Síndrome do Regresso
Dificuldades de adaptação podem ocorrer não somente quando se emigra mas também no retorno ao seu país de origem. Sabemos que a vivência de uma pessoa em um país diferente do seu, pode levar a um choque cultural, ou seja, a um estado de isolamento social, ansiedade e depressão que acontece pela dificuldade da pessoa em se adaptar a uma cultura distinta da sua. O que poucos imaginam é que no retorno ao Brasil, ao seu país de origem, as pessoas também podem passar por grandes dificuldades de readaptação. É o que o neuropsiquiatra, Décio Nakagawa, chamou de “Síndrome do Regresso”, termo bem conhecido na atualidade.
“A adaptação em outro país acontece em seis meses, já a readaptação ao país de origem demora dois anos“, diz a Psicóloga, Kyoko Nakagawa, viúva do psiquiatra e coordenadora do projeto Kaeru, de reintegração de crianças que voltam do Japão.
É importante ressaltar que nem todos os indivíduos que regressam à terra natal apresentam dificuldades de adaptação. Depende de muitos fatores como idade, motivos do retorno, situação financeira, apoio familiar e social, entre outros. Mas, vocês devem estar se perguntando. Como isto ocorre?
Quando moramos em outro país por muitos anos, deixamos para trás alguns comportamentos relacionados a nossa cultura de origem e adquirimos novos comportamentos, novos costumes e um novo estilo de vida. Além disto, modificamos o nosso olhar sobre a nossa própria cultura. Posso até dar meu próprio exemplo: “Antes de eu sair do Brasil, eu não era uma pessoa pontual e me enrolava bastante diante compromissos, algo bastante característico da cultura brasileira. Eu não percebia o quanto isto afetava a minha própria vida e a vida do outro até sair do Brasil. Hoje, vejo este comportamento como desrespeito ao outro e não mais como algo normal como via antes. A percepção muda.”
Quando retornamos pode surgir uma sensação de como se estivéssemos regredindo no tempo, mas na verdade é apenas ilusão. O que acontece é que você passa a ter uma percepção de que as coisas continuam do mesmo jeito que você deixou. Mas, na verdade as coisas mudaram sim, as pessoas com quem convivia não são mais as mesmas, apenas não mudaram como você gostaria ou esperava. E do outro lado, pode também acontecer que amigos e familiares passem a estranhar comportamentos seus de início. Neste sentido, a adaptação vem de ambos os lados. Algo positivo a se fazer neste sentido é frequentar lugares diferentes, conhecer pessoas novas, visitar lugares do Brasil onde nunca foi, entre outros. Nesta volta, se imagine conhecendo o Brasil novamente de uma forma positiva e diferente. Agregue coisas que aprendeu pelo mundo a sua nova rotina e inspire amigos a fazer parte dela. A hora é de modificar seu olhar novamente.
Que sentimentos podem acompanhar você no retorno ao Brasil ou ao seu país de origem? Tristeza, sentimento de inadequação nos ambientes sociais; dificuldade de se relacionar com pessoas que não possuem uma vivência internacional; revolta diante da organização do país e serviços que funcionavam muito bem no país onde vivia; sentimento de estar no lugar errado; muitos se perguntam: “O que estou fazendo aqui?” “Cada vez que retorno ao Brasil fico com vontade de sumir daqui de novo”. ”Se estou lá, sinto falta do Brasil. E se estou aqui, sinto falta da (Espanha, Alemanha, Reino Unido, etc).”
Segundo a Casa do Brasil de Lisboa, “o retorno ao Brasil tem se mostrado, contudo, um desafio para grande parte dos emigrantes. Após buscar a reinserção econômica no Brasil, sem êxito, durante alguns meses ou anos, muitos são levados a re-emigrar, novamente em condições de vulnerabilidade – ou seja, sem visto de trabalho, e muitas vezes assumindo dívidas para reembolso dos gastos de viagem.”
Como podemos perceber neste relato, a questão financeira pesa bastante. Pensando nisto, o Ministério das Relações Exteriores lançou o “Portal do Retorno”, que tem por objetivo apoiar brasileiros que retornam ao país, especialmente aqueles em situação de maior vulnerabilidade. O portal Retorno do Itamaraty oferece informações sobre o mercado de trabalho, empreendedorismo, educação financeira, capacitação profissional, além de informação sobre serviços e programas de assistência na área de saúde física e psicológica. Neste sentido, buscar ajuda é fundamental pois nem sempre voltar ao exterior por dificuldades de adaptação no retorno pode ser uma solução.
Procurando por psicólogas brasileiras pelo mundo?
O que podemos fazer neste sentido?
- Foque nos aspectos positivos e sempre lembre-se que todos os países têm seus aspectos positivos e negativos. Portanto, é preciso colocar na balança o que faz sentido para você nesta jornada.
- Entenda que a adaptação é processual e leva um tempo. Portanto, respeite o tempo das coisas. Procure entender melhor sobre seus sentimentos e pensamentos e de que forma usá-los a seu favor;
- Conheça lugares no Brasil que nunca visitou antes;
- Agregue o conhecimento e experiência que adquiriu no exterior à sua rotina pessoal e de trabalho no Brasil;
- Compreenda e aceite seus amigos como são, pois o que importa no final é se eles são amigos de verdade;
- Faça valer a sua experiência internacional e utilize isto a seu favor. Você pode fazer uma grande diferença!
3 Comments
Tenho intenção de voltar para o Brasil em agosto, após 25 anos virando o mundo… Tenho pensado bastante em todas essas dificuldades provocadas pelo retorno e também levando em consideração a experiência de amigos que viveram ou vivem essa experiência da volta ao país.
Enfermeira formada na Europa, não pretendo passar a equivalência do diploma pra exercer no Brasil, mas desejo trabalhar com o ensino do Francês. Como diz a colunista, ficar em coisas novas e positivas. Também vou morar em São Paulo, qui EaD bem diferente de minha região de origem : Amazônia (Pará) .
Obrigada por esse texto muito construtivo.
Cordialmente
Ely
Comigo já foi diferente! Percebi que eu era pontual, e os demais não! Acabou sendo o contrário!
Acho que muitas coisas dependem do pais para onde nos mudamos.
Para mim o Brasil ainda é um país muito organizado.
Olá Marina! Muitos dos aspectos que você citou estou vivenciando atualmente. Principalmente a questão de reencontrar-se no mercado de trabalho. Voltamos para o Brasil após uma demissão, com um filho de 3 anos e grávida de 8 meses da outra filha. Com a crise no país, empreender está sendo uma tarefa herculana e isso afeta nossa auto estima e ânimo de estar “em casa” novamente. Não é fácil, mas vamos tentando… Um abraço e parabéns pelo texto!