Arte em Copenhagen
Falar de arte me parece uma opção bem conveniente para gerar um respiro, uma brisa no meio dessa polarização perigosa que assola nosso país – será que tragédia? Ainda não conheço o resultado das eleições, escrevo a poucos dias de votar.
O texto mostra meus lugares favoritos para ver arte e cultura em Copenhagen. A capital da Dinamarca é uma cidade cheia de espaços culturais. Falo principalmente dos de arte contemporânea, mas há lugares de todo tipo, para toda manifestação artística, de bibliotecas a óperas, passando por museus e casas de cultura.
Um lugar que vai sempre valer a pena é o Kunsthal Charlottenborg, talvez o meu favorito. O palácio barroco de inspiração holandesa expõe arte contemporânea desde 1883. O kunsthal, conceito que, acho, se assemelha a nossa ideia de centro cultural, expõe arte contemporânea dinamarquesa e internacional.
Alguns artistas consagrados já passaram por lá este ano, como Yoko Ono, Ai WeiWei e há poucos meses, Kristine Roepstorff, artista dinamarquesa que representou o país na Bienal de Veneza de 2017. É também possível visitar os ateliers dos alunos da Royal Danish Academy of Fine Arts, Schools of Visual Arts, o que vale muitíssimo a pena.
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Recomendo também o Gltrand. É dos museus mais fáceis de agradar a todos. Localizado no centro da cidade, é um espaço aconchegante, numa construção antiga, com um jardim de inverno lindo. A curadoria é muito cuidadosa e são especializados em fazer o que chamam de cross aesthetics, misturando várias manifestações artísticas; cinema, artes visuais, fotografia e moda.
Assisti ali uma exposição do diretor de cinema inglês Stanley Kubrick, que se não me engano, esteve também no MIS, em São Paulo, e uma sobre as fotografias de moda da revista Vogue.
Grandes em tamanho e em número de atrações
Dentre os museus grandes, aqueles que a gente visita e descobre pelos acervos como que alguns países da Europa são ricos “às nossas custas”, recomendo o Children’s Museum do Museu Nacional, para as crianças.
Mesmo que as crianças não falem dinamarquês ou inglês, vão aproveitar muito o espaço lúdico/histórico do museu. O conceito é uma simulação de uma viagem no tempo, onde você pode se imaginar como uma criança nos anos 1920, pular amarelinha, vender frutas e artigos paquistaneses numa banca de jornal, construir uma casa com tijolos de verdade ou preparar seu jantar na cozinha de uma fortaleza da Idade Média.
Pode ainda visitar o gabinete de curiosidades do rei e navegar numa canoa viking. É uma opção perfeita para dias de chuva e entretém as crianças de um jeito bom de ver.
Para o Louisiana você precisa reservar um pouco mais de tempo, principalmente se estiver em Copenhagen. O Museu fica a uns 30 minuto de trem da cidade e vale um dia inteiro. Assim como o Charlottenborg, as exposições aqui são grandes, muitas de grupo e outras solo, de artistas consagrados, como o israelense/dinamarquês TAL R e a artista sérvia Marina Abramovic.
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Mas a visita ao museu encanta também pelo entorno. Localizado numa casa, com um jardim que é um parque de esculturas de frente para o mar, o passeio funciona melhor no verão, mas mesmo no frio é um barato.
Aqui acontece o Louisiana Literature, uma espécie de Flip nórdica, com debates e entrevistas com os maiores escritores de todo o mundo. Recomendo também para quem curte as lojinhas dos museus, a do Louisiana é especial, como você pode ver aqui.
Um outro favorito é o charmoso Nikolaj Kunsthal. Localizado numa antiga igreja do século XIII, este é famoso também pelas exposições elaboradas para “toda a família”. O que chama atenção nem sempre é a temática dessas exposições – muitas vezes os temas são triviais, o espaço sideral, a mostra solo de um cartunista etc – mas o interessante é a forma como a curadoria prepara o espaço expositivo para atrair as visitas e fazer adultos e crianças interagirem.
Nessa do espaço, o museu estava repleto de espaçonaves, neon, planetas de papel crepom e buracos negros. Mas aqui há também lugar para arte contemporânea mais séria, sem grandes intervenções no espaço expositivo, com foco diretamente nas obras de arte. Assisti aqui exposições super sensíveis, que tratavam de temas muito caros e atuais como imigração, desenvolvimento sustentável e o próprio conceito de arte.
Agora se você gosta daqueles espaços enormes, como grandes armazéns, que expõem obras de arte gigantescas, daquelas de entrar dentro, projeções imensas, cineminhas e até aviões da Segunda Guerra Mundial não deixe de visitar o Copenhagen Contemporary (CC).
Embora seja imenso e bem localizado – fica ao lado do novo espaço de street food – o CC nem sempre traz muitos artistas, mas as experiências são sempre relevantes, seja pelo conteúdo do que expõe ou pela farra que é “participar” das exposições.
Da última vez que estive aqui, andei num balanço para três pessoas do trio dinamarquês Superflex, e ainda assisti um filme de sensibilidade rara, numa tela circular que envolvia uma plateia descontraída, jogada em almofadas pelo chão.
Concluo com um museu meio underground, talvez o azarão na corrida entre os melhores espaços culturais de Copenhagen, mas que pode ser uma pérola na vida do turista. Localizado em Frederiksberg, bem pertinho do centro, o Storm P Museet é um pequeno museu temático, dedicado ao cartunista e ilustrador dinamarquês Robert Storm Petersen.
Para quem gosta de desenho, é um museu que ajuda a entender quem é o “dinamarquês” de um jeito divertido, poético e irônico ao mesmo tempo.
Na parte 2, falo mais de outros espaços dedicados à arte contemporânea e também de alguns museus grandes, cheios de Picassos, Matisses e Degas.