O luxo e o lixo nas Ilhas Maldivas.
As praias paradisíacas e o mar azul-turquesa atraem todos os anos milhares de turistas às Ilhas Maldivas.
A indústria do turismo é fundamental para a sobrevivência do país e de acordo com os dados de 2014, são aproximadamente 1.2 milhões de turistas por ano, gerando diretamente 41.5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Mas nem tudo é perfeito no paraíso. Existe um lado obscuro que a maioria dos turistas desconhece.
Esses mesmos turistas que movimentam a economia do país, também produzem em média 3.5 kg de lixo por dia.
E o grande problema é que o país não tem infraestrutura, sistema de reciclagem e nem planejamento ambiental para lidar com esse lixo.
Então para onde ele vai?
Existem algumas ilhas, a mais famosa chamada Thilafushi, que fica a apenas alguns quilômetros da capital, que funcionam como aterros.
Thilafushi recebe todos os dias cerca de 400 toneladas de lixo, provenientes da capital e dos resorts da região. Para você ter uma idéia, o país é o mais baixo do mundo em relação ao nível do mar, com elevação natural máxima de 2m. A montanha de lixo em Thilafushi chega a 15 m de altura.
Centenas de pessoas, a maioria de Bangladesh, trabalham nesse aterro sem nenhum equipamento ou roupa de proteção; separando e queimando o lixo que é composto não apenas de plástico e material de construção, mas também de materiais perigosos como o chumbo, amianto, lixo hospitalar, pilhas e baterias. Esses produtos químicos acabam contaminando o ar (através das queimadas) e a água das proximidades, envenenando a vida marinha e colocando em risco a vida da população, que além de respirar a fumaça tóxica, tem a alimentação comprometida, uma vez que o peixe é o principal alimento.
A situação fica ainda mais grave se considerarmos que tudo é transportado de barco, sem nenhuma cobertura, e muito desse lixo é perdido no mar durante o trajeto; ou ainda pior quando ele é simplesmente despejado no mar, economizando assim o transporte.
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Em 2011, o governo assinou um contrato com uma empresa indiana, com objetivo de reabilitar a ilha e tentar administrar o problema do lixo, mas graças à burocracia e interesses políticos, o projeto nunca saiu do papel.
Existe um esforço, por parte de alguns hotéis, para diminuir a produção de lixo e o desperdício através de sistemas de reciclagem e programas de conscientização ambiental. Resto de comida vira composto, vidro moído é incorporado em concreto utilizado em construções, mas o plástico continua sendo o grande vilão.
É claro que esse não é um problema exclusivo das Maldivas, mas talvez aqui seja mais chocante pelo contraste entre o luxo dos resorts e os aterros de lixo. É o lado do paraíso que ninguém quer ver.
Não cabe a mim, aqui, discutir a política ambiental das Maldivas, mas acho que vale a pena chamar a atenção sobre o assunto, para que todos nós possamos refletir e fazer escolhas mais conscientes no nosso dia-a-dia.
Talvez seja algo que não nos atentamos diariamente, porque é fácil esquecer o problema quando ele é camuflado. Nós produzimos lixo, o colocamos fora de casa, alguém vem, recolhe e puff…ele desaparece! Mas sabemos que não é exatamente isso que acontece, ele desaparece apenas das nossas vistas.
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Eu mesma tenho que confessar que só passei a ter realmente consciência do problema do lixo depois que me mudei pra cá. A primeira vez que visitei uma ilha local, fiquei chocada com a quantidade de lixo espalhado pelas praias de areias brancas e água cristalina. Foi um tapa na cara.
No último artigo, dei dicas de como escolher o resort, mas acabei me esquecendo de mencionar a questão da sustentabilidade. Por que não dar prioridade a um hotel que tenha uma política verde?
Um exemplo simples, mas que faz muita diferença, é a água. Não a água do mar, mas a água que você bebe. Já parou para pensar em quanto lixo você produz quando consome água em garrafas de plástico? Se você segue a regra de beber 2 l de água por dia, e o hotel disponibiliza aquelas garrafinhas de 500 ml, já são 4 garrafas por dia, no lixo, aumentando a montanha. Há muitos hotéis que só servem água (dessalinizada) em garrafa de vidro (reutilizável).
Baterias usadas, frascos de xampu, cremes e afins podem ser levados de volta pra casa, onde você talvez tenha a oportunidade de descartá-los em local próprio.
Sem dúvida alguma, tudo isso é paliativo, mas já é um começo. E definitivamente não é algo que se aplica somente às Maldivas, afinal é um problema global.
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Está mais do que na hora de começarmos a repensar os nossos hábitos de consumo. Tudo é muito prático, fácil, acessível e infelizmente descartável. Vivemos em um mundo onde somos bombardeados diariamente por anúncios e mais anúncios que nos fazem acreditar que precisamos disso ou aquilo. E possuir o tal produto não é suficiente; temos sim, que possuir o mais recente, o melhor, o mais completo.
Mas será que a gente realmente precisa de tudo que compramos?
Existe uma maneira de minimizar o lixo que produzimos?
Cabe a cada um de nós fazer essa reflexão e encontrar maneiras de combater o monstro do consumismo. Tenho certeza que todos nós podemos contribuir de uma forma ou de outra.
Pequenos passos. Pequenas ações. Talvez tenhamos que desacelerar, dar alguns passos para trás, para que possamos continuar caminhando em direção ao futuro.
6 Comments
Fantástico artigo e observação. Obrigada por voltar a nossa atenção a isso.
Obrigada Polly! Espero que todos que leiam possam ter um momento de reflexão.
Moro no Japão e acabamos de voltar das Maldivas, fomos 3 anos consecutivos para passar o ano novo, mas início de 2017 me chamou a atenção por ter muitos lixos, na praia e no mar se comparado com outros anos….ficamos sempre num resort de nome conceituado , mas infelizmente dinheiro não significa educação , todos os dias mergulhávamos e recolhíamos os lixos. Muito triste ver um lugar tão lindo tendo consequências dos seres humanos…
Olá Mari,
Sim, é realmente muito triste. Infelizmente é uma situação que os resorts não podem controlar, o lixo vem com a maré e a correnteza, então mesmo que façam uma limpeza diária que tem como dar conta. É realmente necessário mais educação e uma mudança radical nos hábitos de consumo. 🙁
Fiquei em dúvidas com o esgoto! Como eles fazem!? Tem umas tubulações visíveis na ilha de cokes! Imagino o que pode ser!! ????
Olá Cleide,
A Marcela Ito, infelizmente, parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM