Jjimjilbang, a casa de banho público coreana.
Desde que iniciei a minha vida de viajante, tentei adotar uma política de vivenciar ao máximo a cultura tradicional do país no qual me encontro, seja morando ou visitando, mesmo que a experiência aparente ser a mais “esquisita” possível. E, sem dúvida, uma inesquecível foi a Casa de Banho Público coreana, a famosa Jjimjilbang.
Muito utilizada no dia a dia dos coreanos, a Jjimjilbang é uma experiência memorável, espero que mais positiva do que negativa, para os estrangeiros ocidentais que não estão acostumados a despir-se na frente de outras pessoas. Os departamentos básicos que têm em toda casa de banho são as piscinas/banheiras, saunas (quente/fria) e salão de convivência.
Ao chegar à recepção e efetuar o pagamento, que em média é de W10.000 (US$10), recebe-se uma chave para o armário, uma toalha bem pequena (que assim que recebi pensei: “o que vou conseguir cobrir com isso?”), e o “uniforme” da casa de banho. É neste momento que homens e mulheres se separam e cada um vai para a sua respectiva área do prédio, a ala feminina ou a ala masculina.
Antes de entrar, guardamos os sapatos em um local específico – não se preocupem, ninguém pega um sapato que não seja o seu – e seguimos para os armários das roupas. Ali, eu não vou mentir, fiquei encarando o armário por instantes até conseguir aceitar a ideia de que eu tinha que me despir e guardar toda a roupa, ficando apenas com a chave presa ao pulso. Enquanto as coreanas ao meu redor faziam isso com a maior naturalidade, demorei alguns (muitos) minutos para finalizar o processo.
Roupas guardadas, tanto a que estava vestida quanto o uniforme da casa, seguimos para a área das piscinas/banheiras, e eu tentando, em vão, enrolar-me com a toalha pequenina. Mas antes de entrar em qualquer das piscinas é obrigatória a passagem pelo “banheiro comunitário”, onde tomamos uma ducha e nos lavamos, afinal, não queremos ficar na mesma piscina sem todo mundo estar bem limpinho, não é mesmo? Sabonetes e xampus estão à disposição dos clientes. A única parte que me incomodou foi as duchas não terem divisórias, mas a essa altura, eu já estava começando a me acostumar com a situação.
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De banho tomado, podemos escolher em qual piscina queremos ficar e relaxar; existem as rasas e mais fundas, de água quente e água fria, e dependendo do tamanho da Jimjilbang, podem haver piscinas de temperaturas variadas. É importante dizer que não podemos mergulhar nas piscinas e de preferência devemos estar com o cabelo preso, mas este último não é uma regra. Ao contrário do que algumas pessoas possam imaginar, as casas de banho são ambientes limpos, tendo sempre funcionários cuidando disso.
Na área das piscinas, normalmente é disponibilizado para os clientes o serviço de esfoliação, com pagamento extra. Eu ainda não experimentei esse serviço, mas dizem que é muito bom, pois retira as células mortas e estimula a renovação das células da pele, o que ajuda a mantê-la mais jovem.
É possível ficar nas piscinas o tempo que desejarmos, assim como em todos os departamentos. Algumas Jjimjibangs têm “saunas internas” quentes ou frias, dependendo da oferta, que ainda fazem parte das áreas separadas por gênero e onde muitas pessoas ficam alternando com os banhos nas piscinas.
Após as piscinas, tomamos outra ducha (não obrigatória) e voltamos para os armários, agora para colocar as roupas íntimas (não sei se as coreanas vestem, mas eu vesti as minhas) e os “uniformes” da casa de banho. Esses uniformes podem ser de cor laranja, marrom, azul ou rosa, não há regra.
Vestidos, seguimos para as áreas mistas, onde mulheres e homens se juntam novamente e onde podem ter as chamadas “saunas externas” (quentes ou frias). Na minha primeira visita à Jjimjilbang, meus amigos coreanos diziam que eu deveria alternar meu tempo entre a sauna quente e a sauna fria, pois fazia bem à pele; entretanto eu não conseguia parar de pensar no que minha mãe dizia quando eu brincava de tomar banho com água quente e fria: “Tu vai ficar torta, menina”. Ainda bem que era coisa de mãe para assustar (eu espero).
A principal parte do espaço misto é a área de convivência, onde é possível encontrar uma lanchonete com comidas e bebidas a custo extra e, dependendo da Jjimjilbang – algumas são mais simples e outras, mais luxuosas – pode ter sala de computadores, karaokê (norebang, em coreano) e massagem. Nessa área de convivência as pessoas conversam, comem, descansam e até dormem.
A grande maioria das casas de banho funciona 24 h; por isso, é bem comum os coreanos, após terminarem sua extensa jornada de trabalho, irem direto para Jjimjilbang tomar banho, relaxar e dormir, e no dia seguinte voltarem ao trabalho sem passar em casa.
A Jjimjilbang faz parte da medicina tradicional coreana. Os nativos vão para tirar as impurezas do corpo e renovar as energias, eles são acostumados a isso desde crianças. Essas casas não têm restrição de faixa etária, é possível encontrar crianças, jovens, adultos e idosos.
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A ordem que eu descrevi (piscinas – saunas – área de convivência) é a mais comum, mas muitas pessoas vão só para as piscinas e saunas e depois voltam para casa, ou como algumas amigas minhas brasileiras, pulam a parte das piscinas e vão direto para as saunas externas e área de convivência. É bem à vontade. E como disse antes, algumas casas são mais caras do que outras, tendo como relevância o bairro em que está localizada e, principalmente, os serviços oferecidos, basta pesquisar.
Para os estrangeiros de cultura ocidental pode ser bem difícil aceitar participar dessa experiência, afinal, crescemos tomando banho sozinhos e com a porta bem fechada, obrigada. Porém eu posso afirmar que você se acostuma, e quem sabe até se apaixona como eu, porque quando você sai da Jjimjilbang, a sensação de leveza é maravilhosa, é o melhor lugar para ir depois de um dia cansativo. Dependendo da sua timidez, eu indico as casas de banho como parada obrigatória na sua visita às terras coreanas. Mas aviso logo, se os ocidentais já chamam atenção na rua, imaginem em uma casa de banho… Os olhares não são discretos!
Vocês podem assistir aqui a uma reportagem em inglês que mostra a experiência de estrangeiras em uma casa de banho coreana luxuosa. Então, o que acharam? Teriam coragem de encarar as casas de banho público coreanas?
2 Comments
Muito interessante Amanda!
Continue nos contando mais sobre a Coreia do Sul e sua cultura!
Um abraço !
Vou experimentar semana que vem…hehehe..