e não se misturam com as demais culturas. Tanto que em algumas regiões do país eles possuem suas próprias regras e não querem saber de se adaptar ao pais que os acolheu. Li recentemente que uma cidade na Suécia – não me recordo agora qual é – precisou adaptar as aulas de natação, separando os homens das mulheres devido a manifestação de alguns muçulmanos para que os gêneros não se misturem. Agora imagina ter de fazer isso num país como a Suécia que prega a igualdade entre os gêneros?! Eu entendo que quando mudamos de país devemos nos adaptar a cultura local e não ao contrário. Mas isso é somente a minha opinião.
Beijos. 😉
Esta é uma reportagem interessante, porém não tanto chocante. Basta fazer uma rápida pesquisa sobre “dados sobre violência contra mulheres no Brasil”, onde é possível constatar que a situação é bem pior. De acordo com uma reportagem em um site de uma organização, a cada 2 horas uma mulher é morta no Brasil por um homem que é próximo a ela. Lamentável. Ao menos a Suécia preza por igualdade de gênero, e tem Leis que garantem isso, enquanto que nosso país tem como base o machismo e uma sociedade patriarcal.
Olá Annelise!
Eu entendo o seu ponto de vista e concordo contigo sobre a questão da violência no Brasil. É muito triste! Entretanto, o objetivo do texto foi mostrar que a perfeitinha Suécia também sofre com esse mal, mesmo que seja num nível diferente da violência que acontece no Brasil. Eu quero com esse texto alertar as mulheres que decidem imigrar, principalmente, por causa de um relacionamento. Infelizmente, muitas são iludidas pela promessa de uma vida melhor, o que nem sempre acontece. Apenas para exemplificar, há um ano mais ou menos, um sueco ateou fogo em uma brasileira em numa cidade próxima a Estocolmo. O caso ainda continua rolando após esse período, aguardando a punição do culpado. Ou seja, mesmo num país de 1o. mundo, com alto nível educacional e com leis que protegem o cidadão, esse tipo de atrocidade também acontece.
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Olá Vania!
Muito bom seu texto, como todos os que leio no BPM!
Acredito que a violência contra a mulher onde quer que ocorra, independentemente da proporção, deve ser combatida!
Fiquei chocada com o os números também, pois os países que ocupam as primeiras posições são realmente vistos como “países da maravilha” aqui por essa bandas, ne?
Parabéns pela forma como abordou e desmistificou isso. Fica o alerta.
Abraços!
Olá Leila!
Ainda há pessoas que acham que a violência é coisa de país atrasado. E não é, né? Ela está presente em todas as camadas da sociedade em diversos países. Essa pesquisa mostra o quanto o mundo ainda precisa evoluir e muito.
Muito obrigada pelo carinho e pelo seu comentário. Fiquei mega feliz com o seu feedback! 😀
Beijos.