Bicicletas em Dublin.
Dublin é uma cidade relativamente plana e muitas pessoas optam por se locomover de bicicleta. Na verdade, o alto preço do transporte público e falta de espaço para estacionamento no centro também podem ser fatores que influenciam os locais a optar pela magrela. Atualmente são mais de 10 mil pessoas se locomovendo com a bike todos os dias no centro da cidade.
Quando eu cheguei em Dublin, sempre optei por caminhar ou utilizar o ônibus – até porque os carros aqui dirigem na mão inglesa, ou seja, do outro lado do qual estamos acostumados no Brasil. Eu nunca pedalei no trânsito em São Paulo e fazer o mesmo aqui me parecia extremamente complicado.
No entanto, depois de alguns meses tendo que pegar quatro ônibus diariamente para ir e vir do trabalho, resolvi que não tinha saído de São Paulo para continuar nessa rotina e estilo de vida. Comprei uma bicicleta. Apesar de Dublin contar com um sistema de aluguel de bicicletas chamado Dublin Bikes, só é possível utilizá-las em regiões mais centrais, o que não funcionaria no meu caso.
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Aqui é muito comum que as pessoas comprem bicicletas usadas, e foi o que eu fiz. Além disso, adquiri um bom cadeado, colete, capacete e luzes dianteiras e traseiras. Aliás, todo ciclista é obrigado por lei a utilizar todos esses equipamentos, embora nem todos o façam. Desde 2015 os ciclistas podem ser parados no trânsito e multados por diferentes ofensas que vão custar €40 cada (veja o link para mais detalhes). Entre elas, ultrapassar a luz vermelha do semáforo ou pedalar em área de pedestres.
Ter a independência de se locomover no seu ritmo não tem preço, mas infelizmente, nem tudo são flores: o clima na Irlanda é um grande inimigo dos ciclistas. O vento é constante e no período do inverno, há sempre muita chuva, culminando num combo clássico dessas bandas, que é quando há frio, chuva e vento ao mesmo tempo. No entanto, apesar do aparente desafio, nunca deixei de pedalar nas estações menos favoráveis – somente quando há indicações nos jornais de que os ventos estão passando dos 50km por hora, aí sim encosto a bicicleta e vou de ônibus.
Um outro problema constante em Dublin é o roubo de bicicletas. Em 2013, foram praticamente 4.500 roubos reportados à Garda (polícia irlandesa). No entanto, a estimativa é de que aproximadamente 20 mil bicicletas sejam roubadas por ano. E não somente as bicicletas em si, como partes dela: andando pelo centro da cidade, não é raro ver bicicletas estacionadas sem um pneu ou o banco.
Um outro fator desmotivante pra quem anda de bicicleta em Dublin é que não é possível levá-la nos trens ou ônibus da cidade. Em São Paulo, por exemplo, me lembro que após um certo horário durante a semana é possível entrar num vagão específico para isso com a sua bike no metrô. Quando estive na capital da Dinamarca a passeio, para citar outro exemplo, vi várias pessoas com suas bicicletas em diversos vagões. Dublin ainda tem que melhorar muito nesse sentido.
Por fim, uma outra questão bastante comentada entre ciclistas é a falta de consistência nas ciclovias. Embora o centro da cidade seja bem abastecido delas, nem sempre o ciclista tem prioridade na sua faixa – muitas vezes os carros tem permissão para estacionar nas ciclovias e quando não, estacionam do mesmo jeito. A qualidade de muitas dessas faixas não é excepcional e às vezes temos que desviar de buracos e carros, arriscando nossa segurança ao nos movermos para a faixa principal de carros.
Apesar de tudo isso, pedalar em Dublin ainda é uma opção que vale a pena. É barato; uma bicicleta usada em boas condições pode custar em torno de 100 euros e a manutenção não é alta, se você tiver a sorte de não ter o pneu furado com frequência. É descomplicado; você não precisa saber os horários do ônibus e correr ou ter que esperar – com a bicicleta há uma consistência, já que você sabe exatamente quanto tempo leva entre A e B (acrescendo uns minutos a mais para quando estiver ventando demais). É saudável; além de estar se locomovendo, você está se exercitando, respirando um ar livre, vendo a cidade.
Fora isso, o governo irlandês encoraja os cidadãos a pedalarem através do Cycle to Work Scheme, um esquema que permite que o empregador pague por bicicletas e equipamentos para empregados de uma só vez e o empregado paga o valor de volta sem impostos em até 12 meses, tendo o valor descontado do salário (semanalmente, mensalmente, a combinar).
Em suma, andar de bicicleta na capital irlandesa pode ser uma experiência deliciosa, desde que você tenha o equipamento correto e principalmente, roupas à prova d’água!
Mais informações sobre pedalar em Dublin:
6 Comments
Moro na Bélgica e me identifiquei completamente!
Como é o universo das bicicletas aí? Acredito que o clima na Bélgica seja parecido com o da Irlanda, não? Obrigada pelo comentário!
Olá Bárbara! Pretendo fazer intercâmbio e ainda estou na fase de planejamento. Eu pesquisei que na Irlanda há a possibilidade de trabalhar legalmente durante o curso (e há pacotes específicos para essa finalidade). Você sabe como isso funciona? Há um suporte da agência ou da escola quanto ao trabalho? Ou o estudante fará tudo isso literalmente sozinho? Eu sei que a situação econômica na Irlanda não é boa, como muita gente imagina, e a questão de emprego é difícil (e mais ainda quando é estrangeiro), por isso esse questionamento. Sobre este post, achei muito interessante. Muito obrigado. Aguardo mais posts seus sobre o país!
Oi, Elias! Obrigada pelo comentário!
Então, é isso mesmo: durante o visto de estudante (8 meses para curso de inglês e 12 para cursos de graduação ou pós), o estudante poderá trabalhar também. Por todo o período você pode trabalhar 20h semanais, e durante o verão (maio-agosto) e fim de ano (dez e jan), 40h semanais, mas em tese, você só pode trabalhar em período integral após ter terminado o curso.
Me parece que algumas escolas ajudam o estudante nos primeiros passos aqui na Irlanda, mas de maneira geral, é você mesmo que tem que abrir conta em banco, tirar documentos, procurar acomodação e emprego. Não tenho nenhum amigo desempregado no momento – muitos trabalham como cleaner, babá, recepcionista em loja, etc, ou seja, acredito que emprego exista, mas é preciso ter referências e claro, boa comunicação em inglês. Até mesmo pra empregos de faxina pedem um bom nível de inglês!
No meu blog pessoal (barbaridades.com) há vários posts sobre esses assuntos, caso você tenha interesse. Obrigada mais uma vez!
Oi Bárbara td bem?!
Então…estou indo para Dublin em março de 2018 para um pequeno período de estudos. Serão aproximadamente 10 semana na Irlanda. Estou avaliando comprar uma bicicleta desmontável para o meu dia a dia pois estudarei e residirei em Dublin 6 e para os meus passeios pela ilha nos fins semana, qdo chegar nas estações de trem, para conhecer as cidades menores. Gostaria da opinião de quem conhece um pouco mais do assunto. Seria possível levar uma bicicleta desmontada dentro do trem? Vale a pena, para conhecer as cidades menores?
Beijão
Olá Samara!
A Bárbara Hernandes parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Irlanda.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM