A Irlanda nunca foi um país muito procurado como destino imigratório no Brasil. Devido à distância entre os dois países e restritas relações econômicas e históricas, é curioso pensar porque tem tanto brasileiro na Irlanda.
O Tigre Celta e Gort
De fato, o primeiro consulado brasileiro no país foi aberto em 1930, mas somente durante o Tigre Celta, nos anos 90, quando a Irlanda gozava de rápido crescimento econômico, é que o número de brasileiros no país aumentou. Tudo começou numa cidadezinha do interior no oeste irlandês chamada Gort.
Aproximadamente 70 brasileiros chegaram em Gort entre 1999 e 2000 para trabalhar em fábricas de processamento de carne que estavam prestes a fechar. Os donos de fábricas procuraram brasileiros justamente porque o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e também por conta da ausência de mão de obra local.
Aos poucos o número de brasileiros na cidade foi aumentando e em poucos anos, a proporção já era de 1 brasileiro para 2 irlandeses na cidade. Festas como Carnaval e Festa Junina eram celebradas na comunidade, lojas que vendiam produtos brasileiros empregavam várias pessoas e vários brasileiros faziam seu pé-de-meia para voltar ao Brasil em melhores condições financeiras.
Até a crise que assolou o país em 2008, muitos desses brasileiros acabaram voltando ao seu país de origem e aos poucos, a população brasileira de Gort (também chamada de Little Brazil) foi diminuindo: no censo de 2011, por exemplo, registrou-se cerca de 417 brasileiros na cidade, quando no ápice da imigração brasileira lá, esse número era quatro vezes maior.
Os intercambistas
Ainda nos anos 2000, a população intercambista na Irlanda começou a crescer bastante. A Irlanda era um dos únicos países de língua inglesa que oferecia a possibilidade de trabalho para estudantes, sendo possível estudar por 6 meses e trabalhar em período integral nos outros 6. Além disso, a pouca burocracia para se obter um visto no país atraiu muita gente que tinha o sonho de fazer um intercâmbio. Resultado: mesmo com a crise no fim dos anos 2000, milhares de brasileiros chegavam pra estudar inglês na terra dos leprechauns.
Eu me lembro, na época em que pesquisava sobre a Irlanda pra vir fazer um intercâmbio, que diversos blogs de brasileiros que moravam aqui mencionavam como era fácil e tranquilo estudar e trabalhar no país. Antes da crise, a Irlanda passou por uma fase econômica muito boa, que refletia em empregos sobrando, bons salários, etc. Além disso, muitos intercambistas acabavam comprando sua frequência nas aulas de inglês pra poder passar mais tempo trabalhando e juntando dinheiro. Essas “vantagens” foram se espalhando pelo boca-a-boca e mais e mais gente desembarcava aqui pra estudar inglês.
Nos últimos anos as regras da imigração mudaram bastante para estudantes internacionais, mas mesmo com o valor do visto tendo dobrado (de 150 para 300 euros) e até mesmo o valor a ser comprovado na imigração (de 1000 para 3 mil euros), milhares de estudantes continuavam chegando. Afinal de contas, apesar da Irlanda não estar “bem das pernas” após a crise do fim dos anos 2000, ainda era possível trabalhar, pagar as contas e viver uma vida de estudante por aqui.
De acordo com o Censo de 2011, a população irlandesa é dividida em: irlandeses (86,9%), britânicos (2,5%), outros países da Europa (6,1%), asiáticos (1,5%), africanos (0,9%), norte-americanos (USA: 0,2%) e outros países (0,5%). Dentre as nacionalidades mais presentes no país, podemos destacar a Polônia (com mais de 122 mil), Reino Unido (com 112 mil), Lituânia (com 32 mil) e Brasil (com quase 9 mil).
Ou seja, da população total da Irlanda na época – 4.500.000 (4 milhões e meio), 0,2% eram brasileiros. Um número ínfimo!
O Ciências sem Fronteiras na Irlanda
No entanto, em 2013, a Irish Naturalisation and Immigration Service (INIS) relatou que 10% dos não-europeus vivendo na Irlanda são brasileiros e que 11.461 de brasileiros estavam registrados na imigração.
Aliás, o que fez aumentar bastante o número de brasileiros na Irlanda nos últimos anos foi sem dúvida o programa Ciências sem Fronteiras. Apesar de ter sido criado em 2011, somente em 2013 a Irlanda passou a fazer parte da lista de países onde graduandos brasileiros poderiam estudar temporariamente. No primeiro ano, 537 brasileiros se candidataram para estudar em universidades irlandesas, mas no fim mais 646 alunos tiveram que ser aceitos já que Portugal não deu conta da alta demanda e os alunos foram mandados pra cá.
São 26 instituições irlandesas que fazem parte do programa, com a University of Limerick, Waterford Institute e NUI Galway sendo as mais populares com cursos de ciências, engenharia, tecnologia, etc. Em 2014, segundo ano do programa na Ilha Esmeralda, foram 973 alunos se candidatando para estudar aqui e em 2015, 1.084.
Para a diretora de relações internacionais da Capes, instituição que gerencia o Ciências sem Fronteiras, o que torna a Irlanda popular entre os brasileiros é sua localização na Europa e as aulas em inglês. Além disso, há uma forte ligação entre as universidades com empresas multinacionais de tecnologia por aqui, o que se traduz em oportunidades de estágios e empregos para esses estudantes.
Esse acordo entre Brasil e Irlanda foi assinado em 2012 e previa que 4 mil estudantes brasileiros viriam pra Irlanda nos 4 anos seguintes, ou seja: 2016 seria o último ano do programa, mas a presidenta Dilma Rousseff havia estendido o Ciências sem Fronteiras até 2018. Para a Higher Education Authority, que ajuda a coordenar a participação da Irlanda no programa, se o CsF deixasse de existir, haveria uma queda brusca no número de alunos brasileiros em universidades irlandesas. Graças ao programa, a Irlanda está em melhor posição para negociar parcerias e promover oportunidade de pesquisa e carreira acadêmica no país.
De modo geral, o que acontece é o seguinte: a grande maioria de brasileiros na Irlanda é composta por estudantes que estão aqui tanto pra estudar inglês como fazendo faculdade ou pós-graduação. Claro que também há aqueles que vieram com uma proposta de trabalho e obtiveram o visto através do emprego (principalmente área de T.I.) e acompanhantes. Mas a verdade é que muitos brasileiros que vem morar aqui acabam gostando do país e se envolvendo com locais e por conta disso, acabam ficando e conseguindo vistos mais permanentes (seja através de trabalho ou relacionamento). A Irlanda tem um jeito certeiro de nos cativar!
No primeiro semestre de 2016 a Irlanda promoveu um novo Censo que mostrará com mais precisão o número exato de imigrantes vivendo no país. No entanto, os resultados completos só sairão em abril de 2017. Aí sim saberemos se o número de brasileiros no país é o mesmo, maior ou menor do que os do Censo de 2011.
Mais informações:
Número de brasileiros na Irlanda
10 Comments
Muito bom o texto!
Muito obrigada, Priscilla!
Muito bom o texto mesmo, também quero ir mora e trabalha na Irlanda até começo do ano q vem ja quero ir pra Dublin.
Olá, Barbara
Eu, minha mulher e minha filha (19 anos) pretendemos estudar inglês em Dublin durante 3 meses. Estamos planejando para os meses de abril, maio e junho de 2018.
Gostaria de tirar algumas dúvidas com quem efetivamente está vivendo em Dublin. Você poderia me ajudar?
Marcelo
Ola, Estou preparando um TCC sobre intercâmbio em Dublin, e estava procurando sobre a quantidade de Brasileiros na irlanda, no censo de 2016 não mostra o Brasil. Você sabe como posso achar está informação?
Marcelo Neiva de Amorim… Eu moro na Irlanda ha 12 anos. Me tornei cidadao irlandes porem nao sei se serei util c suas duvidas ja que eu nao estudos ingles aqui. Entretanto eu achei muito legal essa sua iniciativa de querer sair do Brasil e trazer sua familia com vc. Te desejo toda sorte do mundo. Abcs
Olá, havia enviado essa pergunta em outro texto mas nao consegui resposta, se alguém souber e puder me ajudar.
Tenho uma dúvida, moro em Dublin há 2 anos e 5 meses como estudante de ingles e namoro um italiano há 1 e 3 meses. Estamos programando passar um tempo no Brasil e fazer o contrato de uniao estável lá e apresentar aqui para que consiga o visto de permanencia aqui em Dublin. Voce saberia me dizer se isso é possível? Nós nao moramos juntos ainda, voce acha que a imigracao daqui aceitaria o contrato de uniao esável do Brasil?
Desculpe a falta de acentos, estou usando um teclado em ingles.
Obrigada.
Olá Janaina,
A Bárbara Hernandes parou de colaborar conosco, mas temos duas colunistas na Irlanda: Annaline Stepien e Viviane Miranda.
Faça uma busca na área autoras no blog e entre em contato com elas.
Obrigada,
Edição BPM
Oi Bárbara… boa tarde.
Vc tem algum contato de brasileiros que trabalhem aí em Glasgow com turismo? Quero visitar esse lindo país ( e fazer uma extensão à Irlanda), mas tenho problemas com o Idioma.
Aguardo vc!
Bjo
Olá Rose,
A Bárbara Hernandes parou de colaborar conosco, mas temos duas colunistas na Irlanda: Annaline Stepien e Viviane Miranda que talvez possam te ajudar.
Faça uma busca na área autoras no blog e entre em contato com elas.
Obrigada,
Edição BPM