Por que escolhi a Suécia para educar minha filha.
Quem leu meus primeiros textos (Estou grávida e agora? – Parte 1 e Estou grávida e agora? – Parte 2) aqui no BPM se lembra das minhas dúvidas quanto a ter minha filha em terras escandinavas. Eu queria ser mãe no Brasil. A dúvida pairou na minha cabeça até os 7 meses de gravidez. Decidi ficar. Hoje minha pequena tem 4 anos e vejo os frutos positivos da minha decisão. Pra mim, como mãe – e mãe de primeira viagem – digo que a Suécia me ensinou muito sobre maternidade, mas o aprendizado mais importante foi o reaprendizado do que significa a palavra educar.
Ao meu ver, existem algumas palavras que são fundamentais na educação sueca. São elas: igualdade, diálogo, integridade, respeito e liberdade. Querem ver como elas se aplicam no dia a dia das famílías suecas?
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Igualdade
Desde o nascimento a criança sueca já está inserida no contexto da igualdade, especialmente no que se diz respeito à igualdade de gêneros. Meninos são educados para que não vejam meninas como o sexo frágil, e meninas são educadas para que sejam ousadas e tomem posições de chefia na sociedade. A educação baseada na igualdade se estende às escolas e creches ao redor do país, onde as crianças – independente do gênero – têm aulas obrigatórias de costura, culinária, mecânica e afazeres domésticos. Resultado: com 13-15 anos as meninas já sabem como trocar um fusível queimado, e meninos sabem costurar uma meia rasgada. A criança sueca cresce vendo o pai cozinhar e lavar roupa, e a mãe a trocar o pneu do carro que furou.
A educação baseada na igualdade também pode ser vista na questão de classes sociais. Crianças aprendem a conviver umas com as outras sem pensar em status econômico, cor de pele, religião ou nacionalidade. O filho do médico brinca com o filho do lixeiro, pois ambos frequentam a mesma escola/creche. No mais, a igualdade também reflete no lugar que a criança tem na sociedade, ou seja, a criança nunca é diminuída perante um adulto. Em outras palavras, a criança sueca tem o mesmo direito que o adulto tem de expressar sua opinião. Nas famílias suecas, raramente as decisões do dia a dia são tomadas sem levar em conta a opinião das crianças.
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Outro aspecto importante é a aceitação das crianças perante a sociedade. Em quase todos os restaurantes e estabelecimentos comerciais existem espaços reservados a elas, sem falar no cardápio infantil e banheiros públicos adaptados a crianças, que, por lei, devem existir. As cidades suecas são repletas de parques infantis, e eles estão sempre lotados de segunda a domingo, durante todas as estações do ano. As famílias suecas prezam mais o lazer infantil à organização da casa, por exemplo.
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Diálogo:
Nas famílias suecas, educar significa dialogar, principalmente quando há conflito envolvido. Por exemplo: sabe aquela cena de supermercado que todos nós temos medo de vivenciar, quando a criança começa a dar sinais de que não vai deixar o local sem seu pacote de balas preferidas? Então, não espere que uma mãe sueca vá gritar com a criança ou ameaçar castigo ou umas belas palmadas quando chegar em casa. Ela vai, através do diálogo, tentar mudar o foco de atenção da criança. Não funcionou? Então a mãe vai sair do supermercado com a criança, em silêncio, e quando ela tiver se acalmado, vai explicar o porquê dela não poder trazer os doces do supermercado. Aliás, no jeito sueco de educar, a criança não faz birra, e nunca é chamada de malcriada. O que chamamos de birra no Brasil, eles aqui chamam de testar limites. Os pais suecos nunca xingam seus filhos ou se dirigem a eles de forma crítica ou pejorativa. Nos meus 15 anos de Suécia nunca ouvi a seguinte frase vindo de um sueco: ”o meu filho é malcriado”, ou ”minha filha só dá trabalho”. Os adjetivos dados às crianças são sempre positivos. Deve ser por isso, e por tantos outros fatores, que as crianças suecas não gritam com as pessoas e não mostram autoridade sobre seus coleguinhas.
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Integridade:
Desde muito cedo as crianças suecas aprendem que integridade é muito importante, e no conceito de integridade está incluída a integridade física. Violência infantil é proibida por lei. Aliás, educação e violência física e psicológica não combinam na Suécia.
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Respeito:
A questão da integridade leva a um aspecto importante: o respeito. A criança sueca aprende, desde cedo, a respeitar o direito do próximo, a respeitar as regras da sociedade e a respeitar os animais e o meio ambiente. O respeito pela natureza é introduzido na educação quando a criança começa a dar seus primeiros passos. Outro ponto importante no que se diz respeito ao meio ambiente é o que os suecos chamam de “cultura do desapego”. A criança aprende a reciclar seus brinquedos e a reutilizar roupas e móveis antigos, atitude fantástica do ponto de vista econômico e da sustentabilidade.
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Liberdade:
A criança sueca aprende desde cedo que o céu é o limite. Os pais suecos dão a seus filhos muita liberdade de testar seus próprios limites, e essa liberdade vem muitas vezes sem cobranças, já que para o sueco a relação pai-filho deve ser baseada no apego emocional e não na hierarquia. Você nunca vai ouvir de um pai/mãe sueco(a) a seguinte frase: “você vai fazer assim porque sou sua mãe e sou eu quem mando”.
Quando olho para a minha filha e vejo que consigo educá-la de uma forma igualitária e sem preconceitos, agradeço à Suécia por ter me reensinado a educar. Aliás, “obrigado” é a primeira palavra que se ensina ao bebê, depois de mamãe e papai, é claro.