Meu marido foi expatriado. E agora?
Nós somos muitas pessoas dentro de uma só em nosso país de origem. No Brasil, sou a Aninha, Lucinha, Analu, filha do Seu Luiz, farmacêutica, esportista, empolgada, festeira… Mudei-me para a Europa em 2014, acompanhando meu marido que fora transferido pela empresa na qual trabalhava. Quando cheguei na tão sonhada vida no exterior, quem eu era? A esposa do expatriado. Apenas. E agora? Vamos falar sobre isso?
Existem inúmeras pessoas que deixam o Brasil para trabalhar em outros países, esses são conhecidos como expatriados, ou simplesmente “expats”. Quem vai junto, como acompanhante, geralmente deixa um pouco de sua vida de lado para dar oportunidade ao momento de vida do(a) parceiro(a). E com certeza, abre uma grande porta para as novas experiências que enriquecerão ambos. Não é uma decisão fácil deixar o país onde nascemos, crescemos e vivemos boa parte de nossa vida, muito diálogo e planejamento são peças fundamentais para esta decisão (aqui e aqui alguns textos que falam sobre isso).
No Brasil eu tinha um emprego que me fazia feliz. Eu trabalhava com pessoas incríveis o que também ajudava um bocado. Posso dizer que eu estava em um ótimo momento profissional, muito bem e confortável. Até que um dia meu marido chegou em casa com uma proposta de ir trabalhar na Inglaterra. Os olhos dele brilhavam. Ele sempre trabalhou duro para isso e havia conseguido. Claro que fiquei feliz e já me imaginei vivendo na Inglaterra, correndo pelos belos jardins do Hyde Park com casacos lindos de inverno, daqueles que a gente nunca usa no Brasil, uau!
Ele teria um emprego que trabalharia com pessoas do mundo inteiro, seria uma excelente oportunidade para a carreira dele, e poderia almejar posições em outros países depois desta função. E eu… bem, eu…. Pois é… E eu? O primeiro passo, e mais difícil para mim, foi pedir demissão do meu emprego no Brasil.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar em Portugal
Eu sou daquelas pessoas que não sabe ficar quieta na vida. Ligada no 220V. Sempre trabalhei desde os meus 17 anos, já fui desde cuidadora de crianças à representante comercial. A ideia de largar tudo e acompanhar meu marido era excitante e assustadora ao mesmo tempo. Ficava feliz com o fato de recomeçar e ter a oportunidade de fazer algo novo. Pensava: posso fazer uma pós-graduação, um mestrado, trabalhar com vendas ou então fazer um curso de culinária… Mil coisas cruzavam minha inquieta mente pisciana. Por outro lado, eu tinha medo de fracassar. E se nada der certo para mim? Vou ser “só” a esposa do expatriado?
E a medida que a data da mudança se aproximava, as pessoas me perguntavam: “E você? O que vai fazer lá?” Quando eu respondia “Ainda não sei”, era a deixa para encherem a caixinha de sugestões da minha vida…
“Ahhh, faz um mestrado em Oxford.” (Nem fácil, nem perto e nem barato, meu bem)
“Você pode fazer um Blog, um Instagram e ter milhões de seguidores, ficar rica!” (Ahaaam, que fácil! Obrigada!)
“Tem uma amiga da vizinha da minha prima que mora lá e trabalha em um hotel, vou te passar o contato dela.” (Hotel?! Minha única experiência é ser hóspede, mas ok.)
“Ah não faz nada, a empresa do seu marido não vai pagar um salário pra você?” (De onde as pessoas tiram isso?! Quem me dera…)
Enfim, isso tudo só colaborou para aumentar a pressão nas minhas costas. Com infinitas oportunidades eu teria de aproveitar com sucesso pelo menos uma delas. Na teoria, estava decidida a tentar algo novo, mas na prática, acabei trabalhando na área que eu já tinha experiência e já trabalhava no Brasil. Acabei aceitando uma vaga júnior, sendo que eu tinha experiência como sênior no Brasil. Mas ok, profissionalmente um passo para trás, mas que me colocou em uma posição mais confortável para aprender tanto o idioma quanto o novo estilo de trabalhar em outro país, o que para mim foi um imenso aprendizado.
Quando você acompanha seu parceiro(a) para outro país, você abre mão de uma parte de você para dar espaço à novas conquistas do casal. Algumas pesquisas mostram que a adaptação do cônjuge/família é o fator mais importante para a adaptação do expatriado no novo país. É preciso que ambos estejam felizes. Nos primeiros meses de “esposa de expatriado”, fui tomada por uma grande tristeza, me senti perdendo tudo o que eu tinha de bom na vida: família, emprego, amigos, razões para se orgulhar de mim mesma. A crise de identidade é quase que inevitável. Não enxergava que era importante o meu papel de acompanhante. Meu marido acordava cedo, ia trabalhar e voltava à noite. E eu? Aqui sozinha comigo mesma?
Nada melhor do que o tempo… Apesar de todo o sofrimento, foi uma grande oportunidade de autoconhecimento e reflexão. Tive tempo para escutar meus pensamentos e me fortalecer para criar uma nova identidade em um novo país. O fato de seu(sua) parceiro(a) ser o(a) responsável por trazer o dinheiro para dentro de casa, não o(a) faz mais importante do que você que mantém toda a estrutura de colaboração para que isso seja possível. É um trabalho em equipe, tem que ser. Desempenhamos diferentes papéis, mas cada qual com sua importância. Por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher? De jeito nenhum! Ao lado de um grande homem sempre há uma grande mulher! E vice-versa.
É esposa(o) de expatriado(a)? Aproveite esta oportunidade para se reinventar! Não é fácil soltar os laços que nos prendem ao nosso país de origem, mas quanto mais fortalecemos nossa autoestima e autoconhecimento, mais aptos estaremos para recomeçar em outro país. Colaborar com o momento de vida do nosso(a) parceiro(a) não é ser coadjuvante. É ser protagonista de uma nova temporada em nossas vidas.
15 Comments
Muito bom seu texto. Vi que é farmacêutica. Vc conseguiu validar seu diploma em Portugal? Eu moro na Alemanha e penso em ir para aí, pois aqui é muito complicado validar o diploma. Enfim, se puder me dar alguma dica, agradeço. Bjs
Oi Flavia! Eu não validei meu diploma aqui em Portugal pois minha área é Pesquisa Clinica, que é uma área não técnica… então não preciso de validação do diploma. Sei que para validar o seu, deve entrar em contato com alguma faculdade de farmácia daqui. Desculpe não saber muito a respeito. Beijos e obrigada por comentar 🙂
Ana, muito obrigada por compartilhar esse texto. Chorei ao ler! Me identifiquei totalmente! E bemmmm isso! Estou a quase dois anos fora e vejo ainda que estou em busca do quem sou eu e qual meu papel. E muito difícil deixar de lado muitas coisas que construirmos e nos reinventar. É possível, mas temos que renascer! Obrigada! ?
Obrigada pelo comentário, Alessandra! Fico feliz que se identificou, vamos seguir nos reinventando sempre e sempre! Beijos 😉
Aninha! Amei o texto veio em um ótimo momento. O marido está pensando ir para fora e já estou sofrendo por antecipação rs. Essa parte do deixar o trabalho e não saber se vai arrumar trabalho, onde, na área ou não está fogo. Fora q vou com 2 crianças. Nem sei o q a família vai falar ?. Adorei o texto!!!
Carol, não sofra por antecipação, calma! Morar fora é uma oportunidade ótima para o casal e para os filhos, temos que sempre ver o lado bom. Na nossa área, temos a sorte de encontrar muitas oportunidades, não se preocupe, de verdade! Qualquer coisa que precisar estou aqui! Beijos!
show de texto, Analu!
show de texto, Analu! muito bom!
Amei o texto Aninha, você é uma grande mulher, sempre animada, muito inteligente e com um enorme coração, morro de saudades, love you❤️
Obrigada Analu. Seu texto caiu no momento certo na minha vida. Bom saber que não sou a única que está passando por isso, e que logo as coisas se ajeitam.
Amei o texto. Estou na fase de ter crise de identidade por não conseguir trabalhar lá fora e acabar me sentindo diminuída na relação. Isso que você falou sobre o papel de acompanhante do expatriado, eu não havia pensado sobre isso.
De fato, para o meu marido me ter em casa como um porto seguro já faz de mim muito importante.
Por mais que eu tenha investido anos de estudos e mesmo assim eu acabe não conseguindo trabalhar na minha área, sou como você, ligada no 220v, fatalmente acharei algo que me dê prazer de fazer e que me faça sentir bem.
Foi ótimo ler seu texto.
Você tem instagram? Quero te seguir, rs.
Oie! Fico feliz que tenha gostado do texto e que esses pensamentos tenham te dado uma nova perspectiva para esse papel de acompanhante, apoiadora, parceira, enfim… Nós temos que nos valorizar acima de tudo, não é verdade? Me dá aqui um abraço virtual e vamos unir nossas forças para nos empoderar sempre! Já vi que tá no Insta e já tou seguindo de volta! Beijos 🙂
Analu, tudo bem?
Vou ser transferido para Madri mas me preocupo com a minha esposa formada em economia e contabilidade pela USP.
Sabe se é possível e/ou factivel ela arrumar emprego em Madrid? Com ingles e espanhol fluente.
Gostaria de saber se conhece casos do tipo.
Muito obrigado.
Oi Caio, conheço pouquíssimo da área de trabalho da sua esposa, por isso não posso responder com propriedade. Mas sei que sendo legalizada para trabalhar e falando fluentemente a língua do país fica muito mais fácil. Na primeira expatriação do meu marido acabei por aceitar um emprego “menor”do que eu tinha no Brasil a fim de dar o start na carreira no novo país, e valeu a pena. É sim possível e factível, vai com tudo Caio!
Texto maravilhoso e veio no momento certo! Estou passando por isso e com tantas dúvidas!!! Obrigada mesmo!!